"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

31 outubro 2011

Morra vazio!


"O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo."
(Honoré de Balzac)

 * * *

Charles foi reprovado em todas as matérias na oitava série.

No segundo grau, foi reprovado em física com a nota mais baixa da história da escola. Também foi reprovado em latim, álgebra e inglês. O desempenho nos esportes foi insuficiente.

Parecia que ninguém se importava com ele. Surpreendia-se quando alguém passava e dizia olá.

Ele, os professores e os colegas sabiam que era um fracassado, segundo todos os padrões convencionais. Resignou-se ao mais baixo nível de mediocridade, ou pior.

Porém, contrariando todas as expectativas, no fundo ele acreditava possuir uma centelha natural de genialidade ou talento: desenhar.

Orgulhava-se de seus esboços, mesmo sabendo que ninguém lhes dava importância.

No segundo ano do ensino médio, enviou uma série de histórias em quadrinhos para o livro anual da escola. Foram rejeitados.

Após o segundo grau, completou um curso por correspondência em arte - sua única formação na área. Depois enviou uma carta ao Walt Disney Studios, na esperança de trabalhar como cartunista. Solicitaram os desenhos, e ele trabalhou horas antes de enviá-los à empresa. A resposta recebida dos estúdios: uma carta padrão negativa.

Mas Charles sentia que possuía um talento peculiar e valioso, mesmo que só para si. 

Assim, reagiu à rejeição de Walt Disney, desenhando sua autobiografia em quadrinhos, um fracassado crônico, um garoto cuja pipa nunca subia, mas alguém que o mundo todo viria a conhecer: Charlie Brown.

Charles, mais conhecido como Charles Schultz e seus quadrinhos "Peanuts", lançados em 1948, tornaram-se um dos desenhos mais famosos da história, chegando hoje a aparecer em 2.600 jornais, em 21 idiomas.

Ao longo dos anos, Charles ganhou cerca de US$ 55 milhões. Cada um dos personagens dos "Peanuts" transformou-se em nomes familiares para cerca de 350 milhões de leitores distribuídos em 75 países.

Um vasto potencial humano é desprezado ou se perde porque não entendemos a verdade que Schultz percebeu: ele tinha um potencial único.

Mesmo quando ninguém parecia valorizar ou até mesmo admirar seu talento, Schultz adquiriu coragem para desenvolvê-lo com qualidade marcante. Contra todas as expectativas, defendeu esse ponto forte e, no final, emocionou o mundo.

Pergunto-me: o que você traz em seu íntimo neste exato momento?

Você tem idéias e sonhos, todos temos.

Escondida em seu coração, presa firme aos primeiros obstáculos, está a classe que você devia liderar ou a pré-escola que anseia iniciar. Trancado lá no íntimo está o livro que hesita em fazer, por temer que ele não seja lido.

Essa riqueza guardada em seu íntimo não pode ser herdada pelo cemitério. Você privará esta geração dos sonhos que você tem? Você destituirá esta geração e a próxima levando o tesouro que Deus lhe deu para o cemitério? 

Morra vazio!

Até morrer, em fevereiro do ano de 2000, Charles Schultz desenhou os mesmos quadrinhos "Peanuts" durante mais de 41 anos.

Ele não enriqueceu o cemitério privando as pessoas da alegria e prazer de ler suas tiras.

São muitos que morrem ricos, com sonhos agarrados firmemente ao seu coração silenciado. São muitos os que descem à sepultura com seu potencial preso lá no íntimo.

Se pudéssemos aproveitar o poder não usado de uma sepultura, poderíamos mudar o mundo!

Mas é claro que não podemos, porque aproveitamos somente o potencial dos vivos. Contanto que haja fôlego em nossos pulmões, o potencial não usado continua dentro de nós, esperando para ser liberado.

A razão por que ainda estamos vivos é que trazemos algo dentro de nós de que esta geração precisa.

Meu lema é "morrer vazio".

Não pretendo dar outra coisa ao cemitério que não seja a carcaça vazia de uma vida bem vivida.

Gostaria que meu epitáfio fosse: "Vazio!" Nada restou. Sem graça.

(Daniel C. Luz)








30 outubro 2011

Dica de livro: "O Andarilho das Estrelas" - Jack London


Inspirado pelo relato verídico de um ex-detento da penitenciária de San Quentin, nos Estados Unidos, Jack London escreveu este livro que é um dos seus mais intrigantes e envolventes romances.

No começo do século XX, saíram contrabandeados da penitenciária de San Quentin, nos Estados Unidos, manuscritos de um ex-detento que permaneceu na solitária por oito anos até ser enforcado.

Este seria um fato comum, não fosse o incrível conteúdo dos relatos, que foram produzidos de maneira inusitada - após o prisioneiro submeter-se à auto-hipnose e entrar em estado alterado de consciência, por meio do qual era capaz de vivenciar experiências de vidas passadas.

Darrell Standing, um professor de Agronomia que matou um colega de faculdade, aprendeu essa técnica dentro da prisão, em princípio para escapar das terríveis dores que lhe causavam a tortura da camisa-de-força, onde ele era obrigado a ficar até cem horas ininterruptas.

