"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

14 novembro 2010

Carl Jung e o Espiritismo


Carl Jung , psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, foi um indivíduo fantástico, que se interessou pelos aspectos emocionais das doenças mentais numa época em que muito pouco se conhecia a respeito.

Os doentes mentais eram mais estudados por neurologistas do que psiquiatras e eram praticamente excluídos da Medicina. Jung foi um dos que começaram a dar atenção maior ao estudo de fenômenos que aconteciam com pacientes mentais.

Parceiro de Sigmund Freud no estudo do inconsciente, Jung seguiu caminhos diferentes do colega, o que os levou a romperem em 1912. 


Freud colocava a energia psíquica como sendo de teor absolutamente sexual. Para ele, todas as alterações que aconteciam na doença mental tinham representatividade libidinosa.

Jung entendia que a energia sexual era extremamente importante, mas que outras formas de energias permeavam as doenças mentais.

Percorreu um caminho diferente de Freud. Foi criado por uma mãe espírita e era médium. Escreveu um livro, Memórias, Sonhos e Reflexões, em que encontramos toda fenomenologia mediúnica vivenciada por ele: clariaudiência, clarividência, fenômenos de incorporação, experiências de quase-morte.

Sua tese de doutorado foi feita às custas de estudos realizados durante oito anos com uma sobrinha médium, que freqüentava sessões mediúnicas. Infelizmente, ele fez o estudo única e exclusivamente do ponto de vista psicológico e nunca se colocou frontalmente a favor do espírito ou Espiritismo.

Toda a fenomenologia é encontrada em cartas escritas a amigos. Ele diz, claramente, que o espírito poderia explicar muito melhor situações que o inconsciente não explica. Mas em suas obras formais você não vê essa postura.


Nas “Obras Completas” de Jung encontramos referências à espiritualidade com muita freqüência. Em cartas escritas a amigos e colaboradores igualmente Jung muitas vezes coloca sua posição com relação à espiritualidade e aos espíritos.

Jung sempre fez questão de descrever o que encontrava em suas vivências e em suas experiências. Ele freqüentou reuniões mediúnicas durante muitos anos e por diversos motivos. Encontramos, sim, referências a situações espirituais e mediúnicas em sua obra. Em Memórias, Sonhos e Reflexões verificamos detalhadamente situações espirituais e mediúnicas vividas por ele mesmo. No entanto, a Psicologia Analítica como um todo não contempla o espírito.

Há uma carta que ele escreve a um psicanalista alemão na qual afirma que esteve discutindo um caso com outro psicanalista em que crê que somente o inconsciente não explicaria o caso. Afirma concordar que precisaria colocar a presença do espírito naquele caso. Mas essa carta não foi publicada. 


Falar de Espiritismo naquela época era difícil até para Kardec. Havia o risco de se passar por louco, ridículo. Ele até fez isso mais adiante, nos seus 70 anos, em muitas conversas e cartas, quando ditou sua biografia. Jung fala dos aspectos espirituais e sobre quanto isso foi importante na Psicologia Analítica.

Memórias, Sonhos e Reflexões, a vida dele, foi escrito quando tinha 80 anos. Ele morreu dois anos depois. No final de sua vida, Jung teve coragem de colocar a espiritualidade como uma coisa importante no desenvolvimento da Psicologia.

Revelou todas as experiências mediúnicas que teve. Saía no jardim da casa em que morava e conversava com uma entidade com freqüência. Esse fato originou a obra Sete Sermões aos Mortos, que é um livro mediúnico. As evidências do mundo espiritual na vida de Jung são fantásticas.


Os espíritas entendem que os complexos são formados na presente encarnação, no entanto existe a possibilidade de armazenarmos complexos de existências passadas. Em obsessão vemos muito isso. Às vezes são complexos de culpa desenvolvidos em existências passadas e é por isso que o obsessor tem acesso ao nosso consciente. Por que esse complexo realmente existe. Não basta ir apenas a uma sessão espírita para afastar o obsessor. É preciso entrar em contato com o inconsciente, buscar a origem dos complexos e, aí sim, resolver.

A busca de um profissional sempre vai ajudar na elucidação e compreensão dos diversos complexos. Se o profissional trabalha junto da religiosidade ou da espiritualidade, tanto melhor.


O inconsciente coletivo é um reservatório de imagens latentes, em geral denominadas de “imagens primordiais”. O homem herda tais imagens do passado ancestral, passado que inclui todos os antecessores humanos, bem como os antecessores pré-humanos ou animais.

Essas imagens étnicas não são herdadas no sentido de uma pessoa lembrar-se delas conscientemente, ou de ter visões como as dos antepassados. São predisposições ou potencialidades no experimentar e no responder ao mundo tal como os antepassados.

Consideremos, por exemplo, o medo que temos das serpentes ou do escuro. Não nos foi preciso aprender esses medos através de experiências com serpentes ou com a escuridão. Herdamos as predisposições de temer as serpentes e a escuridão porque nossos ancestrais experimentaram tais medos ao longo de um sem-número de gerações. Esses medos nos ficaram gravados no cérebro. Será que nós, os espíritas, não podemos ver no inconsciente coletivo o aspecto reencarnatório?

(Fonte: Dr. Marco Antônio Palmieri, AME-SP – entrevista à Folha Espírita, janeiro 2008)

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