Levaram minh’alma
para longe da Pátria querida — e soltaram-na em terra estranha...
E ela, qual
pombo-correio, norteando-se, ergueu vôo, rumo à querência...
De sol a sol até ao
cair na noite pressaga, voa a avezinha por espaços ignotos, cheia de
saudades...
De quando em quando,
exausta, abate o vôo e pousa no alto dum rochedo, numa cerca, ou cai
no meio dum canteiro em flor...
E dizem então os
homens, esses ingênuos, que minh’alma se esqueceu da pátria e se
enamorou de terra estranha...
Dizem que a pobre
avezinha deixou de ser o que era — para ser o que não era.
Não sabem eles, esses
ingênuos, que não é por amor aos rochedos, às cercas ou às
flores da terra que minh’alma desceu das alturas...
Retorne ao meu coração
a energia normal do meu ser — e vereis, ó ingênuos, que não me
sofrem aqui as saudades de minh’alma...
Expandirei nos mares
azuis do espaço a potência das asas levíssimas — e adeus,
rochedos, cercas e flores da terra!...
Quanto mais forte e
normal é o meu ser — tanto mais cruciante me dilacera a saudade de
Deus...
Quando me cerca
universal abundância — mais do que nunca sinto a minha
indigência...
Quando me enche a mais
farta plenitude material — então me atormenta a mais faminta
vacuidade espiritual...
Quando nada me falta
das coisas tangíveis — mais do que nunca sofro a sede do
intangível...
Quando a consciência
do Eu atinge o zênite do seu poder — então a inteligência
ilumina o nadir da minha inquietude metafísica...
Quanto mais forte e
mais “ela mesma” é minh’alma — tanto menos prazer encontra
em repousar em rochedos, cercas e canteiros...
Só em transes de
fadiga e desânimo, quando ao pleni-Eu sucede um semi-Eu ou um
pseudo-Eu — deixa meu espírito de voar em demanda da pátria
longínqua...
Ergue-te, pois, aos
espaços, pombo-correio de minh’alma!
Divina é a mensagem
que tens de levar à humanidade!
A mensagem da verdade e
da vida...
A mensagem da justiça
e da paz...
A mensagem do amor e da
graça...
O Aleluia da Páscoa e
o hosana da infinita beatitude...
(in “De Alma para
Alma”, de Huberto Rohden)
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