Todos os seres são, foram e serão.
Que haja cinza no coração que leva lama à frente, todo
o ser é imortal como essência e conquista o que se lhe deve pela lei que o
governa. O fato de ser pequeno, imperceptível, não é motivo para não ter
porvir; nada padece em vão.
Tudo vive. A criação esconde os renascimentos.
Chama de Deus, a alma existe em todas as coisas. O
mundo é um conjunto em que nada está só! Todo corpo esconde um espírito!
Toda
carne é uma mortalha e para ver a alma é preciso compreender o sudário.
Todo ser, qualquer que seja, do astro ao estrume, do
estúpido ao profeta é um espírito arrastando uma forma final.
(Victor Hugo)
* * *
Victor Hugo, poeta nacional da França, dedicou boa parte de
sua vida literária e espiritual à Doutrina Espírita.
Seu talento encontrou, nos princípios desta, fontes de
inspiração que lhe permitiram escrever páginas brilhantes, as quais continuam
guiando o pensamento humano sobre os grandes problemas metafísicos e
religiosos.
As Contemplações, Raios e Sombras, A Lenda dos Séculos
revelam conceitos realmente comovedores. Nestes livros o poeta manifestou uma
profunda sabedoria espiritual como que inspirada por grandes potências do mundo
invisível. É que Hugo, sempre a serviço da verdade, tudo escreveu interrogando
o Mais Além.
Seu gênio romântico cresceu com a visão espírita do mundo;
por isso, seu romantismo foi como uma conseqüência desses mistérios espirituais
que sempre o rodearam.
Em Jersey, junto ao tripé mediúnico, o mesmo que foi usado
pelas sacerdotisas de Apolo para dar oráculos em Delfos, enquanto o mar batia
furiosamente à costa, foi que concebeu suas grandes visões poéticas e
sobrenaturais. Polemizou em verso com entidades invisíveis, com o que comprovou
a existência do mundo dos espíritos.
O poeta sabia que o tripé era um instrumento mágico pelo
qual a luz do mundo invisível pode vencer as trevas da terra.
Sentia-se na Ilha de Jersey como João em Patmos, razão pela
qual pode ser considerado como o fundador da Patmologia Espírita.
Falou com o
espírito em meio ao mar e escreveu um novo Apocalipse. Relacionou-se empregando
a linguagem de Ronsard com Moliére e A Sombra do Sepulcro, duas elevadas personalidades
mediúnicas.
O mar e a solidão acompanharam-no sempre e foram até seus
confidentes.
Não obstante, aquela Ilha de Jersey tinha a virtude de
povoar-se de entidades invisíveis que lhe falaram de liberdade, amor e
recordações.
Sua filha Leopoldina, desaparecida em um naufrágio, se lhe fez
presente por meio do tripé mediúnico e falou com sua alma de modo terno.
O poeta sabia que os mortos não são devorados pelo abismo e
que as distâncias metafísicas não podem alijá-los dos homens. Por isso, dizia: "Peçamos justiça à morte, mas não
sejamos ingratos com ela. A morte não é, como se diz, uma queda nem uma
emboscada".
Proclamou, assim, que os mortos voltam.
Resistia a aceitar um Além, que impedia os espíritos
desencarnados de comunicar-se com os homens.
Aceitava, em troca, um mundo
invisível comunicando-se com o visível; o invisível era para o poeta um templo
repleto de presenças espirituais sempre disposta a relacionar-se com a mente e
o coração dos povos. Foi por isso que disse: "Os mortos são os invisíveis
e não os ausentes". [...]
( O exílio luminoso – in
“Victor Hugo Espírita”, de Humberto Mariotti)
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