Naquela tarde, o trabalho havia sido intenso no consultório médico de nossa jovem espírita. Parecia até que todos os seus pacientes haviam combinado comparecer juntos.
O que mais a preocupava, entretanto, é que estava programada para uma palestra num Centro Espírita, às 14 horas, devendo discorrer sobre a paciência, no Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo IX, nº 7 a 10.
Atendido o último consulente, assustou-se, ao consultar o relógio: estava com pouco tempo e não desejava faltar ao compromisso doutrinário.
Entrou em seu carro e logo disparou, disposta a fazer o possível para chegar a tempo.
Acontece, porém, que na estrada à sua frente alguém ziguezagueava, ora para a direita, ora para a esquerda, ou para o meio da pista, atrapalhando-a.
Imaginou até que era de propósito para impedir-lhe a ultrapassagem desejada o que, aliás, muito a irritava.
A continuar assim, iria perder a hora da palestra. Também, com um motorista daquela espécie!...
Felizmente, numa reta maior da estrada, conseguiu a ultrapassagem de que precisava e, ao emparelhar com o motorista (era uma mulher), não se conteve e pespegou-lhe sua impaciência num desaforo:
-"Sua burra, por que não aprende, primeiro, a dirigir uma carroça?"
Correu quanto pôde e, afinal, chegou a tempo para fazer sua palestra.
Já sentada à mesa, quando ia começar sua exposição, contemplando o auditório, teve uma surpresa: a motorista xingada estava presente, para ouvi-la.
Seus olhos cruzaram-se com os da assistente, que logo se levantou, abandonando o salão.
A expositora entendeu o gesto mudo de reprovação da assistente que, com sua retirada, contestava-lhe a autoridade para falar sobre paciência.
(Esse Capelli)
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