"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

25 janeiro 2013

O exílio luminoso de Victor Hugo



Todos os seres são, foram e serão.

Que haja cinza no coração que leva lama à frente, todo o ser é imortal como essência e conquista o que se lhe deve pela lei que o governa. O fato de ser pequeno, imperceptível, não é motivo para não ter porvir; nada padece em vão.

Tudo vive. A criação esconde os renascimentos.

Chama de Deus, a alma existe em todas as coisas. O mundo é um conjunto em que nada está só! Todo corpo esconde um espírito! 

Toda carne é uma mortalha e para ver a alma é preciso compreender o sudário.

Todo ser, qualquer que seja, do astro ao estrume, do estúpido ao profeta é um espírito arrastando uma forma final.

(Victor Hugo)

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Victor Hugo, poeta nacional da França, dedicou boa parte de sua vida literária e espiritual à Doutrina Espírita.

Seu talento encontrou, nos princípios desta, fontes de inspiração que lhe permitiram escrever páginas brilhantes, as quais continuam guiando o pensamento humano sobre os grandes problemas metafísicos e religiosos.

As Contemplações, Raios e Sombras, A Lenda dos Séculos revelam conceitos realmente comovedores. Nestes livros o poeta manifestou uma profunda sabedoria espiritual como que inspirada por grandes potências do mundo invisível. É que Hugo, sempre a serviço da verdade, tudo escreveu interrogando o Mais Além.

Seu gênio romântico cresceu com a visão espírita do mundo; por isso, seu romantismo foi como uma conseqüência desses mistérios espirituais que sempre o rodearam.

Em Jersey, junto ao tripé mediúnico, o mesmo que foi usado pelas sacerdotisas de Apolo para dar oráculos em Delfos, enquanto o mar batia furiosamente à costa, foi que concebeu suas grandes visões poéticas e sobrenaturais. Polemizou em verso com entidades invisíveis, com o que comprovou a existência do mundo dos espíritos.

O poeta sabia que o tripé era um instrumento mágico pelo qual a luz do mundo invisível pode vencer as trevas da terra.

Sentia-se na Ilha de Jersey como João em Patmos, razão pela qual pode ser considerado como o fundador da Patmologia Espírita. 

Falou com o espírito em meio ao mar e escreveu um novo Apocalipse. Relacionou-se empregando a linguagem de Ronsard com Moliére e A Sombra do Sepulcro, duas elevadas personalidades mediúnicas.


O mar e a solidão acompanharam-no sempre e foram até seus confidentes.

Não obstante, aquela Ilha de Jersey tinha a virtude de povoar-se de entidades invisíveis que lhe falaram de liberdade, amor e recordações. 

Sua filha Leopoldina, desaparecida em um naufrágio, se lhe fez presente por meio do tripé mediúnico e falou com sua alma de modo terno.

O poeta sabia que os mortos não são devorados pelo abismo e que as distâncias metafísicas não podem alijá-los dos homens. Por isso, dizia: "Peçamos justiça à morte, mas não sejamos ingratos com ela. A morte não é, como se diz, uma queda nem uma emboscada".

Proclamou, assim, que os mortos voltam.

Resistia a aceitar um Além, que impedia os espíritos desencarnados de comunicar-se com os homens. 

Aceitava, em troca, um mundo invisível comunicando-se com o visível; o invisível era para o poeta um templo repleto de presenças espirituais sempre disposta a relacionar-se com a mente e o coração dos povos. Foi por isso que disse: "Os mortos são os invisíveis e não os ausentes". [...]

( O exílio luminoso – in “Victor Hugo Espírita”, de Humberto Mariotti)

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