Este é o título da entrevista feita com o escritor português José Saramago, quando esteve em Belo Horizonte para proferir palestra, no dia 21 de novembro de 1997, e está relacionado com o tema central do seu livro "Ensaio sobre a cegueira".
A entrevista, publicada no jornal Hoje em Dia (20/11/97), aborda inicialmente o tema do livro, que segundo o autor, "é uma parábola que questiona se nós não somos detentos de uma razão cega, de uma razão que não é guardiã da vida, mas que pelo contrário, muitas vezes é usada em seu potencial destruidor."
Não li o livro em questão, mas pelos depoimentos do ilustre escritor, considerado pela crítica como o maior escritor vivo da língua portuguesa, o assunto é fascinante, embora a abordagem (segundo pude apreender) se restrinja aos aspectos políticos, sociais e culturais.
A intenção de Saramago, conforme afirma o repórter Márcio Serenei que assina a matéria, é anunciar "uma Idade das trevas às avessas, onde uma hipertrofia do iluminismo levaria o mundo ao caos"; cabendo ainda neste contexto, críticas ao desenvolvimento das ciências e das novas tecnologias utilizadas, muitas vezes, para a destruição. Saramago enfatiza que "os novos meios tecnológicos, em si, não são bons nem ruins. Boas e ruins são as formas como as pessoas se utilizam deles."
A intenção de Saramago, conforme afirma o repórter Márcio Serenei que assina a matéria, é anunciar "uma Idade das trevas às avessas, onde uma hipertrofia do iluminismo levaria o mundo ao caos"; cabendo ainda neste contexto, críticas ao desenvolvimento das ciências e das novas tecnologias utilizadas, muitas vezes, para a destruição. Saramago enfatiza que "os novos meios tecnológicos, em si, não são bons nem ruins. Boas e ruins são as formas como as pessoas se utilizam deles."
Pelo que foi possível deduzir da entrevista, a questão religiosa ou não é abordada no livro, ou não Ihe foi dada ênfase bastante para ser citada naquele momento.
Mas, com os elementos que acabamos de mencionar uma conclusão surge, espontânea e natural, como sempre ocorre quando se faz - à luz do Espiritismo - uma análise crítica de nossa época, com todas as suas características boas ou más, úteis ou nocivas: a de que a cegueira maior, mais profunda e prejudicial é a da fé. Não é difícil observar que, exatamente em decorrência desta surgem todos os males que a Humanidade enfrenta.
A fé cega é a cegueira da razão em nível mais profundo.
Mas, por que o escritor diz que a razão está cega? O que ele está pretendendo denunciar?
Cremos que no Espiritismo estão as respostas.
Se olharmos a trajetória da fé e da razão, na história da Humanidade, encontramos a permanente questão de que ambas são antagônicas.
A fé, como manifestação religiosa, sempre primou pela irracionalidade, predomínio do pensamento mágico, no qual se mesclam componentes místicos, imaginários e experiências transcendentais, num amálgama em que, geralmente, são tecidos os fatos, que se tornam depois, a base de várias religiões.
Sobre esses fatos, bastante duvidosos e inconsistentes, a fé foi sendo estruturada, freqüentemente ilógica, sem questionamento, mas que atendia, em princípio, às necessidades da época.
Em contrapartida, a razão, bruxuleante, consegue firmar-se, à medida em que o homem avança intelectualmente.
Este progresso é de tal ordem que culmina com uma verdadeira revolução das idéias nos séculos 18 e 19, quando se proclama que a razão e a fé são Incompatíveis.
Da fé ilógica e cega resultam afirmações terríveis que norteiam o pensamento e a conduta da imensa maioria de seres humanos, tais como:
- Deus é cruel e vingativo; tem todas as paixões humanas; seus critérios de justiça são variados e incoerentes e, quase sempre injustos;
- Satanás é mais poderoso do que Deus, que o criou, pois se rebelou contra o próprio Criador, fundou o inferno onde reina e consegue que ali sejam mantidos seres humanos, em número incalculável, condenados sem remissão, sem que Deus tenha poder para retirá-los.
