Suponhamos que a esposa nos traia, que o filho nos rejeite, que o dinheiro ou o poder nos sejam arrebatados.
Passamos imediatamente a odiar os que nos privaram da posse daquilo que amamos ou valorizamos.
Com isto, percebemos que amor e ódio são duas faces de uma só realidade, luz e sombra, que em determinado ponto absorveram-se uma na outra, criando uma opressiva atmosfera de penumbra, na qual perdemos a visão dos caminhos e o senso de direção.
Para desfazer esse clima de crepúsculo, que agoniza e desorienta o Espírito, é preciso ajudá-lo a identificar bem seus sentimentos, a fim de separá-los.
Estejamos certos, para isso, de uma realidade indisputável, ainda que pouco percebida: o amor, como dizia Paulo aos Corintios, não acaba nunca.
Mesmo envolvido, soterrado no rancor e na vingança, ele subsiste, sobrevive, renasce, está ali.
O ódio não o exclui; ao contrário, fixa-o ainda mais, porque em termos de relacionamentos homem/mulher, o ódio é, muitas vezes, o amor frustrado.
Odiamos aquela criatura exatamente porque parece que ela não quer o nosso amor, porque nos recusa, nos traiu, nos desprezou, porque a amamos...
No momento, em que conseguirmos convencer o companheiro desencarnado, em crise, que ele odeia porque ainda ama, ele começa a recuperar-se, compreendendo que essa é uma verdade com a qual ele ainda não havia atinado.
Por mais estranho que pareça, o rancor contra a amada, ou o amado, que traiu ou abandonou, é que mantém acesa a chamazinha da esperança.
Aquele que deixou de amar é porque não amou bastante e, com menor dificuldade, desliga-se do objeto de sua dor.
Cedo compreende que não vale a pena perder seu tempo, e angustiar-se no doloroso processo de vingar-se, dado que – e isto também pode parecer contraditório – não podemos ignorar o fato de que a vingança impõe, também, ao vingador, penosas vibrações de sofrimento.
(Rubens Santini)
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