06 janeiro 2013

Um pouco de Victor Hugo...



No poema "O Aparecido", de seu livro "Contemplações", a idéia do regresso palingenésico dos espíritos está dramaticamente descrita.

Fala de uma mãe que adorava seu filhinho e sonhava para ele um futuro radiante. Mas um dia, disse o poeta, "esse corvo chamado crupe penetrou bruscamente naquele lar feliz e, arrojando-se sobre o menino, pegou-o pela sua garganta".

A mãe infeliz, vendo-se sem o filho querido, destruído pelas garras da morte, "ficou imóvel três meses, os olhos fixos, murmurando um nome ininteligível e olhando sempre para a mesma parte da parede".

Mais adiante, diz o poeta: "O tempo passou, passaram-se os dias, semanas e meses e aquela mulher soube que seria mãe pela segunda vez".

Quando pressentiu a vinda do novo filho, a mãe "empalideceu e lançou um grito" - "Quem é este ser estranho?" exclamou.

E, caindo de joelhos, acrescentou: 
"Não, não o quero; meu filho morto teria ciúmes e me pressionaria por acreditar que o houvesse esquecido e que outro ocupava seu lugar: minha mãe o quer, concebe-o formoso, ri com ele e beija-o; mas eu, eu estou no túmulo! Não, não o quero!

Fazia-a falar assim sua dor profunda".

"Quando amanheceu - continua o poema - vendo que seu marido era pai de outro filho, a mulher exclamou, agitada: ‘É menino!’ O marido, porém, era o único que estava alegre em casa; a mãe permaneceu triste, sem esquecer o filho morto.

Trouxeram-lhe o recém-nascido, deixou que viesse e o apertou em seu peito; imediatamente, porém, pensando sem cessar mais no filho morto do que naquele ali, preocupando-se mais com a mortalha do que com as mantas, exclamou: - ‘Está só no túmulo aquele anjo!’

Mas, por um milagre que fez voltar sua alegria, aquela mãe ouviu que o recém-nascido falava em seus braços, com voz familiar, e dizia baixinho: - Sou eu! ... mas não o diga!"

De fato, o filho morto havia regressado através da grande lei da reencarnação. O ser chorado e tão desesperadamente invocado havia voltado às entranhas de sua mãe e por elas renascido para acalmar sua dor e continuar, dessa forma, seu ciclo de crescimento espiritual.

Com este poema, Victor Hugo venceu as escuridões do túmulo e afirmou à cultura filosófica de seu tempo que o homem é uma entidade imortal que encarna e desencarna para alcançar estados superiores e divinos.

Nesse mesmo poema deu à maternidade um novo significado filosófico e religioso quando diz: "Oh mães! O nascimento começa com o túmulo. A eternidade guarda mais do que um segredo divino".


(Extraído do livro “Victor Hugo Espírita” - Humberto Mariotti - Tradução Wilson Garcia - Edição Conjunta EME Editora – Capivari-SP e Editora Eldorado Espírita de São Paulo)

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