É preciso não
esquecer nada:
nem a torneira
aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para
os infelizes,
nem a oração de
cada instante.
É preciso não
esquecer de ver a nova borboleta, nem o céu de sempre.
O que é preciso é
esquecer o nosso rosto, o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do
nosso pulso.
O que é preciso
esquecer é o dia carregado de atos, a idéia de recompensas e de
glória.
O que é preciso é
ser como se já não fôssemos, vigiados pelos próprios olhos,
severos conosco, pois o resto... o resto não nos pertence.
(Cecília Meirelles)
* * *
Cecília Meirelles nos
faz pensar e viajar por entre suas palavras singelas e profundas.
Seria possível viver
como se já não fôssemos, em um mundo de tangibilidade plena como o
nosso?
Seria possível como
que viver em dimensões diferentes ao mesmo tempo? E, será que já
não vivemos?
Há uma parte de nós
vivendo na esfera ponderável, da matéria, das necessidades de
sobrevivência.
Há outra, habitante do
eterno, onde os espelhos do mundo não refletem nada, imponderável,
espiritual.
Viver como se já não
fôssemos, pode significar estar no mundo, sem ser do mundo.
Dependemos do material
para a sobrevivência, para a manutenção da encarnação.
Porém, nosso coração,
nossas mais valiosas energias podem estar sendo investidas nessa vida
maior, na vida eterna do Espírito imortal.
Quando investimos no
amor, na doação, no sorriso para os infelizes ao nosso redor,
estamos sendo como se já não fôssemos, pois estamos vivendo o
espiritual, o permanente, acima do efêmero, do passageiro.
Quando investimos no
autoconhecimento, buscando em nós, diariamente, o que precisa de
reforma, estamos sendo como se já não fôssemos.
Quando não esperamos
as recompensas e glórias do mundo, vivendo com leveza o dia
carregado de atos, estamos sendo como se já não fôssemos.
Severos conosco, no
sentido de vigiarmos nossos pensamentos e atos, dando conta de nossa
própria administração.
Não a severidade que
pune, que enche de culpa, mas aquela que previne e que corrige
sempre, evitando perdermos tempo em caminhos infelizes.
E o resto... o resto
não nos pertence.
Pertencem a Deus a Lei
e a Justiça.
Pertence à consciência de cada um seu próprio
julgamento.
* * *
Léon Denis, grande
estudioso do Espiritismo, em sua obra “Depois da morte”, ensina:
Dolorosa, cheia de
angústias para uns, a morte não é, para outros, senão um sono
agradável seguido de um despertar silencioso.
O desprendimento é
fácil para aquele que previamente se desligou das coisas deste
mundo, para aquele que aspira aos bens espirituais e que cumpriu os
seus deveres.
Há, ao contrário,
luta, agonia prolongada no Espírito preso à Terra, que só conheceu
os gozos materiais e deixou de preparar-se para essa viagem.
Ainda há tempo de
escolher. Ainda há tempo de se preparar.
Pensemos nisso.
(Redação do Momento
Espírita - com base no poema “É preciso não esquecer nada”,
do livro “Poesia completa”, de Cecília Meirelles, ed. Nova
Fronteira; e no cap. 30, do livro “Depois da morte”, de Léon
Denis, ed. Feb.)
* * *
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