Depois, para recuperar mais detalhes das longínquas existências que lhe eram proporcionadas a cada novo "desdobramento astral".

Em suas memórias, ele deixou registrado um relato que nos chama atenção porque as provas dessa sua existência encontram-se expostas hoje no Museu da Filadélfia.

Embora fosse um cético, Jack London, mestre norte-americano da ficção, absorveu a rica experiência de Darrell Standing e se propôs a narrar um dos mais instigantes e envolventes romances de todos os tempos, O Andarilho das Estrelas, que retoma a visão de mundo de grandes sábios e filósofos que a humanidade produziu.


* * *


(Abaixo um trecho do livro)


"Já é hora de eu me apresentar. Não sou um louco nem um lunático. Quero que você saiba disso para que acredite nas coisas que vou contar.

Meu nome é Darrel Standing. Algum leitor talvez me identifique de imediato. Mas para a maioria que me desconhece, deixe me contar um pouco sobre mim mesmo.

Há oito anos eu era professor de agronomia na Escola de Agricultura da Universidade da Califórnia. Há oito anos a pacata cidadezinha universitária de Berkeley foi abalada pelo assassinato do Professor Haskell num dos laboratórios da Mineração. Darrel Standing foi o assassino.

Eu sou Darrel Standing. Fui apanhado em flagrante. Não vou discutir aqui os detalhes desse caso com o Professor Haskell. Não passou, em absoluto, de um assunto particular.

O fato é que, numa onda de raiva, obcecado pela fatídica fúria sangüinária que me amaldiçoa ao longo dos tempos, matei meu colega. Os registros do tribunal mostram que eu o matei; e eu concordo com os registros do tribunal.

Não, não serei enforcado por este assassinato; recebi como punição a sentença de prisão perpétua. Eu tinha trinta e seis anos na época, tenho, agora, quarenta e quatro.

Passei esses oito anos na Prisão Estadual da Califórnia, San Quentin. Cinco desses anos, eu os passei na escuridão, confinamento solitário, é como eles chamam. Os homens que o sofreram chamam-no de morte em vida.

Mas, nesses cinco anos de morte em vida, eu consegui alcançar uma liberdade que poucos homens já conheceram. Mesmo sendo o mais confinado dos prisioneiros, eu não apenas percorri o mundo, eu também percorri o tempo.

Os homens que me emparedaram por tantos anos me deram, contra sua vontade, a largueza dos séculos." 








A Reencarnação através dos Tempos


“Antes de nascer, a criança já viveu e a morte não é o fim. A vida é um evento que passa como o dia solar que renasce". 
Papiro Egípcio (3.000 a.C.)


“Da mesma forma que nos desfazemos de uma roupa usada para pegar uma nova, assim a alma se descarta de um corpo usado para se revestir de novos corpos." 
Bhagavad Gita (3.000 a.C.)


“Honra a ti, Osíris, Ó Governador dos que se encontram no paraíso, tu que fazes renascer os mortais, que renovas sua juventude....”
Livro Egípcio dos Mortos (2.000 a.C.)


“Ninguém pode ser salvo sem renascer e sem livrar-se das paixões que entraram no último nascimento espiritual.” 
Hermes Trismegisto (1.250 a.C.)


“Aquele que retorna para a Terra e faz o bem, segundo o seu conhecimento, suas palavras, ações e intenções, recebe um dia uma recompensa, que convenha aos seus méritos... 
Aqueles que durante o período de vida na Terra, vivem na dor e no desgosto, sofrem com isso por causa de suas palavras mesquinhas ou suas más ações num corpo anterior, pelo que é punido no presente.” 
Zoroastro (1.000 a.C.)


“A Alma nunca morre, mas recomeça uma nova vida, ela nada mais faz que mudar de domicílio, tomando uma outra forma.
Quanto a mim, que vos revelo estas misteriosas verdades, já fui Euforbes numa outra vida, no tempo da guerra de Tróia, lembro-me perfeitamente bem de meu nome e de meus pais, assim como do modo como fui morto em combate com o rei de Esparta.
Em Micenas, no templo de Juno, vi suspenso na parede o meu próprio escudo de um outro tempo. Mas, embora vivendo em vários corpos, a Alma é sempre a mesma, pois só a forma muda.” 
Pitágoras (572 - 492 a.C.)


“Os seres humanos que se apegam demasiado aos valores materiais são obrigados a reencarnar incessantemente, até compreenderem que ser é mais importante do que ter.” 
Buda (563 - 483 a.C.)

“Estou convencido que vivemos novamente e que os vivos emergem dos que morreram e que as almas dos que morreram estão vivas.” 
Sócrates - Filósofo Grego (469 - 399 a.C.)


“Ó tu, moço ou jovem que te julgas abandonado pelos deuses, saiba que, se te tornares pior, irás ter com as piores almas, ou, se melhor, irá se juntar as melhores almas, e em toda sucessão de vida e morte farás e sofrerás o que um igual pode merecidamente sofrer nas mãos de iguais. É esta a justiça dos céus.” 
Platão (427 - 347 a.C.)


