03 agosto 2011

Dica de Livro: “A Morte Como Sustento” - Giselle Marques


O dia-a-dia dos profissionais que convivem com a dor alheia.

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Ambientes clínicos e hospitalares lidam diariamente com explosões de vida, mas também de morte.

Giselle Marques, autora do livro "A Morte Como Sustento", explica a rotina dos profissionais que lidam com a morte: "Em ambiente médico-hospitalar, os profissionais geralmente encaram a morte de uma forma natural, de uma forma que os que evitam falar do assunto chamam de 'frieza', mas não é frieza. É realidade. Já para os familiares a situação é mais difícil, afinal, ninguém gosta de perder."

Abaixo segue um trecho da apresentação inicial do livro:

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O Brasil registra um milhão de óbitos por ano e a humanidade se transforma em estatística a cada dia. No município de Campinas o número de funerais gira em torno de 600 por mês e desses, a morte violenta abate 130.

O inverno atinge grande parte das pessoas mais velhas com suas gripes e pneumonias.

Os mais jovens se matam no trânsito e a cura do câncer precisaria ser vendida em comprimidos nas farmácias. Existem falecimentos de maneiras inusitadas, como um senhor que estava colhendo manga para os netos quando caiu da árvore: não resistiu aos ferimentos.

Alguns procuram a inexistência em lâminas e cordas.

Entre tantos falecimentos existem profissionais especializados e experientes para lidar com a morte, seja para cuidar de um moribundo, melhorar a coloração de um corpo sem vida ou construir túmulos.

Os rituais existem para simbolizar o fim da vida.

Com o tempo, os funerais foram modificados. O maior motivo para as mudanças é o avanço da medicina que permite o prolongamento da vida ou do sofrimento.

Se velar um corpo na sala da própria casa era comum, hoje, com as famílias dispersas, a correria das grandes cidades, prédios e elevadores, o mercado funerário se aperfeiçoa a cada dia para cuidar de todos os detalhes.

Ao conviver com o sofrimento e a morte alheia, enfermeiros, médicos, sepultadores, floristas, diretores e agentes funerários precisam enfrentar o preconceito de quem não entende que o trabalho consiste em amenizar o choque causado por aquilo que é iminente, o fim.

Da mesma maneira que o proprietário da mais tradicional funerária de Rio Claro, no interior do estado de São Paulo, descobriu como vender aquilo que ninguém quer comprar, este livro-reportagem procura desvendar realidades pouco exploradas na sociedade ocidental onde homens e mulheres fazem de conta que esqueceram a limitação da própria existência.

Discutir o sexo com quem fez voto de castidade é como debater a morte com quem fez voto de eternidade.

E o ser humano, portador de uma vaidade quase insana, parece não admitir que um dia terá que se ausentar deste mundo.

(Giselle Marques)


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