Faz meio século que
escrevo em prosa e verso; história, filosofia, drama, legendas,
sátira, ode, canção; de tudo tenho tratado, mas sinto que não
disse mais que a milionésima parte do que sinto em mim.
Quando estiver no
túmulo, direi: "terminei minha jornada" e não "terminei
minha vida". Minha existência recomeçará no outro dia. O
túmulo não é um beco sem saída mas uma avenida. Minha obra é
apenas um princípio e a sede do infinito prova que existe o
infinito.
Sou homem, mas sou uma
partícula divina que, insignificante como sou, me sinto Deus porque
eu também ponho ordem em meu caos interior.
Viverei mil vidas
futuras, continuarei minha obra, de século em século escalarei
todas as rochas, todos os perigos, todos os amores, todas as paixões,
todas as angústias e depois de mil ascensões, livre, transformado,
meu espírito voltará à sua fonte, unindo-se com a realidade
absoluta, como o raio de luz retorna ao Sol.
(Victor Hugo)
* * *
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