"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

02 maio 2012

Rebeldia, matriz de distúrbios



Que importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não faz que aquele que a tem se torne melhor, mais benigno e indulgente para com os seus semelhantes, mais humilde e paciente na adversidade?

De que serve ao avarento ser Espírita, se continua avarento?

De que serve o conhecimento Espírita ao orgulhoso, se se conserva cheio de si?

De que serve ao invejoso ser Espírita, se permanece dominado pela inveja?

A classificação internacional de doenças agrupa variadas psicopatologias sob a designação de transtornos do humor, cuja origem se encontra nas estruturas afetivas do Ser.

A forma como sentimos o mundo, as pessoas e os fatos que nos rodeiam, é sintoma determinante da saúde ou de distúrbios, sendo estes últimos diagnosticados desde as neuroses brandas até às psicoses severas, com grande incidência de distonias nas depressões cronicas.

Esse modo de reagir à vida é ponto crucial da atividade mental, pois retrata a automatização de mecanismos e reflexos milenares, construídos através das vivências morais, consolidadas vida após vida.

Facilmente se percebe, nos transtornos do humor, a fragmentação da vida mental do doente com o mundo real, em razão da inadequação ou da não aceitação das experiências perante as quais é colocado, na vida carnal.

A insatisfação persistente, acrescida da auto-imagem idealizada para o mundo pessoal, retrato de anseios reprimidos, criam um perfil psíquico e emocional propício à rebeldia, que se traduz numa reação de inconformismo com o que somos, como estamos e o que temos.

Tal inconformismo cria um campo mental de ampliada susceptibilidade, muita auto-piedade, expressões comuns de “vítimas revoltadas” que criamos em nós pelo desgosto de viver e “ser”.

Rebeldia é matriz de vários distúrbios crônicos, é doença da alma, emissora de irradiações tóxicas que adoecem a mente.

Rebeldia com o corpo, vaidade revoltada.

Rebeldia na ofensa, mágoa fortalecida a caminho do ódio.

Rebeldia nos grupos, extrema dose de personalismo.

Rebeldia nas mudanças, prepotência no controle da vida.

Rebeldia na vida material, ausência do reflexo da simplicidade no viver.

Rebeldia para estudar, orgulho do saber acumulado.

Rebeldia nas idéias, arrogância do desrespeito às opiniões alheias.
Rebeldia ante as normas, sinal de que, quase sempre, nos são necessárias.

Rebeldia nas palavras, focos de calúnia e mentira.

Rebeldia, portanto, é a infecção do orgulho contaminando o cosmo individual.

O homem rebelde sofrerá com intensidade as conseqüências espirituais da sua atitude, sendo libertado pela consciência, somente quando cumprir o seu dever.

Sendo presunçosos e passíveis de personalismo crônico, os conhecedores das verdades espíritas, quando na rebeldia, arruínam as suas existências com terríveis conflitos de culpa e desajustes comportamentais que procuram mascarar com atitudes de puritanismo ou indiferença.

O homem rebelde, quando bafejado pelo conhecimento da imortalidade, é “usurário do universo”assinando a sua própria petição para as vielas expiatórias nos caminhos da dor, estagnando no charco da revolta e da desobediência.

Indaga o lúcido Allan Kardec: - Que adianta conhecer o Espiritismo e não se tornar melhor?

Façamos continuamente essa auto-avaliação para jamais esquecermos que o caminho libertador do comportamento espírita vai para além do dever, penetrando as esferas do amor incondicional e da humildade obediente aos desígnios do Pai.

Nos rumos da vida, rebelar-nos, é lícito a todos, mas à luz da reencarnação, não podemos jamais esquecer-nos que fomos, no passado, os arquitetos das experiências atuais, nas provas de que precisamos.

Relembrando esse fato, ainda assim resta-nos o “direito de discordar” de Deus.

Verificaremos, no entanto, a bem de nós próprios, que o dever de aceitar-Lhe os alvitres, é fonte de paz e alívio nas dores de todo o instante.

Amigo, interrompe o círculo das tuas provas, agravadas pela obstinação em que te situas.

Quanto mais tempo levares para reagir, mais alto será o preço do sacrifício.

Opta agora pela mudança, já que a revolta pouco acrescentou ao teu sossego e felicidade.

Apegos milenares e costumes que se perdem no tempo, são renovados à custa de experiências opostas aos teus sonhos de ventura.

Hoje, quando te revoltas com as tuas provações, alegando cansaço e insatisfação, não fazes mais do que repetir o velho hábito de desafiar as leis da vida, em crise de rebeldia.

Não aceitas o presente, revoltas-te com o passado e reclamas antecipadamente do futuro, quando o problema está em ti e somente de ti partirá a solução.

Aceitação e trabalho de transformação íntima, são as tuas receitas de que necessitas. Aplica-as quanto antes e sentirás um alívio no torvelinho mental em que te encontras.

A cada ato de inconformismo, estás a adoecer a tua alma e de desgosto em desgosto, causarás lesões graves na tua estrutura afetiva, gerando danos imprevisíveis para o teu psiquismo.

Começa agora a tua recuperação e ora a Deus pedindo forças.

Adquire a humildade para tal e pára de desafiar o Criador e as Suas leis.

A tua harmonia afetiva e mental depende do quanto conseguires afinar a tua realidade à Sábia e Misericordiosa Vontade do Pai e, para aprenderes a identificar a Vontade Divina, começa a aceitar as circunstâncias em que te encontras, assumindo-as com coragem, responsabilidade e devoção, sem utilizar-te dos instrumentos da reclamação, da leviandade e da fuga.

Por fim, lembra-te sempre que a maior lição em que te deves empenhar, ante as lutas da rebeldia, é aprenderes a gostar do que tens, do que és e do que fazes.

Em resumo, descobre quanto antes como amar a ti mesmo.

* * *

Bibliografia:

“Laços de afeto” – psicografado por Wanderley de Oliveira ;

“O livro dos médiuns” – Allan Kardec




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