Ou o que é pior: Deus, muitas vezes, envia seus filhos para lá, deixando-os ao encargo de Satanás, seu principal oponente, por toda a eternidade;
- Deus criou Adão, depois a Eva, como subproduto dele; só que ela era esperta, curiosa e desobediente e fez o que não devia. Deus ficou com raiva e puniu o casal e todos os seus descendentes - ou seja, a Humanidade inteira;
- Deus, frequentemente de mau humor, provocou o dilúvio. Como gostava mais de Noé do que do resto de seus filhos, ensinou-lhe como fazer para salvar-se e a todas as espécies animais;
- O maligno continua reinando. Só alcançam a salvação - diz a palavra de Deus - aqueles que aceitarem esta ou aquela religião, e cada uma delas advoga para si a posse da verdade; o restante da Humanidade arderá no Inferno;
- Para salvar a pobre Humanidade veio Jesus, filho de Deus, mas que é o próprio Deus, num mistério que associa também o Espírito Santo.
A lista é longa, muito longa. E terríveis são os princípios religiosos que buscam manter o homem na ignorância, na ilusão, manipulando-o ao sabor dos interesses dos líderes religiosos.
A razão, por seu lado, responde à fé cega com a descrença, o ceticismo e o materialismo. Criam-se paradigmas científicos em absoluta oposição a tudo o que a fé exalta.
Há dois séculos o paradigma científico que impera é o mecanicista, que desconhece Deus, não admite a sua existência e proclama que tudo é matéria no Universo. O abismo entre a razão e a fé parece ser intransponível.
Há dois séculos o paradigma científico que impera é o mecanicista, que desconhece Deus, não admite a sua existência e proclama que tudo é matéria no Universo. O abismo entre a razão e a fé parece ser intransponível.
A razão, até hoje detentora das luzes da verdade, do conhecimento, conforme ressaltam os seus defensores, por incrível pareça, também começa a enxergar menos.
E, agora, torna-se igualmente cega. Vê-se, assim, um estranho paradoxo: a razão destituída de razão.
E, agora, torna-se igualmente cega. Vê-se, assim, um estranho paradoxo: a razão destituída de razão.
O objetivo de Saramago é evidenciar que, apesar de todas as luzes que a razão acendeu, ainda assim, a Humanidade prossegue tateando nas sombras.
O que nos leva a deduzir que estas luzes clareiam apenas externamente, isto é, as coisas da vida material, pois que o interior do ser humano elas não chegaram a iluminar. Por isso o escritor diz ser esta "uma idade das trevas às avessas" - em plena luz as trevas ainda predominam.
O que nos leva a deduzir que estas luzes clareiam apenas externamente, isto é, as coisas da vida material, pois que o interior do ser humano elas não chegaram a iluminar. Por isso o escritor diz ser esta "uma idade das trevas às avessas" - em plena luz as trevas ainda predominam.
É importante que o escritor português proclame esse estado de coisas, mesmo que não tenha se referido explicitamente à fé e sim à falta de uma ética moralizadora, pois talvez consiga abrir os olhos de alguém.
Em O Livro dos Espíritos, terceira parte, cap. VIII, a partir da questão 779 até a 802, Allan Kardec trata da marcha do progresso, tendo os Espíritos Superiores informado que o progresso intelectual se efetua sempre e antecede ao progresso moral. Esse é exatamente o panorama geral da Humanidade, é o momento que atravessamos.
Léon Denis, com muita propriedade, afirma que "saber é o supremo bem e tolos os males provêm da ignorância".
O ser humano, em sua grande maioria, ainda permanece mergulhado no desconhecimento das questões espirituais. Ainda não se deu conta daquela que é fundamental para sua própria existência, ou seja, que é um espírito, provisoriamente habitando um corpo físico, nessa breve viagem que é a vida terrena.
O saber a que Denis refere-se, não é somente o advindo do intelecto, mas sim, o que abarca todos os aspectos do ser integral, pleno.
(fonte: www.forumespirita.net)
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