Nunca tive medo de envelhecer.
De ver as mãos enrugar em sabedoria.
Dos cabelos ficarem brancos como as nuvens que embelezam o céu.
Nunca tive medo das pernas não terem força depois de ter corrido tanto por uma longa vida feliz. Nem da visão ficar turva pra guardar apenas na memória a beleza das flores. Envelhecer, pra mim, é presente de Deus.
Meu medo é de dormir no amor, e vê-lo amanhecer velho.
Da paixão esquentar o sangue durante à noite, e amanhecer velha.
Medo da esquizofrenia das palavras envelhecidas em mim e nas pessoas.
Medo de que a minha esperança sofra do mal de Alzheimer, e se perca por aí.
Medo do coração enrugar de propósito, pela resistência ao amor, à generosidade, à afetividade e a fé.
Minha maior tristeza é ver envelhecer em mim vontade de ser constantemente melhor para àqueles que merecem que eu seja. De não reconhecer minha felicidade no espelho. Que meu respeito e amor próprio precisem de muletas, de óculos de grau e de cuidados especiais de enfermeiros.
Tenho medo de ver envelhecer em mim a coragem de cumprir meus objetivos.
De que esta mesma coragem permita que fios de cabelos brancos sejam uma desculpa para não sair mais de casa. Medo de que a minha alegria perca a visão aos poucos, de que a minha imaginação sofra de Parkinson, e assim, trêmula, desista de existir.
Tenho medo da velhice da educação e do respeito entre as pessoas.
De que estas coisas fiquem preguiçosas e não queiram se manifestar.
Mas, envelhecer com o tempo entregue por Deus, não temo.
Quero ver os filhos dos meus filhos brincando com a minha lentidão nas pernas e com minhas gargalhadas tranqüilas.
E, que o mesmo tempo que vier me tirar as cores dos cabelos e a firmeza nas palavras, não me impeça ser sempre uma criança na alma.
(Camila Heloíse)
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