“Outro forte indício de que os homens sabem a maioria das coisas antes do nascimento é que, quando crianças aprendem fatos com enorme rapidez, o que demonstra que não os estão aprendendo pela primeira vez, e sim os relembrando.” 
Cícero (106 - 43 a.C.)


“Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." 
Jesus (João 3:3)


“Morrer é mudar de corpo como os atores mudam de roupa.” Plotino (205 - 270 d.C.)


“Fui mineral, morri e me tornei planta, como planta morri e depois fui animal, como animal morri e depois fui homem, porque teria eu medo? Acaso fui rebaixado pela morte? Vi dois mil homens que eu fui; mas nenhum era tão bom quanto sou hoje. Morrerei ainda como homem, para elevar-me e estar entre os bem-aventurados anjos. Entretanto, mesmo esse estado de anjo terei de deixar.” 
Al Rumi - Poeta Islâmico (1.210 - 1.273 d.C.)


“Lê-me, leitor, se encontras prazer em ler-me, porque muito raramente eu voltarei a este mundo.” 
Leonardo da Vinci (1.452 - 1.519 d.C.)


“Se aceitamos a crença numa continuação da vida, a prática religiosa se torna uma necessidade que nada pode suplantar, para preparar sua encarnação futura...
Seja qual for o nome dessa religião, o fato de compreendê-la e praticá-la torna-se a base essencial de uma mente que está em paz, portanto, de um mundo em paz.
Se não há paz na mente, não pode haver paz alguma no modo como uma pessoa se relaciona com as outras, e, por conseguinte, não pode haver relações entre os indivíduos ou entre as nações.”
Dalai Lama (1.500 d.C.)


“Nascer duas vezes não é mais surpreendente que nascer uma vez: tudo na natureza é ressurreição.” 
Voltaire (1.694 - 1.778 d.C.)


“Aqui jaz o corpo de Benjamin Franklin, impressor, semelhante à capa de um velho livro de páginas arrancadas, abandonadas ao léu, com seu título e seus dourados apagados. 
A obra não se perderá, pois como ele acreditava, ela aparecerá uma vez mais em nova edição mais elegante, revisada e corrigida pelo autor.” 
Benjamin Franklin (1.706 - 1.790 d.C.)


“Sinto que logo deixarei esta vida terrena. Mas como estou convencido de que nada existe na natureza que possa ser aniquilado, tenho como certeza que o mais nobre de mim mesmo não cessará de viver. 
Embora eu me arrisque a não ser rei em minha próxima vida... ora, tanto melhor! ...viverei mesmo assim uma vida ativa e, o que é melhor, sofrerei menos por ingratidão.” 
Frederico “O Grande” (1.712 - 1.786 d.C.)


“Estou certo de que estive aqui, como estou agora, mil vezes antes e espero retornar mil vezes... A alma do homem é como a água; Vem do Céu e sobe para Céu, para depois voltar a Terra, em um eterno ir e vir.” 
Goethe (1.749 - 1.832 d.C.)


“Se um asiático me perguntar por uma definição da Europa, serei forçado a responder-lhe do seguinte modo: É aquela parte do mundo perseguida pela incrível ilusão de que o homem foi criado do nada, e que a sua existência atual é a sua primeira entrada na vida.” 
Arthur Schopenhauer - Filósofo Alemão (1.788 - 1.860 d.C.)


“Todos os seres humanos experimentaram vidas anteriores... Quem sabe quantas formas físicas o herdeiro do céu ocupa, antes que ele possa compreender o valor daquele silêncio e solidão, cujas planícies estreladas são apenas a antecâmara dos mundos espirituais?” 
Honoré de Balzac - Escritor Francês (1.799 - 1.850 d.C.)




*Datas aproximadas 



As mães de Chico - alguns depoimentos


“O Chico me tirou de um pesadelo“

“Querido papai Wilson e querida mamãe Chiquinha”, riscou Chico Xavier em letras grandes e arredondadas. 

Era sexta-feira, 18 de outubro de 1980. A carta, mais uma das psicografias feitas pelo médium naquele dia, seria lida mais tarde pelo próprio Chico para êxtase de Francisca Ruiz Dellalio e Wilson Dellalio, pais de Eduardo Ruiz Dellalio, morto quatro meses antes, aos 18 anos, em um acidente de moto a quatro quadras de sua casa, no bairro do Tatuapé, em São Paulo. 

Era o primeiro texto que recebiam. “Estava pensando em férias sem qualquer sombra nas ideias, quando o choque me surpreendeu”, continuou a carta, que coincidia com o que os pais vinham conversando com o filho na época do acidente.


Eduardo era mais do que o único filho de dona Chiquinha e seu Wilson. 

Das dez gestações de Francisca, cinco resultaram em aborto, duas em crianças natimortas, uma em um menino que morreu com uma semana de vida e a outra em uma menina, Kátia, que faleceu com pouco mais de um ano. 

“Até receber a primeira mensagem do Eduardo, simplesmente não vivia”, lembra Chiquinha, que costumava acordar de madrugada e correr, aos prantos, para cheirar as roupas do filho no armário. 

“O Chico me tirou de um pesadelo”, atesta. “Ele foi a minha salvação.” 

