É fácil saber se um amor é o primeiro amor ou não.
Se admite que possa ser o primeiro, é porque não é, o primeiro amor só pode parecer o último amor.
É o único amor, o máximo amor, o irrepetível e incrível e antes morrer que ter outro amor. Não há outro amor. O primeiro amor ocupa o amor todo.
Nunca se percebe bem por que razão começa. Mas começa. E acaba sempre mal "só porque acaba".
Todos os dias parece estar mesmo a começar porque as coisas vão bem, e o coração anda alto. E todos os dias parece que vai acabar porque as coisas vão mal e o coração anda em baixo.
O primeiro amor dá demasiadas alegrias, mais do que a alma foi concebida para suportar.
É por isso que a alegria dói — porque parece que vai acabar de repente.
E o primeiro amor dói sempre de mais, sempre muito mais do que aguenta e encaixa o peito humano, porque a todo o momento se sente que acabou de acabar de repente.
O primeiro amor não deixa de parte "um único bocadinho de nós".
Nenhuma inteligência ou atenção se consegue guardar para observá-lo. Fica tudo ocupado. O primeiro amor ocupa tudo. E inobservável. É difícil sequer refletir sobre ele.
O primeiro amor leva tudo e não deixa nada.
Diz-se que não há amor como o primeiro e é verdade.
Há amores maiores, amores melhores, amores mais bem pensados e apaixonadamente vividos.
Há amores mais duradouros. Quase todos.
Mas não há amor como o primeiro.
É o único que estraga o coração e que o deixa estragado.
(Miguel Esteves Cardoso, in “Os Meus Problemas”)
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