Conta-se que a mãe de
São Pedro era extremamente zelosa de seus haveres. Vivia, digamos
com o devido respeito, comprometida com a sovinice.
Embora se trate de um
pecado capital, desses passíveis de remeter o indigitado para as
caldeiras do pedro-botelho, foi piedosamente encaminhada a ameno
estágio no purgatório, talvez por deferência ao seu ilustre filho.
Não obstante, o santo
sofria com a situação.
Precursor do jeitinho
brasileiro, apelou para Jesus, pedindo-lhe que a transferisse para o
“andar de cima”.
O Mestre dispôs-se a atender, mas era preciso
cumprir básico requisito: descobrir se alguma vez, ainda que
remotamente, ela “emprestara a Deus”. Traduzindo: exercitara a
fraternidade? Doara algo a alguém, ao longo da existência?
O apóstolo deu tratos
à bola, na ingrata tarefa de descobrir um gesto de legítimo
desprendimento por parte da querida genitora, de índole boa, mas
relutante em “abrir a mão”, quando solicitada.
Espremendo os miolos,
lembrou-se.
Certa feita, ajudara
uma vizinha. Dera-lhe um ramo de salsa.
Era muito pouco, mas,
com sua infinita generosidade, Jesus deu-se por satisfeito.
Recomendou:
– Estenda-lhe esse
raminho. Que ela se agarre nele.
Animado, o apóstolo
cumpriu a orientação.
A matrona começou a
subir…Ocorre que a planta era frágil.
Já às portas
celestes, administradas pelo filho, rompeu-se a salsa, deixando-a nas
adjacências.
Diria o poeta:
Livrou-se do
purgatório,
Mas o Céu não
alcançou,
A flutuar no espaço
ficou.
***
A história inspirou um
adágio popular.
Quando alguém se sente
desarvorado, sem ponto de apoio, sem direção, diz-se: “Está como
a mãe de São Pedro.”
Pessoas assim, longe de
constituir exceção, representam a maioria.
Muitos querem o céu
interior – paz, saúde, alegria…Concebem conquistá-lo
integrando-se em atividades religiosas, envolvendo ritos e rezas,
ofícios e oficiantes.
Ocorre que esses liames
com o Céu são frágeis como um ramo de salsa. Não resistem às
agruras da Terra, com seu cortejo de dores e problemas.
É preciso usar
material mais consistente, a partir da disposição em aderir
plenamente aos princípios de sua crença, ultrapassando a débil
superficialidade.
Participar mais
assiduamente, colaborar mais ativamente, trabalhar mais intensamente
em favor da própria renovação.
Vacilam, porque isso
tudo implicaria na renúncia ao imediatismo terrestre, às tendências
egocêntricas, aos prazeres sensoriais, às experiências passionais
e, sobretudo, ao comodismo e à indiferença que marcam o
comportamento humano.
Por isso, pairam sem
rumo e sem estabilidade. Rompendo-se facilmente as frágeis
convicções a que se agarram, flutuam na incerteza, perdidos na
vacuidade existencial.
***
Para atingir os páramos
celestes, recôndita região na intimidade da consciência, onde
encontramos as benesses divinas, é preciso muito mais.
Fundamental eleger o
espírito de serviço como inspiração de nossas vidas, a partir da
regra áurea ensinada por Jesus (Mateus, 7:12):
Tudo o que quiserdes
que o próximo vos faça, fazei-o assim também a ele.
Então, sustentados por
asas de virtude e merecimento, não haverá problemas.
Atingiremos,
facilmente, o “andar de cima”.
(extraído do livro
"Para Rir e Refletir", de Richard Simonetti)
* * *
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