10 fevereiro 2012

O Barco Vazio

 
Um dos maiores mestres zen, Lin Chi, costumava dizer:

Quando era jovem adorava andar de barco.

Tinha um barquinho e remava sozinho num lago. Ficava ali durante horas.

Uma vez, estava em meu barco, de olhos fechados, meditando, numa noite esplêndida.

Então outro barco veio flutuando, trazido pela corrente, e bateu no meu.

Meus olhos estavam fechados, então pensei: alguém bateu o barco no meu. Enchi-me de raiva. Abri os olhos e estava a ponto de vociferar algo para o homem, quando percebi que o barco estava vazio!

Então não havia onde descarregar a minha raiva.

Em quem eu iria extravasá-la? O barco estava vazio, à deriva no lago e tinha colidido com o meu.

Então não havia nada a fazer. Não havia possibilidade de projetar a raiva num barco vazio.

Fechei os olhos. A raiva estava ali. Mas não sabia como extravasar.

Fechei os olhos simplesmente e flutuei de volta com a raiva.

E esse barco vazio tornou-se a minha descoberta.

Atingi um ponto dentro de mim naquela noite silenciosa.

Esse barco vazio foi meu mestre.

E, se agora alguém vem me insultar, eu rio e digo: esse barco também está vazio.

Fecho os olhos e mergulho dentro de mim.



(Osho) 

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