31 maio 2013

Um adeus que não existiu



Naquele dia Antônio, um homem comum de 30 e poucos anos, saiu de casa muito cedo, pois tinha um compromisso de trabalho importante.

Como de costume, deu um beijo em sua esposa, despedindo-se rapidamente de Helena e foi embora, sem sequer imaginar que não a veria mais.

Antônio tinha convicção de que sua história com Helena se tratava de um caso raro de amor a primeira vista.

Ele costumava comentar com seus amigos da rapidez com que o relacionamento evoluiu. Entre namoro, noivado e casamento foram só dois anos. 

Estar com ela era muito familiar. Parecia que o casal já se conhecia desde sempre.

Ateu por convicção, Antônio só passou a cogitar a possibilidade de que a reencarnação pudesse existir após conhecer sua esposa, tamanha era a sintonia entre o casal. 

Entre eles, tudo era meio mágico. Difícil de explicar. Intimamente ele sabia que aquele olhar lhe era familiar desde há muito!

Ocorre que por uma dessas peças pregadas pelo destino, Antônio nem sequer desconfiou que aquele dia seria o último dia de vida de Helena e a última oportunidade que este homem teria de beijá-la ternamente.

Se alguém o tivesse avisado, se ao menos ele tivesse suspeitado, certamente teria desmarcado todos os seus compromissos só para ficar com ela. 

Antônio teria dedicado mais do seu tempo para lhe dar um longo abraço e lhe dizer o quanto a amava.

Infelizmente a vida é assim. Ela nem sempre nos avisa quando alguém que amamos está para nos deixar. 

Temos um único e mágico momento de sermos amorosos e na maioria das vezes não o aproveitamos.

Há quem diga que na atualidade Antônio esteja mais resignado com a passagem de sua amada.

Não que ele não sinta sua falta, apenas uma enorme saudade.

Agora espiritualizado, este homem acredita que em breve a verá novamente. Que eles enfim terão uma nova chance de serem felizes.


(Felipe Boni  -  jornalista, escritor, roteirista e autor de peças teatrais)




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