Despe-te de verdades,
das grandes primeiro que das pequenas,
das tuas antes que de quaisquer outras,
abre uma cova e enterra-as
a teu lado,
primeiro as que te impuseram eras ainda imbele
e não possuías mácula senão a de um nome estranho,
depois as que crescendo penosamente vestiste
a verdade do pão a verdade das lágrimas,
pois não és flor nem luto nem acalento nem estrela,
depois as que ganhaste com o teu sémen,
onde a manhã ergue um espelho vazio
e uma criança chora entre nuvens e abismos,
depois as que hão-de pôr em cima do teu retrato
quando lhes forneceres a grande recordação
que todos esperam tanto porque a esperam de ti.
Nada depois, só tu e o teu silêncio
e veias de coral rasgando-nos os pulsos.
Então, meu senhor, poderemos passar
pela planície nua,
o teu corpo com nuvens pelos ombros,
as minhas mãos cheias de barbas brancas.
Aí não haverá demora nem abrigo nem chegada,
mas um quadrado de fogo sobre as nossas cabeças
e uma estrada de pedra até ao fim das luzes
e um silêncio de morte à nossa passagem.
(Cesariny, in “Discurso ao Príncipe Epaminondas, mancebo de futuro”)
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