15 julho 2013

Rezar é um santo remédio: a Ciência reconhece o poder da oração



Rezar pode ajudar na cura de enfermidades.

A medicina moderna começa a descobrir e a comprovar os laços que unem a saúde física à vida espiritual.

*

"Vocês são cristãos?" , perguntou o geriatra nissei, ao terminar de examinar meu velho pai, internado às pressas num hospital paulista devido a uma séria crise neurológica motivada pela sua idade muito avançada.

Resposta afirmativa, o médico não hesitou: "Eu sou budista, mas sei rezar o Pai Nosso. Vocês gostariam de rezar comigo?"

Lembro-me que eu e minha irmã nos olhamos um tanto atônitos, mas, sem muito pensar, dissemos sim com a cabeça.

O médico segurou nossas mãos, fechou os olhos e foi em frente: "Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, seja feita a Vossa vontade..."

Quando terminou, nosso pai, que momentos antes se agitava em dores, ressonava tranquilamente.

O médico sorriu e foi definitivo: "A oração, às vezes, é um santo remédio" .

Meu pai já faleceu, e muitos anos se passaram desde que esse episódio aconteceu.

Mas ele permanece fresco na minha memória.  Foi uma das provas que tive de que, em certos momentos difíceis, a oração às vezes funciona igual, ou melhor, que um remédio.

Aquele geriatra nissei, por sinal, não é o único que sabe disso.

Além dos remédios  e da cirurgia, muitas pessoas acreditam que rezar e meditar podem influir positivamente na luta contra as enfermidades.

Será que isso tem um fundo de verdade?

Fiz a pergunta a outro profissional médico, o saudoso doutor Sérgio Mortari, que foi cirurgião plástico e médico holista em São Paulo, e o comentário que ele fez surpreendeu.

Disse que, atualmente, alguns dos defensores dessas ideias não são apenas sacerdotes, magos ou charlatões, mas sim médicos que pesquisaram os efeitos benéficos de invocações a Deus – não importando em qual das formas o Absoluto seja apresentado nas diferentes religiões.


Tais invocações, que podem ser na forma de orações, leituras do Evangelho, modalidades de meditação oriental, etc., influem efetivamente nos parâmetros biológicos do corpo, tais como
o ritmo cardíaco, a pressão sanguínea, as secreções hormonais, o estado de humor, os limites de resistência à dor e ao stress.

Dias depois, Dr. Sergio mandou-me fotocópias de estudos que tratavam do tema.

Alguns desses estudos foram desenvolvidos em universidades de prestígio, e os resultados parecem não deixar margem a dúvidas.

Pierluigi Zucchi, diretor do Instituto para a Terapia da Dor,  da Universidade de Florença, Itália, é um dos que estão convencidos de que a oração e a meditação não apenas elevam
sensivelmente os limites de resistência à dor, mas também incrementam a eficácia dos tratamentos com remédios.

Uma das experiências de Pierluigi Zucchi consistiu em proporcionar sessões de leitura e meditação sobre trechos do Evangelho de São João a grupos de enfermos, desconhecendo-se as convicções religiosas de cada um deles.

O estudo revelou, já de início, que o limite de resistência à dor entre os que tinham fé era muito mais elevado. Provavelmente, observou Zucchi, graças à prece e à meditação, nosso cérebro aumenta a produção de algumas substâncias analgésicas, chamadas endorfinas.

Sergio Mortari concordava com a opinião científica do seu colega italiano: 
"Sabemos que nossas emoções influem diretamente sobre o funcionamento da hipófise e de todas as demais glândulas do organismo que produzem hormônios, endorfinas, adrenalina, acetilcolina, etc.
Emoções alegres e positivas melhoram esse funcionamento; emoções pesadas, tristes e negativas podem comprometê-lo seriamente.
Quando uma pessoa está doente, quase sempre cai em depressão. 
Isso afeta a sua endocrinologia e o seu sistema imunológico. 
Quando, através da oração, o doente cria uma expectativa positiva, desperta a sua esperança na cura, isso aumenta a sua imunologia e
colabora para regularizar o seu sistema hormonal.
A medicina conhece muitos casos notáveis de regressão de tumores e de remissão de outras doenças através desses processos" .

Outros estudos apontam para as mesmas conclusões.

Uma pesquisa feita com cinco mil indivíduos, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, sustenta que aqueles que vão à missa uma ou mais vezes por semana têm índices de mortalidade de 25-35% mais baixos do que os que não vão à missa.

Em Los Angeles, o Veterans Affairs Medical Center, uma das entidades governamentais norte americanas mais importantes no campo da investigação clínica, desenvolve um programa de
pesquisa sobre as variações da atividade cerebral humana durante a oração.

Esse programa faz uso da sofisticada tecnologia da ressonância magnética e do eletroencefalograma, entre outros recursos.

Ao mesmo tempo, quase uma centena de cientistas se reuniu na Virgínia para debater os efeitos da espiritualidade nas doenças orgânicas. 

Nesse encontro foi apresentado um trabalho desenvolvido pela Darthmouth Medical School, relacionado a pessoas operadas do coração, o qual demonstrava que a porcentagem de cura dos pacientes que se declararam muito crentes era três vezes superior à dos que alegaram não ter nenhum interesse em vida religiosa.

Por seu lado, o Instituto Nacional para o Estudo do Envelhecimento, nos Estados Unidos, revelou que, sobre uma amostragem de 4 mil idosos da Carolina do Norte, a depressão e as
enfermidades físicas afetam muito menos a quem professa uma fé religiosa.

Observou-se que a pressão arterial média das pessoas que frequentam igrejas é mais baixa do que a daquelas que não frequentam.