Do homem que lhe deu conforto com 22 mensagens e quase 300 páginas de texto psicografado, Chiquinha, hoje com 69 anos, guarda lembranças dignas de uma devota que conheceu seu Deus. 

“Perto dele você não sentia o chão. Me segurava em cada palavra que ele dizia.” 

Uma carta em especial tocou fundo Francisca. Na mensagem de número sete, o filho repetiu uma expressão comum apenas entre eles. “Esticar minhas andanças” era o que Eduardo dizia quando queria um complemento da semanada dada pelo pai para que pudesse passear mais com os amigos nos finais de semana. “Nem o pai sabia disso, só eu e ele”, diz, emocionada.

“Ainda sinto o cheiro do perfume dele pela casa”, lembra.



* * *

“O Chico é tudo na minha vida“

 “Desde menina achava que morreria aos 42 anos”, conta Lucy Ianez da Silva, hoje com 80 anos. “Não morri”, diz. “Mas perdi meu filho aos 42.” 

José Roberto Pereira da Silva, primogênito de Lucy, morreu no dia 8 de junho de 1972, aos 18 anos, em um acidente de trem entre Mogi das Cruzes e São Paulo. 

O jovem, que morava com a família na capital, escolheu estudar medicina na cidade vizinha justamente pela necessidade da viagem de trem, de que ele tanto gostava. 

“Desde criança, antes de carrinho e de bola, a preferência do José Roberto era o trem de ferro”, diz Lucy. Quis o destino que ele morresse dentro de um.

Meses depois do acidente, o pai do garoto, que abandonara o trabalho, ia três vezes por dia ao cemitério, enquanto Lucy tentava se recuperar do irrecuperável na casa da mãe. 

“Fui criada no seio católico: morreu, purgatório, céu, inferno, essas coisas”, enumera. “Não tinha alento.” No auge de seu desespero, uma amiga a convenceu a ir até Uberaba. Nas duas primeiras visitas não veio nada, mas na terceira tudo mudou. 

“Mãezinha, o que se perdeu foi o retrato que um dia, em verdade, deveria desaparecer”, dizia José Roberto na primeira carta que mandou, em 29 de setembro de 1973. Outras 20 seguiriam. 

“Não queira morrer para reencontrar-me porque eu prossigo vivendo. Estamos juntos, só que de outra forma”, reiterou. Lucy voltou a sorrir, continuou retornando a Uberaba por duas décadas atrás de notícias do filho e sempre foi atendida.

“O Chico é tudo na minha vida”, diz ela. “Nunca vi alguém como ele e nunca verei mais.” 

A católica Lucy passou a frequentar centros espíritas com afinco e a trabalhar nas obras sociais ligadas à religião, tanto em São Paulo quanto em Minas Gerais. No começo da década de 90, parou de visitar Uberaba.

“A gente já tinha tanto, não queria pegar o lugar de mães que iam sempre e nunca recebiam nada.” Hoje, a saudade que mareja os olhos azuis de Lucy não é mais só do filho e do marido, que já morreu – ela inclui Chico Xavier.

* * *

“O que me ajudou a continuar vivendo foi o Chico“

Quando Shirley Rodrigues recebeu a notícia de que seu filho, Sidney, havia cometido suicídio enquanto dava plantão no quartel da Aeronáutica no qual servia, em São Paulo, não acreditou. 

Segundo ela, o menino de 18 anos não teria razões para isso. 

“Além da dor da morte, fiquei com a dor da dúvida”, lembra ela, na época com 40 anos e hoje com 74. 

Católica, Shirley resistiu aos primeiros convites de uma amiga para visitar Chico Xavier, mas, no desespero, acabou aceitando. “Lá, descobri que só de estar ao lado dele me sentia viva de novo”, diz ela, que visitou Uberaba seis vezes antes de receber a primeira mensagem de Sidney, 19 meses depois daquela quinta-feira, 2 de dezembro de 1976, quando ele morreu. 

“Não cometi suicídio”, garantia o texto, que descrevia o tiro que matou Sidney como acidental. A foto do filho, estampada em uma medalha no peito da mãe, se mexe com o soluçar de Shirley, que chora sempre que lê as cartas.
 
O garoto disse que lustrava a arma quando ela escapou de sua mão, caiu no chão e disparou. O projétil ricocheteou até acertar a base de seu crânio, do lado esquerdo. 

No texto ele pedia, ainda, para que os pais assinassem os laudos oficiais, mesmo que apontassem suicídio, e assim encerrassem o assunto. “Feito isso espero retornar-me à tranquilidade de que necessito”, dizia Sid, como era chamado, do além.

Assim foi feito, em nome da tranquilidade do filho e da família. 

Mas, apesar de querer acreditar, Shirley ainda tinha dúvidas quanto ao que ouviu de Chico. “Eu pensava que ele dizia essas coisas para me confortar”, conta. 

A segunda carta, segundo ela, acabou com as dúvidas ao citar o nome de familiares já mortos que estariam guiando Sid no além. “O que me ajudou a continuar vivendo foi o espiritismo e o Chico”, garante Shirley. “Sem isto não teria aguentado.”

A mãe diz sentir a presença do filho de quando em quando, mas lamenta nunca ter tido a oportunidade de vê-lo, como outras já viram. “Acho que não devo estar pronta”, lamenta.

