04 abril 2012

Por que matamos Jesus?


Estamos na Semana Santa e eis que me fiz essa pergunta...

A resposta?

Reflitamos todos, através deste interessante texto .

* * *

Por que matamos Jesus?


Durante um encontro de catequese familiar que fizemos lá na Vargem Grande, uma criança perguntou: 
“Por que mataram Jesus?”.

Algumas pessoas riram da pergunta (que parecia infantil) e várias respostas prontas já surgiram: 
"Jesus morreu pelo perdão dos nossos pecados”,“Jesus morreu para que Deus mostrasse a sua glória”.

Mas a pergunta da menina tinha uma profundidade interessante: ela não havia perguntado “por que Jesus morreu?” e sim “por que mataram Jesus?”.

A questão é profunda porque nos leva a pensar no motivo que teriam para matar alguém que só fazia o bem, alguém que curava os doentes, alguém que falava de paz e de amor, alguém que só dizia a verdade…

E a resposta para a questão começa pela Verdade.

A Verdade de Jesus abalava a estrutura de poder da época.

Ele falava de um mundo no qual os pobres eram bem
aventurados, anunciava um Reino no qual os excluídos da época (prostitutas, doentes, cobradores de impostos) precederiam os escribas e fariseus.

Tinha a ousadia de chamar Deus de Pai, e dizer que era “Pai nosso”, o que transformava todos em irmãos.

Isso era demais para uma sociedade que sustentava que os poderosos eram escolhidos por Deus.

Uma sociedade que dizia que os pobres e doentes viviam esta condição por castigo divino,devido aos seus pecados.

Aceitar o Deus de Jesus implicaria em alterar o modelo de poder, implicaria em abrir mão de conforto, em rever atitudes.

Era mais fácil matar Jesus e deixar “tudo como estava”.

Após chegarmos a esta resposta para a pergunta “por que mataram Jesus?”, dei um salto no tempo e cheguei aos dias de hoje.

Lembrei da palestra que o padre Daniel deu em nossa Escola Bíblico-catequética sobre os perigos da leitura fundamentalista da Bíblia, na qual interpretamos a Escritura “ao pé da letra” usando só a parte que nos interessa.

E fazendo isso, lembrei de tantas vezes que, como Igreja, nos comportamos como os escribas e fariseus, matando Jesus novamente.

Quando agimos assim?

Simplesmente quando esquecemos da opção de Jesus pelos pobres.

Quando lembramos das curas de Cristo, mas esquecemos que ele acolhia e perdoava os pecadores.

Quando lembramos da missão dos apóstolos, mas esquecemos que eles eram pescadores, cobradores de impostos, pessoas do povo.

Quando exaltamos o exemplo de Maria, mas omitimos a revolução social presente nas palavras que ela falou para Isabel.

Quando buscamos o Cristo dos milagres, mas negamos o Cristo que abraçava os mais humildes.

Quando queremos compartilhar a glória do Cristo elevado aos céus, mas não aceitamos passar pelo sofrimento da cruz.

Matamos Jesus quando negamos o Deus que Ele é e criamos um deus à imagem e semelhança dos nossos preconceitos. Um deus distante, incapaz de fazer a opção pelos excluídos.

É mais fácil tentar matar este Jesus e deixar “tudo como está”.

Mas, assim como ocorreu há dois mil anos, é um grande engano achar que tudo ficará como está.

Jesus segue se apresentando a nós, na figura do mendigo, do drogado, do morador de rua e de todos os excluídos.

E a semente do Evangelho está sempre brotando nas comunidades, disposta a ressuscitar um modelo de sociedade na qual não haja a morte de Jesus,mas sim a vida…

E vida em abundância!


Gerson (comunidade de Vargem Grande)



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