23 setembro 2011

A Espiritualidade e a Escola


Para ir direto ao assunto: onde está a espiritualidade na escola? 

Como essa espiritualidade pode ser explorada sem riscos e se reverter em auxílio às nossas atividades escolares?

A resposta é bem simples.

Se os espíritas freqüentam os centros espíritas porque acreditam que ali existe uma escola na qual são alunos e nela existem mentores que protegem, ensinam e educam, por que isso seria diferente nas escolas comuns? 

É só aplicar o método positivo de Allan Kardec:

* Nas escolas existem Espíritos desencarnados?

* Nas escolas podem ocorrer fenômenos espíritas?

* Esses fenômenos são regulares, podem ser observados, explicados e divulgados?

* Nas escolas surgem especulações filosóficas acerca desses fenômenos?

* Nas escolas podem ocorrer transformações morais e sociais decorrentes desses questionamentos filosóficos?

Concluindo: a mesma espiritualidade encontrada nos centros espíritas pode ser encontrada nas escolas ou em qualquer ambiente de trabalho. 

É só consultar os bons manuais de navegação espiritual e constatar que as circunstâncias são semelhantes, os problemas são iguais e as soluções podem ser idênticas.

Em O Livro dos Espíritos constam, entre tantas outras reflexões sobre espiritualidade e ética , algumas questões que versam diretamente sobre a relação entre matéria e espírito, estreitamente ligadas aos nossos propósitos educativos.

Mas foi num ensaio científico do Espírito André Luiz - Evolução em Dois Mundos - psicografado por Chico Xavier, que encontramos uma informação bem ilustrativa desse nosso tema.

Trata-se de um comentário sobre as nossas atividades mentais durante o sono e o desprendimento do corpo físico, através da mediunidade espontânea. Nesses casos certamente não ficariam de fora nós os professores, os alunos, os funcionários e os gestores das escolas.

 
"É assim que o lavrador, no repouso físico, retorna, em corpo espiritual, ao campo em que semeia, entrando em contacto com as entidades que amparam a Natureza; o caçador volta para a floresta; o escultor regressa, freqüentemente, no sono, ao bloco de mármore de que aspira a desentranhar a obra-prima; o seareiro do bem volve à leira de serviço em que se lhe desdobra a virtude, e o culpado torna ao local do crime, cada qual recebendo de Espíritos afins os estímulos elevados ou degradantes de que se fazem merecedores."


Mas esse nosso retorno mental à escola pode e deve ser desvinculado das características alienadas da mediunidade primitiva para práticas psíquicas mais arrojadas e conscientes.

É possível nos prepararmos para encontros treinados e produtivos, nos moldes dos desdobramentos, na qual se pratica o exercício da memorização e maior aproveitamento das informações obtidas no plano espiritual.

É sempre bom lembrar que todos nós somos Espíritos e médiuns, em maior ou menor grau, encarnados ou desencarnados, crianças ou jovens, adultos ou idosos, somos os mesmos, com virtudes e defeitos, hábitos e gostos, jeitos e trejeitos.

Estamos em toda parte, onde existir vida em sociedade, simples e ignorantes ou complexos e cultos, em constante interação de pensamentos, ações e sentimentos.


Às vezes mudamos de aparência, mas na essência continuamos sendo as mesmas criaturas; mudamos de ponto de vista sobre algumas coisas da vida, de opinião sobre alguns assuntos desse ou daquele contexto, mas continuamos os mesmos.

Só mudamos de fato quando transformamos os nossos sentimentos e atitudes sobre as coisas e as pessoas. Isso realmente nos transforma em outras pessoas, a ponto de não sermos reconhecidos por quem nos conheceu antes.

Quem te viu, quem te vê, heim? Não nos identificamos mais com aquela pessoa do passado, pois adquirimos uma nova identidade. Não são aparências ou máscaras, é mudança real mesmo.

No corpo carnal acontecem as mudanças biológicas, transitórias, pelos regimes alimentares, exercícios físicos, rejuvenescimento ou envelhecimento.

No corpo espiritual essa mudança é diferente e duradoura: ocorre uma iluminação natural, causada pela mudança nas estruturas do perispírito, através do brilho dos centros de força (chacras), que são uma espécie de glândulas etéricas de captação e distribuição de energias e que refletem em forma de luz e cores, formando também a nossa aura.

Nesse caso o espanto de quem nos vê modificado é redobrado.

O problema é que as mudanças reais só acontecem depois de grandes transtornos e perturbações,depois de dores causadas por choques de provas e expiações.

Todo Espírito encarnado sabe disso, pois traz essa informação guardada no inconsciente, entre a zona de conforto e a zona de perigo.