* * *

“Ele ajudou, mas minha vida perdeu a cor“

“Não fui atrás de uma mensagem, minha esperança era entrar no centro e reencontrar meu filho”, admite a paulistana Neusa Collis, 69 anos, sobre a motivação da viagem a Uberaba no final de 1984. 

Em outubro, seu primogênito, Antônio Martinez Collis, então com 24 anos, foi assassinado durante um assalto. 

Nos meses que se seguiram, ela emagreceu 30 quilos, mal saía do quarto e se recusava a ver a luz do dia. “Eu estava revoltada com Deus”, resume Neusa, que era católica e hoje é espírita.

No primeiro encontro com Chico Xavier, Neusa não recebeu mensagem do filho. Mas ela insistiu. 

Lembrava que, uma semana antes de morrer, Antônio havia contado que sentia sua morte se avizinhar. Seria sinal de maturidade espiritual? Talvez. 

A confirmação viria quatro meses depois, em fevereiro de 1985, quando o filho se comunicou através do médium de Uberaba. 

“Você é a rosa da minha vida”, leu Chico Xavier, em carta endereçada à Neusa. Naquele momento, a mãe teve certeza de que a mensagem era dele. “Quando ainda era vivo, escolhi uma rosa e disse para mim mesma que ela o representaria”, lembra. 

Era muito mais prova do que ela precisava para legitimar o contato, que se estendeu por mais alguns recados psicografados por outros médiuns, na época único alento para a dor que sentia.

Hoje Neusa já não lê mais as cartas do filho – a lembrança machuca mais do que conforta. Sai pouco do apartamento onde vive, a algumas quadras de onde Antônio foi morto, diz ter perdido a vaidade, embora continue uma senhora distinta e cuidada, e não consegue cantar parabéns nem nas festas dos netos.

“O espiritismo foi o único lugar onde tive respostas”, afirma. 

“Ajudou, mas minha vida perdeu a cor”, resigna-se, observando um porta-retratos com a imagem do filho. “Um dia nos reencontraremos”, diz, convicta.

* * *

24 outubro 2011

Nada substitui o prazer de ler...

Lindo depoimento de Ziraldo...vale a pena conferir!

Sobre ler e escrever



"Quando sofro um assomo de sabedoria e me considero razoavelmente informado, costumo ler bulas de remédio para sentir a humilhação de não entender nada do que estou lendo." (Carlos Heitor Cony)

"A luta contra o erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente invisíveis. Mas assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas. Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar." (Monteiro Lobato)

"A primeira condição de quem escreve é não aborrecer." (Machado de Assis)

"Se você não tricota, leve um livro para ler." (Doroty Parker)

"Escrever é fácil: você começa com uma letra maíuscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias" (Pablo Neruda)




23 outubro 2011

Hospital do Senhor


Fui ao Hospital do Senhor fazer um "check up" de rotina e constatei que estava doente.

Quando Jesus mediu minha pressão, verificou que estava baixa de ternura.

Ao tirar a temperatura, o termômetro registrou 40 graus de egoísmo.

Fiz um eletrocardiograma e foi diagnosticado que necessitava de uma ponte de amor, pois minha veia estava bloqueada e não estava abastecendo o meu coração vazio.

Passei pela ortopedia, pois estava com dificuldade de andar lado a lado com meu irmão e não conseguia abraçá-lo por ter fraturado o braço ao tropeçar na minha vaidade.

Constatou-se miopia, pois não conseguia enxergar além das aparências.

Queixei-me de não poder ouvi-lo e diagnosticou bloqueio em decorrência das palavras vazias do dia-a-dia.

Obrigado, Senhor, por não ter me cobrado a consulta, pela Sua grande misericórdia.

Prometo, ao sair daqui, somente usar remédios naturais que me indicou e estão no receituário do Seu Evangelho.

Vou tomar, diariamente, ao me levantar, chá de agradecimento; ao chegar ao trabalho, beber uma colher de sopa de bom dia e, de hora em hora, um comprimido de paciência, com um copo de humildade.

Ao chegar em casa, Senhor, vou tomar diariamente uma injeção de amor e ao me deitar, duas cápsulas de consciência tranqüila.

Agindo assim, tenho certeza de que não ficarei mais doente e todos os dias serão de confraternização e solidariedade.

Prometo prolongar esse tratamento preventivo por toda a minha vida, para que, quando me chamar, seja por morte natural.

Obrigado, Senhor, e perdoe-me por ter tomado o Seu tempo.

(Autor desconhecido)





Perguntas e respostas frequentes sobre o Luto




No caso de pais que perderam filhos:

1) Como lidar com o luto?

Poder expressar livremente seus sentimentos em relação a morte daquele filho e buscar dentro de si o que ainda dá sentido a sua vida, de maneira a se reconstruir, se resignificar, é a melhor maneira de lidar com o luto.

2) A dor de perder um filho é para sempre?

Sim, mas a intensidade da dor, a característica do sofrimento, deve mudar.

