03 fevereiro 2012

O Palavrão


Como você define o palavrão?

Um eco das cavernas, o rosnar do troglodita que ainda existe no comportamento humano.



Conheço gente civilizada que diz palavrões. 


Destempero verbal, civilidade superficial.

 

Seria uma educação de fachada?


Sim. Não podemos confundir rótulo com conteúdo. É fácil cultivar urbanidade nos bons momentos. Mostramos quem somos quando nos pisam nos calos ou martelamos os dedos.

 

Não seria razoável considerar que em circunstâncias assim o palavrão é útil, exprimindo indignação ou amenizando a dor?


Há quem diga que nessas situações ele é mais eficiente do que uma oração. Só que a oração nos liga ao Céu. O palavrão nos coloca à mercê das sombras.



Mas o que vale não é o sentimento, expresso na inflexão de voz?


Posso fazer carinho com um palavrão ou agredir com palavras carinhosas. Não me parece do bom gosto demonstrar carinho com palavrões. imagine-se dando uma paulada carinhosa em alguém. Além disso há o problema vibratório.

 

As palavras têm peso vibratório específico?


Intrinsecamente não. No entanto, revestem-se de magnetismo compatível com o uso que fazemos delas. Há uma vibração sublime, que nos edifica e emociona, a envolver o Sermão da Montanha. Quando o lemos contritos, sintonizamos com a vibração sublime de milhões de cristãos que ao longo dos séculos se debruçaram sobre seus conceitos sublimes, em gloriosas reflexões.



Considerando assim, imagino a carga deletéria que há no palavrão mais usado, em que “homenageamos” a mãe de nossos desafetos.


Sem dúvida, além de nos colocar abaixo do comportamento do troglodita, já que este agredia seus desafetos, não a mãe deles.

 

Você há de convir que é difícil abolir o palavrão inteiramente. Há todo um processo de condicionamento, o ambiente. Lá em casa, por exemplo, ele corre solto.


Isso é relativo. Venho de uma família de italianos da Calábria, um povo que cultua adoidado o palavrão. Alguns tios meus, em situação de irritação extrema, dirigiam impropérios a Deus. Desde cedo, vinculando-me ao Espiritismo, compreendi que esse tipo de linguajar não interessa ao bom relacionamento familiar e muito menos à nossa economia espiritual.

 
 

(Texto extraído do livro “Não pise na bola” - Richard Simonetti)

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