Temos conosco, cada qual com a sua marca, uma equação existencial para ser solucionada em algum momento da vida.

Todos nós sabemos que, mais cedo ou mais tarde, esse momento vai chegar, mesmo que não tenhamos uma lembrança consciente dos compromissos que assumimos antes de reencarnar. É para isso que servem as existências e é também por isso que nos matriculamos na Escola da Vida.

Quem vê ou percebe a presença de Espíritos têm dois tipos de sensação: medo e tristeza, quando estes estão estacionados em sofrimento; ou espanto e alegria, quando nos deparamos com entidades iluminadas, felizes, cuja superioridade natural nos causa emoção como o choro e entusiasmo.

Poucas pessoas percebem, mas quando recebemos a visita de Espíritos apagados, em crise e sofrimento, também temos predisposição em apagar a nossa luz.

Quando são Espíritos lucificados, inexplicavelmente ficamos imensamente alegres.

Até mesmo os animais que estão por perto têm esse tipo de percepção. São situações que não dependem de fórmulas ou amuletos e muito mais do nosso estado emocional. O pensamento atrai e inicia a ligação; e o sentimento consolida o contato.

A espiritualidade está em toda parte, seja como estado de espírito, seja como fenômeno natural.

A primeira é muito útil para manter a paz de espírito, a serenidade, a calma. É, enfim, é a meditação, a imagem e o imaginário da espiritualidade, a oração, a base da sintonia.

A segunda, nessa perspectiva do conflito exterior, também é muito útil, pois é a vigilância, a realidade e o contato direto com os Espíritos.

Muitos educadores são crentes naturais, mas uma grande maioria age como Tomé, precisando ver para crer. 

Daí a nossa idéia de buscar uma espiritualidade mais objetiva e inteligente, fugindo da superstição e do dogma.


Essa possibilidade acontece nas experiências de algumas escolas espiritualistas, ainda de forma subjetiva e nebulosa, mas no Espiritismo ela ocorre de forma clara, científica e sem o misticismo supersticioso e o véu do mistério.

Ao contrário das outras correntes, não falamos com os mortos e sim com os vivos, mais vivos do que nós. 

Espíritos são seres inteligentes e devem ser tratados como tal, sem as marcas obscuras da superstição e da atitude passiva oracular ou adivinhatória.


O apóstolo João recomendava aos seus alunos que verificassem se os Espíritos eram de Deus, ou seja, se eram bem ou mal intencionados. Isso prova que o contato com a espiritualidade é mais antiga e comum do normalmente se pensa.

Também alertava que a nossa relação com eles deve ser de igual para igual, em termos de racionalidade.

Espíritos superiores não se ofendem quando são questionados ou colocados em xeque. Pelo contrário, ficam contentes com a nossa espontaneidade e responsabilidade no trato com as coisas da vida.

Já os pseudo-sábios ficam ofendidos e deslizam dos questionamentos utilizando expedientes que mexem com as nossas fraquezas: divagações poéticas de mau gosto, profecias absurdas, afirmações incoerentes e, principalmente, as posturas de incentivo ao medo e à superstição, aos rituais e fórmulas mágicas.

[...] 


As escolas são lugares tidos como neutros, locais públicos de muitas possibilidades, mas também, por isso mesmo, de muitas proibições.



Numa escola, onde naturalmente se estabelece um jogo de poder entre quem educa e quem vai ser educado, quem vai ensinar e quem vai aprender, entre quem vai avançar e quem vai recuar, acaba predominando a lei do mais forte, ideologicamente falando.

Numa escola, ambiente supostamente neutro e público, mesmo que seja escola particular, quem tem conhecimento realmente tem poder. Por isso, nesse ambiente nem tudo que é público deve ser notório; nem tudo que é possível deve ser realizado.



Esse é o paradigma dominante; esse é o paradigma que atualmente não deve ser desafiado, mas que pode ser mudado. O paradigma dominante é o da matéria; e o novo a ser implantado é o do espírito.



Tocar no assunto espiritualidade em ambientes neutros talvez seja mais tabu do que em lugares assumidamente contrários ao assunto. Nessas situações a timidez rapidamente se transforma em receio e este deságua fatalmente na omissão.



Pronto: lá se foi mais uma oportunidade de falar sobre as coisas que habitualmente não podem ser ditas, mas que a gente tanto gostaria de falar.

Como na música de Fátima Guedes, trilha sonora na primeira versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, falando de fadas, gnomos e duendes, "São segredos nossos, quisera falar das coisas que não posso...".



( Textos extraídos do livro "Espíritos nas Escolas - Encarnados e desencarnados no cotidiano escolar" - de Dalmo Duque dos Santos)

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