Sempre faço analogia a uma ferida que no início sangra, arde, dói de maneira quase insuportável e depois, no seu tempo, vai fechando, deixando uma cicatriz. Essa cicatriz estará lá para sempre, enorme, visível ao olhos, mas não sangra como de início.

3) Creio que é normal os pais se revoltarem ainda mais por ser algo contra a natureza. Como e de que forma consolar estes pais? 4) E o que não se deve dizer para não agravar ainda mais a dor destes pais (exemplo: é comum as pessoas falarem)?

A revolta é normal e faz parte das fases do luto. A palavra não é consolo. Nada consola.

O que se deve fazer é oferecer acolhimento e apoio: o apoio que esses pais precisam – eles devem dizer quando e como querem ser ajudados – e manter os braços abertos para que eles manifestem qualquer tipo de sofrimento, sem conselhos, criticas ou cobranças.

“Seja forte” e “não chore, seu filho não ia querer te ver triste” ou “O tempo cura tudo”, “Confio na sua força”, por exemplo, são frases que podem atrapalhar muito.

5) O que fazer com o quarto e pertences do filho (desmanchar tudo fará a dor diminuir mais depressa)?

Não, desmanchar tudo não fará a dor diminuir mais depressa.

Quem deve decidir quando e como desmanchar o quarto e doar os pertences daquele filho são os seus pais.

Ninguém pode saber o que é melhor ou pior para eles. Não há regra. 

O aconselhamento nesses casos é que esses pais conversem muito até que concluam, juntos, o que e quando o farão.

Se há dúvida, deve-se esperar até o momento certo. Não há problemas se o casal precisa que o quarto “fique como estava” por um tempo, que, geralmente, não passa de 3 a 6 meses.

6) O que fazer nas datas comemorativas?

Rituais são extremamente importantes, principalmente nas datas comemorativas. Podem ser religiosos ou não. Mas devem fazer sentido para esse pai, essa mãe.

Tenho uma paciente que durante o primeiro ano colocava um lindo arranjo de rosas para a filha, no quarto que era da filha, sobre a cama, nas datas comemorativas. Isso era como ELA ritualizava, como se sentia bem.

Na terapia, costumo ajudar na busca de um ritual que faça sentido para aquele paciente e que pode mudar com o tempo.

7) Quanto tempo leva para que as coisas voltem ao “normal”?

As coisas nunca voltarão ao normal, se você chama de normal ser tudo igual como era antes.

Se você chama por normal a rotina, isso depende muito de cada um, mas geralmente em 6 meses os pais enlutados já começam a encontrar mais “normalidade” no dia-a-dia.

8) Quando é hora de procurar ajuda?

A qualquer tempo.

Acredito, particularmente, que a terapia do luto se iniciada logo após a morte, tem muitos benefícios, não pela “terapia” em si, mas pelo aconselhamento.

Nossa sociedade não tem a morte num lugar de naturalidade e não esta “preparada” para esses momentos, tomando atitudes muitas vezes bastante comprometedoras para o desenvolvimento do luto.

9) Como é aplicada a terapia nestes casos?

O formato inicial, na maioria das vezes, é de aconselhamento. 

Coisas muito práticas como ver ou não ver o filho morto, ir ou não ir ao velório, levar ou não os irmãos pequenos ao velório, falar ou não a verdade.

Para essas perguntas temos conselhos práticos, baseados em evidencias clinicas e pesquisas cientificas, do que pode ser melhor ou pior, para a maioria das pessoas, mas cada caso é um caso.

A terapia do luto é a expressão livre dos pensamentos e sentimentos a respeito da morte.

Poder expressar livremente seus sentimentos em relação a morte é essencial no processo de reaprendizado, de resignificação da própria vida sem aquela pessoa querida.

A terapia do luto consiste nesse reaprendizado, descobrindo e reconhecendo a maneira particular daquela pessoa viver seu luto e encontrar suas próprias ferramentas para aliviar sua dor.

10) Como agir com o outro filho que está vivo (alguns pais tendem a proteger demais o filho que continua vivo e às vezes, sem querer, chegam a compará-lo com o que morreu)?

Isso é comum e no início, muitas vezes inevitável.

No decorrer da terapia, se identifico que a criança que ficou continua sendo sobrecarregada ou sofrendo comparações, trabalho com os pais e muitas vezes, convido a família para um encontro de família – uma sessão onde as crianças e os pais vêm juntos.

A partir daí, temos material para conduzir o caso de maneira mais precisa, pontuando e ajudando aqueles pais a entenderem o que está se passando e como isso pode ser sofrido para a criança que ficou.

11) É verdade que é comum os pais se separarem após a morte de um filho? A que se deve isso?

Sim, é verdade. O índice de separação é alto no primeiro ano apos a perda de um filho. Isso se deve, muitas vezes, ao fato de que cada um “sente a morte” e se enluta, da sua maneira, o que é normal e estimulado até.

A questão é quando as reações e maneiras de viver o luto são muito diferentes e um quer que o outro faça o que é bom para si, gerando conflitos e um grande afastamento entre o casal.

Quando existem pendências anteriores, culpas, etc ou o casal estava em crise antes da morte, isso pode configurar um risco maior de afastamento desse casal durante o luto.

