Em certa altura da
minha vida, lá em meados da década de 70, estava eu no guichê do
Aeroporto de Nova Iorque, buscando embarcar para Detroit, onde teria
uma reunião em dois dias.
Havia um grande
movimento naquele dia e acabei comprando a última passagem.
Notei,
depois, que um rapaz mais ou menos da minha idade tentava, a todo
custo, embarcar, argumentando que tinha urgência em ver a mãe, que
estava agonizante.
Como tinha tempo
para meu compromisso, aproximei-me e ofereci a ele o eu lugar. Ele
aceitou, demonstrando imensa gratidão, e se foi, apressado, sem ao
menos dizer seu nome.
Horas depois, num
hotel, fui surpreendido com a infeliz notícia da queda do avião. O
mundo pesou sobre mim e, a partir daquele momento, passei a carregar
a culpa de ter mandando para a morte alguém que eu sequer conhecia.
Passou o tempo,
casei-me, fiz família.
Chegou também a
minha vez, embora fosse ainda jovem. Doença rara e gravíssima me
levou ao túmulo rapidamente, me obrigando a deixar para trás esposa
e filhos adolescentes.
A revolta foi grande
e recusei-me a seguir em frente.
E, como grande parte
dos espíritos renitentes, por mais que quisesse ficar em casa,
invariavelmente ia parar nos umbrais.
Fiquei muito tempo de lá para
cá, desorientado e sofrendo muito em minha ignorância.
Até que um dia o
sentimento de culpa pela morte daquele desconhecido me pegou de jeito
e me vi andando a esmo por lugares estranhos.
Ao longe vislumbrei
destroços de um avião e aproximei-me, um frio percorrendo minha
espinha.
Havia por lá muitos
"sobreviventes", todos tão maltrapilhos e tão perdidos
quanto eu. Por muito tempo procurei, em vão, a pessoa que morreu em
meu lugar.
"Vejo que a
sua hora também chegou", disse alguém às minhas costas.
Virei-me e deparei
com o amigo desconhecido, que abriu largo e acolhedor sorriso.
"Vim buscar-te,
para salvar-te com também me salvou. Desde aquele dia, fixaste em
tua mente a idéia de ter me mandado para morte em teu lugar.
Bobagem!
Na verdade,
salvaste-me de graves e dolorosos dissabores, que me esperavam caso
eu não passasse por aquele trágica transposição. Eras as opções
que tinha para saldar minhas dívidas anteriores".
Meu amigo
desconhecido disse-me também que cada um naquele avião tinha a sua
razão de estar ali, e tinham o compromisso de partir daquela abrupta
maneira, embora alguns, como pude ver, não tinham ainda consciência
do fato e permaneciam alienados ao lado dos destroços da aeronave.
"Perderão a
prova?" perguntei.
"Só depende
deles. Deus não desampara ninguém" respondeu meu amigo,
complementando: "Aqui estou e te convido para seguir comigo para
lugares melhores, onde poderás aprender e recuperar-te."
Perguntei sobre sua
mãe, que na época do acidente estava gravemente enferma, no que ele
me respondeu:
"Ela estava
presente no momento que o avião tocou o chão. Foi ela que me pegou
pela mão e me conduziu para a nova vida. Ela havia deixado o corpo
momentos antes e, espírito de elevada moral que era, teve forças
para comparecer ao local junto ao grupo de socorro para ajudar-me e a
muitos que ali estavam. Como vês, Deus é sempre por nós!"
Mesmo hoje, depois
de tantos anos, se me perguntarem o nome desde amigo, eu ainda direi:
"não sei...".
Jim Taylor
(Psicografado por:
Cleber P. Campos)
* * *
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