No poema "O Aparecido", de
seu livro "Contemplações", a idéia do regresso palingenésico dos
espíritos está dramaticamente descrita.
Fala de uma mãe que
adorava seu filhinho e sonhava para ele um futuro radiante. Mas um
dia, disse o poeta, "esse corvo chamado crupe penetrou
bruscamente naquele lar feliz e, arrojando-se sobre o menino, pegou-o
pela sua garganta".
A mãe infeliz,
vendo-se sem o filho querido, destruído pelas garras da morte,
"ficou imóvel três meses, os olhos fixos, murmurando um nome
ininteligível e olhando sempre para a mesma parte da parede".
Mais adiante, diz o
poeta: "O tempo passou, passaram-se os dias, semanas e meses e
aquela mulher soube que seria mãe pela segunda vez".
Quando pressentiu a
vinda do novo filho, a mãe "empalideceu e lançou um grito"
- "Quem é este ser estranho?" exclamou.
E, caindo de joelhos,
acrescentou:
"Não, não o quero; meu filho morto teria ciúmes
e me pressionaria por acreditar que o houvesse esquecido e que outro
ocupava seu lugar: minha mãe o quer, concebe-o formoso, ri com ele e
beija-o; mas eu, eu estou no túmulo! Não, não o quero!
Fazia-a falar assim sua
dor profunda".
"Quando amanheceu
- continua o poema - vendo que seu marido era pai de outro filho, a
mulher exclamou, agitada: ‘É menino!’ O marido, porém, era o
único que estava alegre em casa; a mãe permaneceu triste, sem
esquecer o filho morto.
Trouxeram-lhe o
recém-nascido, deixou que viesse e o apertou em seu peito;
imediatamente, porém, pensando sem cessar mais no filho morto do que
naquele ali, preocupando-se mais com a mortalha do que com as mantas,
exclamou: - ‘Está só no túmulo aquele anjo!’
Mas, por um milagre que
fez voltar sua alegria, aquela mãe ouviu que o recém-nascido falava
em seus braços, com voz familiar, e dizia baixinho: - Sou eu! ...
mas não o diga!"
De fato, o filho morto
havia regressado através da grande lei da reencarnação. O ser
chorado e tão desesperadamente invocado havia voltado às entranhas
de sua mãe e por elas renascido para acalmar sua dor e continuar,
dessa forma, seu ciclo de crescimento espiritual.
Com este poema, Victor
Hugo venceu as escuridões do túmulo e afirmou à cultura filosófica
de seu tempo que o homem é uma entidade imortal que encarna e
desencarna para alcançar estados superiores e divinos.
Nesse mesmo poema deu à
maternidade um novo significado filosófico e religioso quando diz:
"Oh mães! O nascimento começa com o túmulo. A eternidade
guarda mais do que um segredo divino".
(Extraído do livro
“Victor Hugo Espírita” - Humberto Mariotti - Tradução Wilson
Garcia - Edição Conjunta EME Editora – Capivari-SP e Editora
Eldorado Espírita de São Paulo)
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