"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

01 maio 2011

Um historiador e ex-ateu, agora espírita


Será possível um ateu mudar radicalmente de pensamento?

Pode até ser inacreditável, mas acontece.

Foi o caso do historiador Armando Souto Maior, conhecido nacionalmente. Ele não só mudou de ponto de vista, quando se tornou espírita, como de comportamento.

Ele assume que, antes de sua aceitação da teoria espírita, era pouco complacente, algo vaidoso, auto-suficiente e tinha muita dificuldade em perdoar.

Relembra: “Fazia da ironia uma regra de conduta e do orgulho intelectual um escudo. Depois, é claro, minha personalidade sofreu grandes transformações. Naturalmente ainda tenho seqüelas do passado, mas quem não as tem? Percebi, contudo que havia dado um grande passo no meu processo evolutivo”.

- Mas o que levou um historiador ateu transformar-se num espírita?

O historiador é um homem que, de certa forma, carrega sobre seus ombros as dores do mundo. Vê mais e, consequentemente, sofre mais do que qualquer outro profissional que questione e se espante continuamente com o ser humano. Se não tiver acesso ao Espiritismo, a atração que sentirá pelo agnosticismo ou pelo materialismo militante é então muito forte.

Além disso tem vários mecanismos de fuga sempre à sua disposição, pois pode mergulhar em um tempo que não é o seu, com facilidades e técnicas especiais. Entre seu eventual alheamento, suas fugas, seus eventuais sofrimentos pessoais e desencontros com a filosofia, surgem-lhe as sedutoras propostas do ateísmo que, teoricamente, são obviamente um tanto dolorosas e ao mesmo tempo libertadoras de suas inquirições mais profundas, anestesiando-lhe seu choque diante do mundo. Não fugi à regra e percorri esta etapa.

- O que significa Deus, hoje, para o senhor?

- Deus é minha explicação existencial. Como Ele é a inteligência transcendente universal, sinto-me parte, embora infinitamente pequena, de sua eterna existência.
O caminho da conversão:

O primeiro contato de professor Armando com o Espiritismo aconteceu quando certa vez, nos Estados Unidos, ele foi assistir a uma conferência de Carlos Campetti sobre o Livro dos Espíritos, atendendo ao convite de uma amiga, Fernanda Wienskoski.

Conta que após a conferência, Campetti colocou-se à disposição do público para responder a perguntas sobre o assunto tratado. “Tentei encostá-lo no canto da parede. Ele respondeu com elegância e lógica. É claro que não me convenceu naquela noite, mas me induziu a uma posterior leitura de Kardec, onde aos poucos obtive respostas convincentes ao problema do ser, do destino e sua origem. O aspecto científico do Espiritismo deu-me o apoio de que eu necessitava para aceitá-lo como um fato transcendente na minha vida”.

Segundo o historiador, chega-se ao Espiritismo através de três caminhos: pelo amor, pela dor ou pela necessidade intelectual de se obter uma explicação racional para transcendentes perguntas:

- Quem somos,
- Por que somos,
- De onde viemos
- Para onde vamos.

Observa que a filosofia tentou oferecer respostas a essas perguntas e o resultado foi uma verbalização erudita não explicativa.

“Aqui e ali houve clarões que se anteciparam à teoria espírita. Sócrates e Platão, acessíveis somente a pessoas de certo nível intelectual são exemplos clássicos desses clarões, porém a concepção sistêmica de um todo que respondesse logicamente àquelas perguntas a qualquer pessoa só se tornou possível nos meados do século XIX”.

O historiador Armando Souto Maior nos revela que até o homem pré-histórico percebia, embora não pudesse explicar como e por que, a existência de uma outra realidade além do ambiente físico, material e concreto que o cercava. O homem pré-histórico intuía o sobrenatural.

E justifica sua tese:

“Ao colocar junto aos mortos alguns objetos, adornos e armas demonstra sua concepção empírica da existência de uma outra vida. Os egípcios, os gregos, os romanos e os judeus intuíram a idéia da realidade transcendente. Na Índia, essa idéia é absorvida pela teoria búdica, mas todos esses mecanismos teóricos careciam de base científica e foi somente no século XIX, quando a ciência passou a nortear os grandes questionamentos humanos, que a revelação feita a Kardec tornou-se viável. Cristo já havia dito, em sua época, que muitas outras coisas poderiam ser explicadas mas os homens de então não poderiam compreendê-las”.

A resistência histórica:

De acordo com o que acompanhou o historiador, a revelação da verdade espírita enfrentou – e ainda enfrenta – barreiras poderosas tais como cleros organizados de diversas crenças, com fortes motivações econômicas, antigas tradições religiosas e pautas culturais sedimentadas há séculos e completamente alheias ao conhecimento científico.

Criaram-se, portanto, ‘establisments’ religiosos que, somente com o tempo serão paulatinamente modificados. Observou também que a fé e a ciência percorreram, ao longo da história, caminhos separados, muitas vezes antagônicos. “É com o advento do Espiritismo que esse secular desencontro está sendo atenuado, com tendência natural ao desaparecimento.

William Crookes é um conhecido exemplo no século cientificista, e o superficial conhecimento que tinha do espiritismo levava-me sempre ao falacioso raciocínio de que a teoria espírita era demasiadamente bem organizada para corresponder à realidade.

O homem, para mim, sempre se havia revelado um espanto de maldade, e nada indicava que tivesse sido criado por uma entidade superior, personificação de bondade e justiça. As religiões onde ela se inseria, numas mais noutras menos, eram simples portões para uma fé irracional, sem nenhum compromisso com a lógica”.

Por fim, atesta que o Espiritismo, historicamente, contrariou interesses econômicos poderosos e suas implicações políticas. E analisa: “A Igreja Católica e as diversas igrejas protestantes, refugiadas na sacralização da Bíblia, supostamente ‘a palavra divina’, viram-se, com o Espiritismo, ameaçadas em suas posições como intermediárias entre Deus e os homens. Todos os absurdos dos teólogos medievais foram incorporados pela teologia protestante.

O empirismo religioso judaico, embasado por uma tradição sacralizadora, teve também guarida no pensamento da Reforma, isso em relação ao Antigo Testamento. Em relação aos Evangelhos é visível uma grande miopia intelectual, mas em todo esse processo anti-espírita, a força econômica foi de extrema importância, alimentada pela antiga e lucrativa prática do dízimo e uso do poder social decorrente da acumulação de capital. Muito tempo ainda decorrerá antes que o Espiritismo se transforme, como já foi previsto, no grande futuro de todas as religiões. Mas isso inexoravelmente acontecerá”.

(Revista Tribuna Espírita)



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