09 fevereiro 2013

Marimbondos no poço



Há mais de 30 anos atuo numa região de recomposição e resgate, muito conhecida pelos espíritas como “Umbral”.

Seria como o simbólico “purgatório” dos católicos.

Na última passagem fui padre, numa região do triângulo mineiro, onde tive, no início do Século recém findo, contato direto com o professor Eurypedes Barsanulfo, já que a cidade de Sacramento também pertencia à paróquia onde eu exercia o sacerdócio.

Por designação desse Apóstolo do Bem, sem méritos para isso, desde 1977 coordeno o trabalho de apoio e recuperação de irmãos que, encarnados, possuíam talentos artísticos, sobretudo musicais. Meu relato agora se refere a outro tipo.

Tenho observado, aqui no umbral, um expressivo aumento da população espírita, com pessoas de notável conhecimento doutrinário, principalmente nas regiões mais inferiores, onde os humores são muito pesados, com insuportável calor, alternado por frios inclementes, lama e substâncias gelatinosas, caldos de cheiro repelente e aparência repugnante.

É o que chamamos aqui simplesmente de “poço”.

Importante observar que a revolta do ser simples tem uma aparência e efeitos ruins a seu redor, mas a do culto, ilustrado, ornado com títulos e saberes, é um espetáculo tenebroso, na acepção mais perversa do termo.

O espectro semelhante a lavas vulcânicas, que se forma em torno e sobre esses pobres irmãos, é arrepiante, tremendo, auto-gerados, com formações próprias, na insubordinação. Uma barrela de tons lúgubres, malcheirosos.

E nos informam os obreiros que trabalham no socorro a estes infelizes seres, da dificuldade em fazer com que eles se recomponham.

Porque aquele que não conhece a Verdade, ou dela pouco sabe, quando a descobre, dissolve suas culpas no arrependimento, e se transforma, em pouco tempo. 

Mas, o que dizer ao que detém conhecimentos e informações que costumam estar até acima dos que os abordam?

Com isso, geram uma forte energia negativa, sulfurosa, que remonta às visões de Alighieri sobre o inferno.

A revolta provém das dores intensas produzidas nas quedas morais e mentais, que carregaram consigo. As reações ânimo-energéticas afetam as estruturas do perispírito retido, causando dor profunda, contínua.

E os irmãos, evoluídos em teoria, mas falhos em algumas atitudes definidas como muito graves, não aceitam a prova, rebelando-se na maior parte das vezes. 

E clamam por Jesus, por Deus, pelos amigos que estejam em posição superior. A maioria passou na existência carnal grande tempo a pregar, sem vivenciar. Mas, devido à gravidade dos erros acumulados, precisam atravessar períodos de expiações, que agravados pela contumácia são ampliados, elastecidos.

É importante observar que, o maior sofrimento e a dose de mais intensa prova geralmente são conferidas aos religiosos de todos os segmentos, e sobretudo, ultimamente, aos espíritas.

Isso nos faz lembrar Jesus, na advertência de que ao que muito for dado, muito será pedido.

E quais são essas faltas de tamanha gravidade? Muitas vezes as cometemos sem nos darmos conta de sua profundidade. Este é o fundamental objetivo dessa mensagem.

Exemplifico - certo dirigente espírita das Minas Gerais, de grande vulto. conhecido pela erudição e liderança, ao se encaminhar, após o desencarne consciente, para o setor de triagem, se surpreendeu por ser designado às regiões umbralinas.

Sob a acusação de discriminação, racismo e orgulho aviltado, foi-lhe mostrado, na tela da vida, os atos e os efeitos, que produziram feridas morais enormes nos atingidos e precipitaram discípulos e seguidores em erros também de grande monta.

E tudo estava sintetizado em um pequeno folheto, um impresso, de dimensões pequenas, que trazia um trecho da chamada “Pureza Doutrinária”.

Nesse informe alertava ao mundo sobre a Verdade da Doutrina espírita, da necessidade em seguir Kardec (O Codificador sempre reagiu a isso, pedindo, ao revés, que sigamos Jesus), e condenava veementemente aos cultos místicos, a que chamou de supersticiosos e inferiores, citando de modo condenatório, pessoas que usavam o termo “espírita” para trabalhos em terreiros, e em outros locais, numa inclemente censura aos praticantes dos atos de magia, esoterismo e de origem africana.

Cerca de 800 mil desses folhetos já foram distribuídos, em diversas impressões, espalhados em muitos lugares, o que, infelizmente continua até hoje.

Nessa miscelânea, e baseado na “bula” muitos julgaram poder agredir, ou mesmo desprezar os que, por razões diversas, decidem por práticas diferentes do culto a Deus. 

Aí, o “ não julgueis para não serdes julgados” era mera teoria. E o “amai-vos uns aos outros” se esquadrinhava apenas nos limites dos festivos salões de palestras.

Acolher, ensinar, orientar, compreender não servia. 

Os méritos conseguidos em vida pelo esforçado dirigente eram grandes, mas, a quota de dívidas auferida pelos efeitos de tão desastrosa empreitada era muito maior.

Sofre muito ainda o nosso irmão. E isso prosseguirá até que compreenda e se arrependa, de verdade. O radicalismo de uma ortodoxia discriminatória é um grave e deletério descaminho.

Temos rogado em nossas orações para que a consciência venha rápida. Não tem vindo, pois ele insiste em ser socorrido por altas patentes celestes.

Jesus, e todas as doutrinas e religiões que dEle se derivam não precisam de defensores, menos de fiscais.

O punho cerrado tem que ser trocado pela mão estendida. 

Acreditamos que o Mestre espere menos marimbondos e mais abelhas!

Propagar, difundir, espalhar, ensinar os preceitos firmados pelo Divino Mestre é indispensável.

Porém, jamais devemos nos descuidar das frestas por onde entra o mal, ou por onde sai o ódio, que podem, como temos assistido, intoxicar e comprometer todo o bem que é feito, às vezes de uma vida inteira.

“Amai-vos e instruí-vos”, na exortação do ínclito codificador aos espíritas não cria privilégios nem superioridade formal, mas aumenta a responsabilidade em servir, em praticar, indiscriminadamente, o amor de Cristo!

Muitos destes deteriorados irmãos, vigiaram os outros, o mundo, e se esqueceram de vigiarem-se a si próprios.

Assim, assistimos a subida a planos luminosos de caridosos seres, que passaram pela vida sem grandes conhecimentos, mas auxiliaram na elevação e no Bem ao semelhante, mesmo porfiando em humildes e despojados terreiros, tendas, barracos e cafuas.

Enquanto isso, laureados e amedalhados “doutores de Deus” são conduzidos a regiões pantanosas e de sofrimento, para o acerto de contas, inevitável, com as próprias consciências.

Enquanto descem, imploram o apoio de amigos e exigem, sem eco, a ajuda e intercessão do Papa, Lutero, Kardec, Chico Xavier e outros.

Em vão.

(Pe. Aldo)


Mensagem recebida pelo médium Arael Magnus em sessão pública no Celest- Centro Espírita Luz na Estrada, em 17 de Janeiro de 2009.
Fundoamor- Fundação Operatta de Amparo e Orientação- Sabará MG- fundoamo@gmail.com



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