23 setembro 2012

Como um pombo-correio



Levaram minh’alma para longe da Pátria querida — e soltaram-na em terra estranha...

E ela, qual pombo-correio, norteando-se, ergueu vôo, rumo à querência...

De sol a sol até ao cair na noite pressaga, voa a avezinha por espaços ignotos, cheia de saudades...

De quando em quando, exausta, abate o vôo e pousa no alto dum rochedo, numa cerca, ou cai no meio dum canteiro em flor...

E dizem então os homens, esses ingênuos, que minh’alma se esqueceu da pátria e se enamorou de terra estranha...

Dizem que a pobre avezinha deixou de ser o que era — para ser o que não era.

Não sabem eles, esses ingênuos, que não é por amor aos rochedos, às cercas ou às flores da terra que minh’alma desceu das alturas...

Retorne ao meu coração a energia normal do meu ser — e vereis, ó ingênuos, que não me sofrem aqui as saudades de minh’alma...

Expandirei nos mares azuis do espaço a potência das asas levíssimas — e adeus, rochedos, cercas e flores da terra!...

Quanto mais forte e normal é o meu ser — tanto mais cruciante me dilacera a saudade de Deus...

Quando me cerca universal abundância — mais do que nunca sinto a minha indigência...

Quando me enche a mais farta plenitude material — então me atormenta a mais faminta vacuidade espiritual...

Quando nada me falta das coisas tangíveis — mais do que nunca sofro a sede do intangível...

Quando a consciência do Eu atinge o zênite do seu poder — então a inteligência ilumina o nadir da minha inquietude metafísica...

Quanto mais forte e mais “ela mesma” é minh’alma — tanto menos prazer encontra em repousar em rochedos, cercas e canteiros...

Só em transes de fadiga e desânimo, quando ao pleni-Eu sucede um semi-Eu ou um pseudo-Eu — deixa meu espírito de voar em demanda da pátria longínqua...

Ergue-te, pois, aos espaços, pombo-correio de minh’alma!

Divina é a mensagem que tens de levar à humanidade!

A mensagem da verdade e da vida...

A mensagem da justiça e da paz...

A mensagem do amor e da graça...

O Aleluia da Páscoa e o hosana da infinita beatitude...


(in  “De Alma para Alma”,  de Huberto Rohden)

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