Reprodução de entrevista com o escritor e jornalista Marcel
Souto Maior, autor dos livros “As Vidas de Chico Xavier” (2003), “Por trás do
véu de Ísis” (2004) e “As Lições de Chico Xavier” (2005).
Marcel, que viu na biografia do médium Chico Xavier a
possibilidade de um trabalho de rica pesquisa jornalística, fala do que
descobriu sobre o tema, de como o Livro dos Espíritos lhe influenciou nas
pesquisas e da figura e a importância de Allan Kardec para o Espiritismo,
assunto a que volta e meia ele retorna: "Não tenho nenhuma religião, mas
tenho fascínio por este tema: a fé...", diz.
Atualmente, ele prepara o lançamento de um novo trabalho, a
biografia de Allan Kardec, cujos originais já foram entregues à sua editora.
* * *
1-Como você avalia a evolução da fé espírita no País?
A cada ano, cada livro e cada filme lançados, o Espiritismo
atrai novos adeptos e admiradores. O Brasil já abriga mais de 10 mil centros
espíritas kardecistas. Cada “casa” destas funciona como um centro de estudos e
divulgação do espiritismo e como um pólo de solidariedade. Uma rede cada vez
mais ativa e integrada.
Hoje mais de 5 milhões de brasileiros já se declaram
espíritas kardecistas nas pesquisas do Censo... O número de simpatizantes é
estimado em 30 milhões só no Brasil.
2-Seus livros sobre o tema Espiritismo foram lançados no
início dos anos 2000. Agora eles voltam a ser lembrados e comentados a partir
do lançamento de alguns filmes nacionais. Você identifica um novo interesse da
sociedade brasileira em relação às questões espíritas? A que se atribuiria esta
"retomada" do assunto?
O lançamento de filmes e livros, o destaque dado a Chico
Xavier no ano de seu centenário – todos estes “eventos” ajudam e muito. Mas por
trás desta retomada existe uma questão maior: uma imensa esperança de que a
vida seja mais do que este nosso dia-a-dia estressante, às vezes sem sentido,
rumo ao fim.
3-Estamos todos condenados à morte ou a vida continua?
O Espiritismo aposta na melhor hipótese e, por isso,
mobiliza tanta gente.
4-Você já declarou, algumas vezes, que não é espírita, e que
sua abordagem sobre o tema sempre foi do ponto de vista jornalístico. Por conta
deste distanciamento, e mesmo por ter partido do "zero conhecimento"
para chegar ao que hoje você dispõe, o que você acha que leigos no assunto não
deveriam ignorar? Há alguma "descoberta" sobre o Espiritismo que acha
que seria bom que todo mundo soubesse?
Nestes 15 anos de pesquisa – e de investigação jornalística
- , encontrei fraude e auto-sugestão neste território movediço onde “vivos e
mortos” se cruzam, mas deparei também com histórias impressionantes,
desconcertantes e inexplicáveis pra mim. Histórias que conto na introdução de
“As Vidas de Chico Xavier” e no livro “Por Trás do Véu de Ísis”.
A conclusão a que cheguei é esta: existe fraude e má-fé sim,
mas existem verdades que devem ser encaradas por todos nós – inclusive pela
ciência – com mais coragem e menos preconceito.
5-O que o motivou a pesquisar e escrever sobre figuras e
temas do Espiritismo?
Foi interesse jornalístico mesmo. A história de Chico é
irresistível. Ele escreveu mais de 400 livros, vendeu mais de 20 milhões de
exemplares e doou toda a renda dos direitos autorais a instituições
beneficentes. “Os livros não me pertencem. Eu não escrevi nada. Eles – os
espíritos – escreveram”, repetiu ao longo de toda a sua vida, enquanto era
atacado, perseguido e até processado.
Aos que diziam que mais cedo ou mais
tarde ele cairia, desmascarado como fraude, por exemplo, Chico dizia: “Não vou
cair porque nunca me levantei”.
Morreu na cama estreita de seu quarto simples
em Uberaba.
6-Como O Livro dos Espíritos marcou a sua pesquisa?
O Livro dos Espíritos é fundamental para quem quer entender
a origem, a lógica e o sentido da Doutrina Espírita. Li e reli várias vezes
para conseguir decifrar Chico Xavier. Durante toda a vida ele se dedicou a
seguir os principais valores descritos/defendidos no livro de Allan Kardec: a
fé na vida depois da morte, o valor da caridade, a importância do trabalho em
favor do outro.
7-Você já falou do potencial de Chico Xavier como personagem
de uma pesquisa jornalística. E Allan Kardec? Como vê este
"personagem"?
É outro personagem muito forte.
Eu resumiria a história dele
com poucas palavras: “Ele nasceu Hippolyte Léon Denizard Rivail na França do
século 19. Sempre foi cético. Um professor respeitado em seu tempo, discípulo
do educador Pestalozzi. Até que mesas começaram a girar e mensagens passaram a
chegar de muito longe... Com 54 anos, depois de testemunhar estes fenômenos –
batizados de “mesas girantes” -, Rivail mudou de vida e de nome.
Tornou-se
Allan Kardec para "dar voz aos espíritos...”
A história de Kardec é a história
de uma conversão.
8-O trabalho com o tema Espiritismo modificou sua forma de
encarar o mundo/as pessoas/questões relativas à espiritualidade? Você passou a
acreditar em algo em que não acreditava antes?
Eu era um “cético absoluto” quando me aproximei de Chico
Xavier pela primeira vez. Hoje digo que minha fé “não é consolidada”, é cheia
de altos e baixos... Às vezes acredito na possibilidade da “vida depois da
morte”, às vezes duvido totalmente, mas esta nova “posição” já é um avanço para
quem não acreditava em absolutamente nada há 15 anos.
9-Qual a sua crença religiosa?
Não tenho nenhuma religião, mas tenho fascínio por este
tema: a fé.
* * *
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