Sempre que possível, no primeiro encontro com pais que perderam filhos explico sobre a necessidade de cuidado com “a entidade casal”, oferecendo a eles ferramentas para lidarem com suas diferenças na maneira de reagir diante da morte e da perda de seu filho, garantindo-lhes que não há certo e errado, não há regras exatas a serem seguidas.

Eles tem sim, que aprender a respeitar o desejo do outro e conversar muito, muito mesmo, sobre tudo o que pensam e sentem sobre a morte de seu filho.

Na terapia do luto, procura-se enfatizar que o sofrimento é único e que ninguém sofrerá exatamente da mesma maneira.

Cada um tem seu ritmo, reage de forma diferente e não existe certo e errado.

Não existem regras a serem seguidas para se lidar melhor com a morte. Existe sim, uma descoberta do processo único de cada um em manifestar e reagir a sua dor e encontrar o que a alivia.


(Adriana Thomaz, em entrevista para Lia Kehr)









A Casa dos Mil Espelhos


Tempos atrás, em um distante e pequeno vilarejo, havia um lugar conhecido com a casa dos 1000 espelhos.

Um pequeno e feliz cãozinho soube deste lugar e decidiu visitar.

Lá chegando, saltitou feliz escada acima até a entrada da casa. Olhou através da porta de entrada com suas orelhinhas bem levantadas e a cauda balançando tão rapidamente quanto podia.

Para sua grande surpresa, deparou-se com outros 1000 pequenos e felizes cãezinhos, todos com suas caudas balançando tão rapidamente quanto a dele.

Abriu um enorme sorriso, e foi correspondido com 1000 enormes sorrisos.

Quando saiu da casa, pensou: "Que lugar maravilhoso! Voltarei sempre, um montão de vezes."

Neste mesmo vilarejo, um outro pequeno cãozinho, que não era tão feliz quando o primeiro, decidiu visitar a casa.

Escalou lentamente as escadas e olhou através da porta.

Quando viu 1000 olhares hostis de cães que lhe olhavam fixamente, rosnou e mostrou os dentes, e ficou horrorizado ao ver 1000 cães rosnando e mostrando os dentes para ele.

Saiu correndo da casa, e pensou: "Que lugar horrível! Nunca mais volto aqui."

Todos os rostos no mundo são espelhos.

Que tipo de reflexos você vê nos rostos das pessoas que você encontra?


(Folclore japonês)



Dica de Livro: “Morrer não se improvisa” - Bel Cesar


Série de relatos que ajudam a compreender as necessidades emocionais e espirituais daqueles que enfrentam a morte.

Um dos principais fundamentos do budismo tibetano reza que é de extrema importância o começarmos e finalizarmos bem tudo o que fazemos.

Isso vale para todas as ações de nossas vidas.

Viver é o ato constante em nossa passagem pela terra. Portanto, morrer com a mente clara e em paz é a melhor maneira para podermos concluir a nossa vida.

Este é o fio condutor do livro “Morrer não se improvisa”, publicado pela Editora Gaia, escrito pela psicóloga Bel Cesar, que há mais de 10 anos atende pacientes que enfrentam o processo da morte.

Sua prática psicoterápica é realizada, sempre, sob a perspectiva dos ensinamentos do budismo tibetano.

Em julho de 1999, em uma conversa informal com o seu mestre e amigo Lama Gangchen Rimpoche, Bel Cesar foi questionada sobre a possibilidade de escrever um livro que apresentasse sua experiência com pacientes que estão prestes a morrer.

Pensou por alguns instantes e manteve-se reticente.

Em seguida, Lama Gangchen foi mais incisivo: Eu vou morrer e sei que meu trabalho vai continuar. E você, depois de morrer, quem vai dar continuidade ao seu trabalho? 

A partir deste diálogo, Bel Cesar compreendeu que o compartilhar sua experiência profissional era muito mais relevante do que resistir em expor o seu trabalho ou a história de seus pacientes.

Com coragem e determinação, Bel Cesar colocou no papel 12 casos atendidos desde 1991. Alterou o nome dos pacientes e pediu permissão aos familiares para publicá-los. Fez várias cópias e as distribuiu entre amigos e profissionais da área de saúde. Muitos se interessaram.

Ela consegue integrar a convicção religiosa de cada paciente com sua prática budista e alcança resultados surpreendentes.

Segundo ela, isso só é possível porque o budismo está baseado num sistema de sabedoria universal, respondendo às necessidades inerentes de cada indivíduo, que é encontrar um sentido tanto para a vida como para a morte e cultivar uma visão de paz que transcenda o materialismo imediatista.

Mais adiante, Bel Cesar percebeu que este material que estava se delineando no livro poderia dar a oportunidade para que outros profissionais comentassem suas experiências com pacientes terminais.

Ela convidou 16 representantes das áreas médica, religiosa e psicoterápica do Brasil e exterior para que compartilhassem suas experiências nos 12 casos relatados. 

Além disso, percebeu também que poderia enriquecer, ainda mais, o conteúdo do livro, discorrendo sobre o atendimento hospice, uma prática criada na Inglaterra em 1967 e pouco difundida no Brasil, que consiste em oferecer uma abordagem multidisciplinar no atendimento às necessidades emocionais, físicas, espirituais e sociais do paciente e de seus familiares.

