07 novembro 2012

A missão espiritual de Barack Obama



Texto muito interessante publicado no “Jornal Comunica Ação Espírita”, em 03 de 2009, 72ª edição, mas que considero atual e que merece ser lido, para nossa reflexão.


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A missão espiritual de Barack Obama


(Por Wilson Czerski)


A simples possibilidade de eleição de um negro com nome árabe para a presidência dos EUA já mexia com o imaginário popular e criava expectativas entre políticos, empresários e líderes do mundo inteiro.

A confirmação veio pelas urnas e depois a posse como um dos acontecimentos mais surpreendentes da vida mundial recente.

É cedo para avaliar se Obama poderá aplacar, ao menos, as necessidades mais urgentes que se impõem a uma sociedade cansada de guerras inúteis e assolada por uma das piores crises econômicas de todos os tempos.

E o mundo globalizado segue com a mesma ansiedade pois, quer queira-se ou não, o papel da superpotência é inegável e todos os habitantes do planeta dependem, em algum grau, do que acontece na terra do tio Sam.

Importante percorrermos os olhos por algumas das questões de “O Livro dos Espíritos” que tratam das missões.

Seria Barack um missionário? E seu antecessor, George W. Bush, com sua arrogância e forte inspiração religiosa também teve a sua? As críticas a ele dirigidas significam que fracassou na sua execução? E o nosso presidente Lula é também um missionário? Muitos trechos de seus discursos parecem indicar que ele próprio acredita estar revestido desse messianismo.

Antes de mais nada é preciso entender que missionário não é somente aquele encarregado de expressivas realizações no campo da religião, do humanismo, da ciência ou das lideranças em diversas searas da atividade humana, inclusive política e militar.

Certamente que Gandhi, Joana D’Arc, Napoleão, Shakespeare, os papas, Chico Xavier, Einstein, Madre Teresa, Lincoln, Allan Kardec, Martin Luther King, Mozart e centenas de outras personalidades que desfilaram no palco terrestre foram missionários.

Mas na questão 582, por exemplo, os Instrutores Espirituais ensinam que o simples exercício da paternidade, fato corriqueiro e ao alcance da quase totalidade das pessoas, se incluirmos aí a maternidade, constitui uma missão.

Já na Q. 571, quando Kardec indaga se somente Espíritos elevados cumprem missões, a resposta esclarece depender da importância da mesma. “O estafeta – exemplificam – cumpre também uma missão, mas que não é a do general”.


Neste sentido, todos somos missionários: nas responsabilidades familiares assumidas, na contribuição socioeconômica do nosso trabalho profissional e na forma como atendemos as suas exigências, transformando, às vezes, tarefas simples em exemplos de dedicação, dignidade, humildade, etc. Ou por abraçar e humanizar profissões como a medicina ou a carreira de professor.

Nosso papel missionário pode avançar para outros setores de atuação como na própria prática religiosa, na benemerência, no desenvolvimento de uma arte, na criação de uma solução para um problema da coletividade, tudo isto sem que o indivíduo seja alçado à fama e glória do reconhecimento público, mas é uma missão, ou várias, para as quais ele é chamado a desempenhar, geralmente, desde a fase antecedente à sua atual reencarnação por força de sugestões dos amigos espirituais bem como por sua própria solicitação.

Tudo isto encontra confirmação na Q. 573 sobre a missão dos Espíritos encarnados, uma vez que os desencarnados também as têm: a proteção e auxílio aos encarnados, tarefas em colônias espirituais, a própria codificação espírita por eles transmitida.

Mas daqueles que por aqui estão fisicamente, há missões para “instruir e ajudar no progresso os outros homens, melhorar suas instituições, mas não são mais ou menos importantes como o que cultiva a terra e o que governa”.

Na questão 575, ao elaborar a pergunta, Kardec explica que a missão, numa acepção mais restrita do termo, possui um caráter mais amplo, menos exclusivo ou pessoal.

Então, como se poderia reconhecer um missionário na Terra? Pelas grandes coisas que ele realiza, pelo progresso a que conduz seus semelhantes, respondem.

Também somos esclarecidos que pode haver vários candidatos à mesma missão.

Quando há um trabalho coletivo numa instituição espírita, por exemplo, talvez muitas destas pessoas possam ter sido reunidas para trabalhar juntas, mas a presidência de um país, mesmo considerando o transcorrer do tempo e as sucessões no cargo, bem poucos poderiam ser designados para ela.

Claro que não podemos falar em missão a ocupação do cargo máximo de um país quando realizado por vias alheias à vontade do povo.

A tomada de poder pela força e visando a pura satisfação de ambições pessoais ou é de iniciativa puramente humana ou, se havia uma expectativa positiva em relação a esse indivíduo, os meios empregados denunciam o completo fracasso da missão.


Porém, ainda assim, na Q. 584 encontramos que “um conquistador que não tem em vista senão satisfazer sua ambição e não recua diante de nenhuma calamidade que cause”, não deixa de ser “um instrumento de Deus que se serve dele para o cumprimento de seus desígnios” e até esses prejuízos causados, às vezes, são um meio de fazer um povo avançar mais depressa.” Ou seja, Deus sempre tira do Mal o Bem.


Outro detalhe: nem sempre o indivíduo é designado para uma missão importante antes do nascimento porque com freqüência ele se torna instrumento de um outro espírito para execução de determinada ação.

O exemplo dado em “O Livro dos Espíritos” é o de um escritor que está atualmente desencarnado e que não podendo escrever diretamente um livro útil, procura um encarnado apto a receber-lhe as inspirações. Entraríamos aí no terreno da mediunidade.

De outras ocasiões o indivíduo possui um objetivo vago e sua missão se desenha aos poucos e segundo as circunstâncias porque Deus e os agentes espirituais impelem-no pelo caminho.

É o que muitas vezes constatamos em tantos testemunhos pessoais. As coisas, dir-se-ia, conspiram para a pessoa chegar naquela situação, levando para isso talvez muitos anos ou a vida toda e tendo passado por trilhas tortuosas e inesperadas.

Porém, como sempre se pode fracassar na missão, é possível que muitos nunca cheguem a determinado ponto porque tomam desvios, deixam-se vencer por tentações, são seduzidos por outros projetos ou assaltados pelo desânimo, derrotados pela força de vontade insuficiente.

Em se tratando de missões especiais, consideradas como determinadas diretamente por Deus, visto que sempre se pode fracassar, Kardec pergunta (Q. 579) como pode Deus confiar nesta pessoa. A resposta é que Ele conhece profundamente todas as suas criaturas para ter certeza de que as escolhidas para certas tarefas não falharão.

Assim, é correto atribuir à presidência de Barack Obama o caráter de missão.

Se ele terá sucesso ou não, não sabemos. Mas Deus sabe.

Somos todos falíveis porque humanos e essa condição de imperfeição que carregamos impede-nos de fazer prognósticos.

Podemos errar na previsão e Obama na execução, até porque muita coisa não depende só da vontade dele. Mesmo que com a razão, tem que fazer política, há o Congresso e a sociedade, as pressões mundiais e seu poder físico e intelectual também são limitados.

Mas é uma esperança de dias melhores, com menos sobressaltos bélicos e mais cooperação, solidariedade, diálogo, paz e fraternidade.




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