Texto muito
interessante publicado no “Jornal Comunica Ação
Espírita”, em 03 de 2009, 72ª edição, mas que considero atual e que merece ser lido, para nossa reflexão.
* * *
A missão espiritual de
Barack Obama
(Por Wilson Czerski)
A simples possibilidade
de eleição de um negro com nome árabe para a presidência dos EUA
já mexia com o imaginário popular e criava expectativas entre
políticos, empresários e líderes do mundo inteiro.
A confirmação veio
pelas urnas e depois a posse como um dos acontecimentos mais
surpreendentes da vida mundial recente.
É cedo para avaliar se
Obama poderá aplacar, ao menos, as necessidades mais urgentes que se
impõem a uma sociedade cansada de guerras inúteis e assolada por
uma das piores crises econômicas de todos os tempos.
E o mundo globalizado
segue com a mesma ansiedade pois, quer queira-se ou não, o papel da
superpotência é inegável e todos os habitantes do planeta
dependem, em algum grau, do que acontece na terra do tio Sam.
Importante percorrermos
os olhos por algumas das questões de “O Livro dos Espíritos”
que tratam das missões.
Seria Barack um
missionário? E seu antecessor, George W. Bush, com sua arrogância e
forte inspiração religiosa também teve a sua? As críticas a ele
dirigidas significam que fracassou na sua execução? E o nosso
presidente Lula é também um missionário? Muitos trechos de seus
discursos parecem indicar que ele próprio acredita estar revestido
desse messianismo.
Antes de mais nada é
preciso entender que missionário não é somente aquele encarregado
de expressivas realizações no campo da religião, do humanismo, da
ciência ou das lideranças em diversas searas da atividade humana,
inclusive política e militar.
Certamente que Gandhi,
Joana D’Arc, Napoleão, Shakespeare, os papas, Chico Xavier,
Einstein, Madre Teresa, Lincoln, Allan Kardec, Martin Luther King,
Mozart e centenas de outras personalidades que desfilaram no palco
terrestre foram missionários.
Mas na questão 582,
por exemplo, os Instrutores Espirituais ensinam que o simples
exercício da paternidade, fato corriqueiro e ao alcance da quase
totalidade das pessoas, se incluirmos aí a maternidade, constitui
uma missão.
Já na Q. 571, quando
Kardec indaga se somente Espíritos elevados cumprem missões, a
resposta esclarece depender da importância da mesma. “O
estafeta – exemplificam – cumpre também uma missão, mas que não
é a do general”.
Neste sentido, todos
somos missionários: nas responsabilidades familiares assumidas, na
contribuição socioeconômica do nosso trabalho profissional e na
forma como atendemos as suas exigências, transformando, às vezes,
tarefas simples em exemplos de dedicação, dignidade, humildade,
etc. Ou por abraçar e humanizar profissões como a medicina ou a
carreira de professor.
Nosso papel missionário
pode avançar para outros setores de atuação como na própria
prática religiosa, na benemerência, no desenvolvimento de uma arte,
na criação de uma solução para um problema da coletividade, tudo
isto sem que o indivíduo seja alçado à fama e glória do
reconhecimento público, mas é uma missão, ou várias, para as
quais ele é chamado a desempenhar, geralmente, desde a fase
antecedente à sua atual reencarnação por força de sugestões dos
amigos espirituais bem como por sua própria solicitação.
Tudo isto encontra
confirmação na Q. 573 sobre a missão dos Espíritos encarnados,
uma vez que os desencarnados também as têm: a proteção e auxílio
aos encarnados, tarefas em colônias espirituais, a própria
codificação espírita por eles transmitida.
Mas daqueles que por
aqui estão fisicamente, há missões para “instruir e ajudar no
progresso os outros homens, melhorar suas instituições, mas não
são mais ou menos importantes como o que cultiva a terra e o que
governa”.
Na questão 575, ao
elaborar a pergunta, Kardec explica que a missão, numa acepção
mais restrita do termo, possui um caráter mais amplo, menos
exclusivo ou pessoal.
Então, como se poderia
reconhecer um missionário na Terra? Pelas grandes coisas que ele
realiza, pelo progresso a que conduz seus semelhantes, respondem.
Também somos
esclarecidos que pode haver vários candidatos à mesma missão.
Quando há um trabalho
coletivo numa instituição espírita, por exemplo, talvez muitas
destas pessoas possam ter sido reunidas para trabalhar juntas, mas a
presidência de um país, mesmo considerando o transcorrer do tempo e
as sucessões no cargo, bem poucos poderiam ser designados para ela.
Claro que não podemos
falar em missão a ocupação do cargo máximo de um país quando
realizado por vias alheias à vontade do povo.
A tomada de poder pela
força e visando a pura satisfação de ambições pessoais ou é de
iniciativa puramente humana ou, se havia uma expectativa positiva em
relação a esse indivíduo, os meios empregados denunciam o completo
fracasso da missão.
Porém, ainda assim, na
Q. 584 encontramos que “um conquistador que não tem em vista
senão satisfazer sua ambição e não recua diante de nenhuma
calamidade que cause”, não deixa de ser “um instrumento de Deus
que se serve dele para o cumprimento de seus desígnios” e até
esses prejuízos causados, às vezes, são um meio de fazer um povo
avançar mais depressa.” Ou seja, Deus sempre tira do Mal o
Bem.
Outro detalhe: nem
sempre o indivíduo é designado para uma missão importante antes do
nascimento porque com freqüência ele se torna instrumento de um
outro espírito para execução de determinada ação.
O exemplo dado em “O
Livro dos Espíritos” é o de um escritor que está atualmente
desencarnado e que não podendo escrever diretamente um livro útil,
procura um encarnado apto a receber-lhe as inspirações. Entraríamos
aí no terreno da mediunidade.
De outras ocasiões o
indivíduo possui um objetivo vago e sua missão se desenha aos
poucos e segundo as circunstâncias porque Deus e os agentes
espirituais impelem-no pelo caminho.
É o que muitas vezes
constatamos em tantos testemunhos pessoais. As coisas, dir-se-ia,
conspiram para a pessoa chegar naquela situação, levando para isso
talvez muitos anos ou a vida toda e tendo passado por trilhas
tortuosas e inesperadas.
Porém, como sempre se
pode fracassar na missão, é possível que muitos nunca cheguem a
determinado ponto porque tomam desvios, deixam-se vencer por
tentações, são seduzidos por outros projetos ou assaltados pelo
desânimo, derrotados pela força de vontade insuficiente.
Em se tratando de
missões especiais, consideradas como determinadas diretamente por
Deus, visto que sempre se pode fracassar, Kardec pergunta (Q. 579)
como pode Deus confiar nesta pessoa. A resposta é que Ele conhece
profundamente todas as suas criaturas para ter certeza de que as
escolhidas para certas tarefas não falharão.
Assim, é correto
atribuir à presidência de Barack Obama o caráter de missão.
Se ele terá sucesso ou
não, não sabemos. Mas Deus sabe.
Somos todos falíveis
porque humanos e essa condição de imperfeição que carregamos
impede-nos de fazer prognósticos.
Podemos errar na
previsão e Obama na execução, até porque muita coisa não depende
só da vontade dele. Mesmo que com a razão, tem que fazer política,
há o Congresso e a sociedade, as pressões mundiais e seu poder
físico e intelectual também são limitados.
Mas é uma esperança
de dias melhores, com menos sobressaltos bélicos e mais cooperação,
solidariedade, diálogo, paz e fraternidade.
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