15 outubro 2011


Despe-te de verdades,

das grandes primeiro que das pequenas,

das tuas antes que de quaisquer outras,

abre uma cova e enterra-as

a teu lado,

primeiro as que te impuseram eras ainda imbele

e não possuías mácula senão a de um nome estranho,

depois as que crescendo penosamente vestiste

a verdade do pão a verdade das lágrimas,

pois não és flor nem luto nem acalento nem estrela,

depois as que ganhaste com o teu sémen,

onde a manhã ergue um espelho vazio

e uma criança chora entre nuvens e abismos,

depois as que hão-de pôr em cima do teu retrato

quando lhes forneceres a grande recordação

que todos esperam tanto porque a esperam de ti.

Nada depois, só tu e o teu silêncio

e veias de coral rasgando-nos os pulsos.

Então, meu senhor, poderemos passar

pela planície nua,

o teu corpo com nuvens pelos ombros,

as minhas mãos cheias de barbas brancas.

Aí não haverá demora nem abrigo nem chegada,

mas um quadrado de fogo sobre as nossas cabeças

e uma estrada de pedra até ao fim das luzes

e um silêncio de morte à nossa passagem.



(Cesariny, in “Discurso ao Príncipe Epaminondas, mancebo de futuro”)



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