11 agosto 2012

Envelhecer...

  
Nunca tive medo de envelhecer.

De ver as mãos enrugar em sabedoria.

Dos cabelos ficarem brancos como as nuvens que embelezam o céu.

Nunca tive medo das pernas não terem força depois de ter corrido tanto por uma longa vida feliz. Nem da visão ficar turva pra guardar apenas na memória a beleza das flores. Envelhecer, pra mim, é presente de Deus.

Meu medo é de dormir no amor, e vê-lo amanhecer velho.

Da paixão esquentar o sangue durante à noite, e amanhecer velha.

Medo da esquizofrenia das palavras envelhecidas em mim e nas pessoas.

Medo de que a minha esperança sofra do mal de Alzheimer, e se perca por aí.

Medo do coração enrugar de propósito, pela resistência ao amor, à generosidade, à afetividade e a fé.

Minha maior tristeza é  ver envelhecer em mim vontade de ser constantemente melhor para àqueles que merecem que eu seja. De não reconhecer minha felicidade no espelho. Que meu respeito e amor próprio precisem de muletas, de óculos de grau e de cuidados especiais de enfermeiros.

Tenho medo de  ver envelhecer em mim a coragem de cumprir meus objetivos.

De que esta mesma coragem permita que fios de cabelos brancos sejam uma desculpa para não sair mais de casa. Medo de que a minha alegria perca a visão aos poucos, de que a minha imaginação sofra de Parkinson, e assim, trêmula, desista de existir.

Tenho medo da velhice da educação e do respeito entre as pessoas. 

De  que estas coisas fiquem preguiçosas e não queiram se manifestar.

Mas, envelhecer com o tempo entregue por Deus, não temo.

Quero ver os filhos dos meus filhos brincando com a minha lentidão nas pernas e com minhas gargalhadas tranqüilas.

E, que o mesmo tempo que vier me tirar as cores dos cabelos e a firmeza nas palavras, não me impeça ser sempre uma criança na alma.


(Camila Heloíse)





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