A viagem não acaba
nunca.
Só os viajantes
acabam.
E mesmo estes podem
prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa.
Quando o viajante se
sentou na areia da praia e disse: 'Não há mais que ver', sabia que não era
assim. O fim da viagem é apenas o começo doutra.
É preciso ver o que
não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no
Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva
caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra
que aqui não estava.
É preciso voltar aos
passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado
deles.
É preciso recomeçar a
viagem. Sempre.
O viajante volta já.
(José Saramago, in “ Viagem a Portugal”)
* * *
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