Resultado: “Morrer não se improvisa” é um livro vivencial, afinal fala da morte de maneira clara e direta.

Assunto que a nossa cultura faz questão de banir de toda e qualquer discussão.




Família


Cabe aos pais a responsabilidade inicial da educação do Espírito encarnado.

O lar deve ser o cenário onde o indivíduo possa sentir-se plenamente confiante, aceito e amado, onde possa expor seus conflitos mais íntimos com sinceridade, sem medo de perder a compreensão dos familiares, onde possa desabafar seus problemas e dialogar com profundidade com os que lhe são afins.

A família tem que ser o esteio de sua auto-educação.

O exemplo edificante, o ambiente moral, as vibrações amorosas do lar serão determinantes na existência presente e na vida imortal.

É na família, que podemos e devemos em primeiro lugar conquistar e exercitar virtudes fundamentais, como altruísmo, paciência, amor ao próximo e ao mesmo tempo o empenho de contribuirmos para o progresso do outro.

Trata-se, pois, de um cenário permanente e fecundo para a Educação do Espírito.


Não há colégios, por mais modernizados e modelares, que possam fazer as vezes dos ambientes domésticos.

Regimes de internatos, quaisquer que sejam, não se sobrepõem, em normas disciplinares e critério de funcionamento, aos salutares princípios de família.

Professores particulares e explicadores contratados para aulas individuais, ainda que, muito competentes, nunca exercerão maior e tão decisiva influência no ânimo e âmago dos pupilos que seus próprios pais.


Cursos de extensão cultural, de especializações e aperfeiçoamentos técnicos, dotando embora o intelecto de sólido cabedal, não oferecem à mente o mesmo material educativo qual o que lhe é fornecido pelas lições no recesso dos lares.

Tratados, livros e autores da mais alta expressão cultural, facultando luzes ao cérebro, não valem a palavra maternal repassada de ternura e prudência, nem substituem a voz da experiência do pai que amadureceu nas árduas contingências e vicissitudes da Vida.

Babás e governantas, por muito compenetradas e solícitas que se mostrem, jamais sobrepujarão as mães em desvelos e carinho, no exemplo e na autoridade, na força moral e no sentimento de abnegação, na influência do afeto e no poder do coração.


Isto é que importa saibamos: não podemos passar procuração a ninguém para educar nossos filhos e não há dinheiro que lhes faculte adquirir as virtudes e os valores que formam a estrutura dos homens de bens.

Se os desejamos, além de preparados e cultos, bons e simples, compreensíveis e cristianizados, é imperioso façamos no nosso Lar o primeiro templo de Saber e de Iluminação Espiritual, para que eles possam demonstrar aos outros, em nossa presença ou ausência, o que aprenderam conosco (porque nos viram fazer) portas adentro do santuário doméstico.


Pai e mãe, em sã consciência, não podem ser omissos no trabalho de Educação espírita dos seus filhos.
Jamais deverão descuidar de aproximar seus filhos dos serviços da evangelização, em cujas abençoadas atividades se propiciará a formação espiritual da criança e do jovem diante do porvir.
Há pais espiritas que, erroneamente, têm deixado em nome da liberdade e do livre-arbítrio, que os filhos avancem na idade cronológica para então escolherem este ou aquele caminho religioso ... Tal medida tem gerado sofrimento e desespero, luto e mágoa, inconformação e dor.
Porque, uma vez perdido o ensejo educativo na idade propícia à sementeira evangélica, os corações se mostram endurecidos ..., desperdiçando-se valioso período de ajuda e orientação... (Bezerra de Menezes)

Enquanto na classe cabe aos evangelizadores a exposição teórica e exemplificação dos ensinamentos evangélico-doutrinários, ministrados metódica e sistematicamente, em suas gradações pedagógicas, no Lar, cabe aos pais a demonstração prática, a vivência diurna e real das lições, pelos exemplos que lhes cumpre dar, hora a hora, dia a dia, nos domínios da convivência.


Fora, os filhos se instruem e se ilustram; em casa, porém, é que eles verdadeiramente se educam.

Fora, eles ouvem o que devem fazer; em casa, eles vêem como se faz, por indução particular e pessoal, direta e própria, da conduta dos seus pais.

Os jovens recebem informações e sugestões que surgem a todo instante e de todos os lados e, pela insegurança quanto às suas próprias definições, vêem-se impulsionados a seguir aquelas que melhor atendem aos seus impulsos interiores, que sabemos, nem sempre são as melhores.


Razão pela qual cumpre aos pais acompanhá-los em seu desenvolvimento, mantendo sempre o diálogo, o companheirismo e a atitude de respeito diante de suas inclinações e características individuais, mas apontando-lhes as vantagens e desvantagens de suas opções, ajudando-os a buscar equilíbrio e discernimento na sublimação das próprias tendências, consolidando maturidade e observação no veículo físico, desde os primeiros dias da mocidade, visando à vida perene do Espírito.

(Texto extraído de “Educação Espírita Infanto-juvenil e sua Importância na Formação da Sociedade do Terceiro Milênio” - Claudia Werdine)