Ama-me como eu sou
sem me perguntar pelo antes de ti,
por esses momentos meus, nublados, sem razão,
pelo passado, em pedaços perdido nas viagens,
- sem querer saber a história das tatuagens
que marcam o coração...
Ama-me como eu sou
( para que perguntar? )
- marinheiro que por tantos mares, inutilmente
se procurou. . . e perdeu,
com tão pouco talvez para te dar,
mas tão pouco, tão eu...
Ama-me como eu sou.
(e sê o que tu és:
humilde, terna, boa)
- não queiras amarrar-me nem tolher-me
nem ser sombra a seguir-me presa aos pés...
Deixa-me livre, como um velho barco
afeito às ondas pela proa
e aos ventos, pelo convés...
Concede-me a solidão
(que precisam da solidão os que foram do mar...)
Concede-me a solidão, nos meus momentos
de zero, ou de temporal, em que caio em mim mesmo,
como coisa inútil!
e egoísta, e sofrido,
só preciso de mim para voltar...
Sê o que tu és
(humilde e boa, sempre disposta a se dar
sem recompensas,
alegre, toda vez que volto e atiro amarras
para ficar )
- feliz porque cheguei sem ter saudades
sem deixar para trás nada mais do que mar...
Ama-me como eu sou,
(não queiras mudar-me, amor, pois bem sabes que é tarde
e já não há mais tempo)
é o coração quem te diz,
- abriga-me em teus braços, que eu neles renasço e vivo,
que eu não sou senão um homem infeliz
que ainda fazes feliz . . .
(Poema de JG de Araujo Jorge, extraído do livro "Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou" Vol. IV - 1a edição 1965 )
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