Relato de episódio verificado no ano de 1823, vivido pelo escritor Coelho Neto, um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Caso que o levou a
converter-se ao Espiritismo e que, publicado pelo “Jornal do Brasil
(7/ 06/ 1823), provocou grande alarido nos meios culturais,
especialmente porque o célebre escritor era ateu convicto e um
combatente obstinado da doutrina kardecista, por considerá-la a mais
ridícula das superstições.
Como relata Coelho
Neto, numa entrevista intitulada “conversão”, relatou a
experiência que tivera e que o impressionara tanto. Assim o escritor
relatou o caso:
“Depois da morte
da pequenina Ester, que era o nosso enlevo, a vida tornou-se sombria.
Minha mulher, para quem a neta era tudo, não fazia outra coisa senão
evocá-la, reunindo lembranças:
roupas, brinquedos, etc.
Júlia... Coitada!
Nem sei como resistiu à perda do marido e, seis meses depois, a da
filha.
Pensei perdê-la.
Todas as manhãs lá
ia ela para o cemitério, cobrir o pequeno túmulo de flores, e lá
ficava horas e horas, conversando com a terra, com o mesmo carinho
com que conversava com a filha. Ia, depois, ao túmulo do marido e
assim vivia entre mortos, alheia ao mais, indiferente a tudo.
Propus mudarmo-nos
para Copacabana. Opôs-se. Insistiu em ficar em casa, em que fora
feliz e desgraçada, mas onde perduravam recordações do seu tempo
de ventura.
Temi que a
seduzissem para o Espiritismo. No estado de abatimento moral em que
ela se achava, seria arriscado perturbar-lhe a razão com prática
nigromânticas.
As minhas ordens
severas foram obedecidas: Júlia passava os dias no quarto, que fora
da filha falecida, e de fora ouvíamo-la falar, rir, contar histórias
de fadas, exatamente como fazia durante a vida da criança.
Tais ilusões eram
bálsamos que aliviavam a alma, como a morfina alivia as dores.
Cessada a ilusão, o desespero irrompia mais forte.
Era assim.
Uma manhã, porém,
com surpresa de todos, Júlia apareceu-nos risonha.
Interroguei-a.
Sorriu.
Interroguei minha
mulher. Nada.
Confesso que cheguei
a pensar que ela se interessara por Lucílio, que se tornava mais
assíduo nas visitas...
Já começava a
fazer-me tal idéia quando uma noite minha mulher entrou-me pelo
escritório, lavada em lágrimas, e disse-me, abraçando-me, que a
filha enlouquecera. “Ela está lá embaixo, ao telefone, falando
com Ester”.
Espantado perguntei:
- Que Ester?
- Ora, ora... A
filha...
Encarei-a
demoradamente, certo que a louca era ela, não Júlia.
Como se captasse meu
pensamento, ela insistiu:
-Lá está. Se queres convencer-te, vem
até a escada. Poderás ouvi-la.
Fui com minha mulher
até a balaustrada do primeiro andar.
Júlia falava baixo,
no escuro. Não conseguíamos ouvir uma palavra. Era um sussurro
meigo, cortado de risinhos. O que me pareceu que a conversa era de
amor.
-Por que dizes que
ela fala com Ester? - perguntei à minha mulher.
-Porque ela mesma
mo confessou e não imaginas com que alegria.
Fiquei estatelado,
sem compreender o que ouvia.
De repente, numa decisão, entrei no
escritório onde havia uma extensão telefônica, levantei lentamente
o fone do aparelho, apliquei-o ao ouvido e ouvi.
Ouvi minha neta.
Reconheci-lhe a voz. Mas não foi a voz o que me impressionou, que me
fez sorrir e chorar, senão o que ela dizia.
Ainda que eu
duvidasse, com toda a minha incredulidade, havia de convencer-me,
tais eram as referências, as alusões que a pequenina voz do Além
fazia a fatos, incidentes da vida que conosco vivera.
Ouvi toda a conversa
e compreendi que nos estamos aproximando da grande era; que o finito
defronta o infinito, e das fronteiras que os separam, as almas já se
comunicam.”
Em resposta à
indagação que lhe fez um jornalista sobre como consegue D. Júlia
pôr-se em comunicação com o espírito da filha, Coelho Neto
respondeu: “Quando Júlia deseja comunicar-se com a filha,
invoca-a, chama-a com o coração, com o amor e ouve-lhe
imediatamente a voz”.
Coelho Neto testemunhou
pessoalmente uma comunicação (TCI) por telefone, entre sua filha
viva e a sua neta falecida há poucos meses, e não duvidou da
verdade dos que estava acontecendo, em sua própria casa.
Este fato fez de um
perseguidor ferrenho do Espiritismo, um ardoroso defensor do mesmo,
um participante entusiasmado nas tarefas do Centro.
Hoje sabemos que o
fenômeno da Transcomunicação Instrumental com os Espíritos (TCI)
faz parte de estudos e de pesquisa em vários países da Europa, nos
EEUU e no Brasil.
Fonte:
http://misteriosdesteedooutroreal.blogspot.com.br/2012/07/comunicacao-telefonica-com-o-alem.html
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