11 julho 2013

O que importa é ter a alma leve



Um dia desses, entrei numa lanchonete perto da esquina, pedi um café, e vi que o guarda estava olhando o carro estacionado com um pouco da sua frente em cima da faixa de pedestre. 

Tirou o bloco de multas e ia escrever quando eu saí e falei com ele:

- Bom dia seu guarda!...

Ele não respondeu, e eu argumentei que a roda do carro estava fora da faixa. 

Ele não me olhou, mas prestou mais atenção ao carro e observou os pneus, e nesse momento foi que também vi que eles não estavam bem em condições de uso. Então eu disse:

- Desculpe seu guarda, mas hoje mesmo foi que percebi que esses pneus estão no momento de serem trocados...

Só então ele me olhou já abaixando o bloco de notas. Percebi que fraquejava na sua resolução de lavrar a multa. Nesse momento, uma velhinha estava parada perto da faixa, e percebemos (eu e ele) que ela estava com dificuldade de atravessar. 

Então me antecipei a ele, e ajudei a senhora. Quando voltei, o homem tinha guardado o bloco de notas. 

Então sorri pra ele e disse:

- Você é “gente boa”, seu guarda!...

- Você merece!.. – ele respondeu saindo.

Fiquei encostado ao carro esperando que o guarda se afastasse, para então descobrir que eu não era o dono dele. 

Quando o homem ia desaparecendo na esquina uma senhora ainda muito jovem vinha chegando com uma sacola numa das mãos e uma criancinha de colo na outra.

- Dá licença, moço – ela disse, querendo entrar no carro.

Eu me afastei, e ela abriu a porta do lado da calçada, e colocou a sacola no banco. Então eu resolvi falar:

- Olha moça, estacione um pouco mais distante da esquina, senão pode levar uma multa qualquer hora dessas...

- Ah sim, obrigada... É que meu filho está doente, e tinha hora marcada com o médico, e não pude encontrar outro lugar melhor...

Eu sorri pra ela, e balancei a cabeça aprovando.

Entrou no carro e saiu. 

Então voltei pra lanchonete pra tomar meu café. Já estava frio, e tive que pedir outro. 

Paguei satisfeito os dois. 

O importante da vida é ter a alma leve...


(Adelmário Sampaio)





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