Um dia desses, entrei numa lanchonete perto da esquina, pedi
um café, e vi que o guarda estava olhando o carro estacionado com um pouco da
sua frente em cima da faixa de pedestre.
Tirou o bloco de multas e ia escrever quando
eu saí e falei com ele:
- Bom dia seu guarda!...
Ele não respondeu, e eu argumentei que a roda do carro
estava fora da faixa.
Ele não me olhou, mas prestou mais atenção ao carro e
observou os pneus, e nesse momento foi que também vi que eles não estavam bem
em condições de uso. Então eu disse:
- Desculpe seu guarda, mas hoje mesmo foi que percebi que
esses pneus estão no momento de serem trocados...
Só então ele me olhou já abaixando o bloco de notas. Percebi
que fraquejava na sua resolução de lavrar a multa. Nesse momento, uma velhinha
estava parada perto da faixa, e percebemos (eu e ele) que ela estava com
dificuldade de atravessar.
Então me antecipei a ele, e ajudei a senhora. Quando
voltei, o homem tinha guardado o bloco de notas.
Então sorri pra ele e
disse:
- Você é “gente boa”, seu guarda!...
- Você merece!.. – ele respondeu saindo.
Fiquei encostado ao carro esperando que o guarda se
afastasse, para então descobrir que eu não era o dono dele.
Quando o homem ia
desaparecendo na esquina uma senhora ainda muito jovem vinha chegando com uma
sacola numa das mãos e uma criancinha de colo na outra.
- Dá licença, moço – ela disse, querendo entrar no carro.
Eu me afastei, e ela abriu a porta do lado da calçada, e
colocou a sacola no banco. Então eu resolvi falar:
- Olha moça, estacione um pouco mais distante da esquina,
senão pode levar uma multa qualquer hora dessas...
- Ah sim, obrigada... É que meu filho está doente, e tinha
hora marcada com o médico, e não pude encontrar outro lugar melhor...
Eu sorri pra ela, e balancei a cabeça aprovando.
Entrou no carro e saiu.
Então voltei pra lanchonete pra
tomar meu café. Já estava frio, e tive que pedir outro.
Paguei satisfeito os
dois.
O importante da vida é ter a alma
leve...
(Adelmário Sampaio)
* * *
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