"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

20 maio 2012

Amai-vos e instrui-vos


Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo (Espírito de Verdade, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 5).

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Anda circulando na internet (sendo sua autoria atribuída a Leo Buscaglia, no livro "Vivendo, Amando e Aprendendo") o seguinte texto:


"Terminada a última guerra mundial foi encontrada, num campo de concentração nazista uma mensagem dirigida aos professores:

Prezado Professor, sou sobrevivente de um campo de concentração.
Meus olhos viram o que nenhuma pessoa devia presenciar.
Câmaras de gás construídas por engenheiros ilustrados.
Crianças envenenadas por médicos instruídos.
Bebês mortos por enfermeiras treinadas.
Mulheres e bebês mortos a tiros por ginasianos e universitários.
Assim, desconfio da educação.
Meu pedido é o seguinte: ajudem os seus discípulos a serem humanos.
Os seus esforços nunca deverão produzir monstros cultos, psicopatas hábeis ou Eichmanns instruídos.
Ler e escrever, saber História e Aritmética só são importantes se servem para tornar os nossos estudantes humanos".


Que texto mais pertinente!

Escrito na década de 1940, esse apelo se faz importante até os dias de hoje.

É visível a preocupação de alguns segmentos da sociedade sobre os caminhos de nossa Educação. 

A própria UNESCO, através do relatório realizado por uma Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, coordenado por Jacques Delors, alerta: são necessários quatro pilares para sustentar a Educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a ser.

Não basta conhecer, nem saber fazer. A convivência, o respeito aos outros e à diferença são fundamentais, assim como se conhecer, aprendendo a ser, tendo atitude, postura, completude, corpo e alma, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade e espiritualidade.

Mas alguém já havia falado sobre isso há algum tempo…

No Evangelho Segundo o Espiritismo, O Espírito de Verdade, em mensagem de 1860 , disse: "Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo".

Vejam só: Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Antes e acima de tudo: amai-vos.

De que adianta saber fazer coisas se não se sabe para quê fazê-las?

O risco de se ignorar esse primeiro ensinamento é aquele comentado na carta acima. Médicos e enfermeiras, que poderiam curar, matando seus irmãos… 

Engenheiros que poderiam estar construindo para o crescimento do bem-estar social, também eliminando seus semelhantes…
Faltou amor.

Também no Livro dos Espíritos (perg. 685a) 4, Allan Kardec retoma essas questões, falando sobre a importância da educação moral, do respeito aos semelhantes e a si mesmo:


"Há um elemento, que se não costuma fazer pesar na balança e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral.
 Não nos referimos, porém, à educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, à que incute hábitos, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos.
Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freios e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as conseqüências desastrosas que daí decorrem?
Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis.
A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos".


E Kardec completa, comentando a questão 917 do mesmo Livro dos Espíritos 4:
"Faça-se com a moral o que se faz com a inteligência e ver-se-á que, se há naturezas refratárias, muito maior do que se julga é o número das que apenas reclamam boa cultura, para produzir bons frutos".

Portanto, aquela carta acertou ao dirigir-se aos professores, àqueles que são responsáveis em nossa sociedade pela Educação formal.

Mas é possível ampliar essa responsabilidade a toda comunidade.

De novo vale lembrar os ensinamentos: amai-vos e instruí-vos. Ambos são necessários e urgentes. E precisamos desenvolvê-los para que possamos de fato crescer nessa nossa jornada.


(Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves - Ribeirão Preto, SP)

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Referências Bibliográficas:
BUSCAGLIA, Leo. Vivendo, Amando e Aprendendo, Record.
DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir. Brasília: MEC: UNESCO, 2003
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
KARDEC, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 5



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