11 outubro 2012

Amigo Desconhecido



Em certa altura da minha vida, lá em meados da década de 70, estava eu no guichê do Aeroporto de Nova Iorque, buscando embarcar para Detroit, onde teria uma reunião em dois dias.

Havia um grande movimento naquele dia e acabei comprando a última passagem. 

Notei, depois, que um rapaz mais ou menos da minha idade tentava, a todo custo, embarcar, argumentando que tinha urgência em ver a mãe, que estava agonizante.

Como tinha tempo para meu compromisso, aproximei-me e ofereci a ele o eu lugar. Ele aceitou, demonstrando imensa gratidão, e se foi, apressado, sem ao menos dizer seu nome.

Horas depois, num hotel, fui surpreendido com a infeliz notícia da queda do avião. O mundo pesou sobre mim e, a partir daquele momento, passei a carregar a culpa de ter mandando para a morte alguém que eu sequer conhecia.

Passou o tempo, casei-me, fiz família.

Chegou também a minha vez, embora fosse ainda jovem. Doença rara e gravíssima me levou ao túmulo rapidamente, me obrigando a deixar para trás esposa e filhos adolescentes.

A revolta foi grande e recusei-me a seguir em frente.

E, como grande parte dos espíritos renitentes, por mais que quisesse ficar em casa, invariavelmente ia parar nos umbrais. 

Fiquei muito tempo de lá para cá, desorientado e sofrendo muito em minha ignorância.

Até que um dia o sentimento de culpa pela morte daquele desconhecido me pegou de jeito e me vi andando a esmo por lugares estranhos. 

Ao longe vislumbrei destroços de um avião e aproximei-me, um frio percorrendo minha espinha.

Havia por lá muitos "sobreviventes", todos tão maltrapilhos e tão perdidos quanto eu. Por muito tempo procurei, em vão, a pessoa que morreu em meu lugar.

"Vejo que a sua hora também chegou", disse alguém às minhas costas.

Virei-me e deparei com o amigo desconhecido, que abriu largo e acolhedor sorriso.

"Vim buscar-te, para salvar-te com também me salvou. Desde aquele dia, fixaste em tua mente a idéia de ter me mandado para morte em teu lugar. Bobagem!
Na verdade, salvaste-me de graves e dolorosos dissabores, que me esperavam caso eu não passasse por aquele trágica transposição. Eras as opções que tinha para saldar minhas dívidas anteriores".

Meu amigo desconhecido disse-me também que cada um naquele avião tinha a sua razão de estar ali, e tinham o compromisso de partir daquela abrupta maneira, embora alguns, como pude ver, não tinham ainda consciência do fato e permaneciam alienados ao lado dos destroços da aeronave.

"Perderão a prova?" perguntei.

"Só depende deles. Deus não desampara ninguém" respondeu meu amigo, complementando: "Aqui estou e te convido para seguir comigo para lugares melhores, onde poderás aprender e recuperar-te."

Perguntei sobre sua mãe, que na época do acidente estava gravemente enferma, no que ele me respondeu:

"Ela estava presente no momento que o avião tocou o chão. Foi ela que me pegou pela mão e me conduziu para a nova vida. Ela havia deixado o corpo momentos antes e, espírito de elevada moral que era, teve forças para comparecer ao local junto ao grupo de socorro para ajudar-me e a muitos que ali estavam. Como vês, Deus é sempre por nós!"

Mesmo hoje, depois de tantos anos, se me perguntarem o nome desde amigo, eu ainda direi: "não sei...".


Jim Taylor


(Psicografado por: Cleber P. Campos)




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