Todos esses dados parecem confirmar que a oração e a espiritualidade como ajuda nos tratamentos constitui uma realidade difícil de ser refutada.

Essa convicção cresceu a tal ponto que já supera as barreiras de desconfiança que rodeiam as clínicas e hospitais.

Motivo pelo qual o comportamento aparentemente incomum daquele geriatra a rezar o Pai Nosso já não deve causar muito espanto.

Segundo uma recente investigação da Academia dos Médicos de Família Americanos, para 99% dos sócios a fé ajuda a curar, e 80% deles considera que o relaxamento e a meditação deveriam ser incluídos na formação das novas gerações de médicos. 

"Os pacientes que têm convicções negativas a respeito da sua própria doença nunca melhoram tanto quanto aqueles que não perdem a fé e a esperança", conclui um relatório dessa
Academia.

Curiosamente, os estudos sobre reações neuroquímicas relacionadas ao stress foram os que melhor revelaram o que acontece no organismo quando se junta a oração e a meditação aos
remédios.

Herbert Benson, professor da Escola de Medicina de Harvard, investiga o tema há mais de vinte anos.

Ao estudar o metabolismo, as batidas do coração e as ondas cerebrais de um grupo de jovens que praticava formas de meditação, Benson descobriu que havia diferenças sensíveis quando a pessoa se encontrava em repouso ou quando estava em plena atividade meditativa. 

Nesta última condição, os parâmetros químicos do metabolismo diminuíam até 17%, o ritmo respiratório baixava 20%, e também baixava a frequência das ondas cerebrais.

Uma religião não é melhor do que a outra.

Outro dado muito importante emergiu também dessas pesquisas: do ponto de vista da saúde, não existe uma religião melhor que outra.

O mesmo Herbert Benson estudou pessoas no ato de elevar uma prece ou de repetir fórmulas rituais de diferentes sistemas religiosos como o cristão, o islâmico, o budista, o taoista e o confucionista, e verificou que em todos os casos aconteciam as mesmas alterações fisiológicas.

Conclusão: não importa qual seja a fé religiosa, o simples exercício espiritual de elevar a consciência a planos superiores, através da prece ou da meditação, representa benefício para a saúde.

Isso me faz lembrar da poeta paulistana Maria José de Carvalho, que foi minha professora nos meus tempos de juventude, e boa amiga depois disso. Até falecer, ela se declarava pagã e atéia, rebelando-se contra toda religião institucionalizada.

Apesar disso, Maria José dizia que, todas as noites, antes de dormir, orava para as "forças superiores", nas quais depositava fé total, e atribuía a esses diálogos meditativos a sua boa saúde e a solução da maior parte dos seus problemas.

Maria José era a prova viva de que uma pessoa espiritualizada não precisa ser, necessariamente, religiosa.

Deus, ou o princípio superior ao qual damos esse nome, existe no mais profundo de cada um de nós, e é lá que podemos encontrá-Lo através da oração ou da postura meditativa.

Larry Dossey, importante médico holístico norte-americano e autor de dois livros fundamentais sobre o poder da prece e a prática da medicina - As Palavras Curam e Rezar é um Santo Remédio -, ambos já traduzidos no Brasil, partilha dessa convicção.

Nesses livros ele expõe as mais recentes evidências que interligam as preces, as curas e a medicina, e convoca para uma nova e audaciosa integração entre ciência e espiritualidade. "Não sabemos como a cura espiritual acontece. Muitos céticos dizem que isso é razão suficiente para jogá-la fora, pela janela, rejeitando-a completamente, inclusive como possibilidade. Mas, em vista das evidências que corroboram a cura espiritual, essa posição é
ingênua e descuidada", afirma Dossey.

Para ele, reconhecer que não sabemos como alguma coisa acontece não é uma confissão especialmente danosa no campo da medicina.

Cita o exemplo da própria aspirina, um dos remédios mais populares, da qual até hoje não se conseguiu explicar a capacidade de aliviar a dor e a inflamação. Por isso, não importa se ainda
não se sabe bem como a prece e a meditação atuam para ajudar na cura. O importante é que elas realmente ajudam.

Pois, como conclui Larry Dossey, "a primeira pergunta que uma pessoa padecendo de uma doença faz, diante de qualquer nova terapia, não é 'Como é que ela age?' e sim 'Resolve? "

Como a história prova, explicações completas em geral são dadas mais tarde. Pode ser que aconteça o mesmo com a prece e a cura espiritual.



Dicas para uma boa oração

"Muitos cristãos rezam baixinho, com medo de que Deus os ouça realmente, porque eles, pobres criaturas, na verdade nunca quiseram ser ouvidos" , escreveu, com uma ponta de ironia, Charles Spencer Lewis.

O medo dos resultados é um tipo de pensamento negativo sobre a oração. Larry Dossey ponta muitos outros em seus livros sobre o poder de cura das orações, e dá dicas para corrigir posturas e atitudes que podem comprometer a eficácia da prece.

Lá vão algumas:

Não levar a prática da oração muito a sério. Quando notar que está levando a prática da oração muito a sério - achando que deveria ser mais disciplinado e "rezar de forma melhor"

Procure se lembrar que ainda está aprendendo. Lembre-se da máxima do filósofo Chesterton:
"Tudo que vale a pena fazer corre o risco de ser malfeito" , e da velha piada, "Como fazer para Deus rir? Simplesmente contando-lhe nossos planos e desejos" .

Entenda que as atitudes negativas com relação à oração são universais. Os maiores santos e místicos de todas as religiões se queixaram da oração uma vez ou outra.

Como nós, eles achavam difícil perseverar na oração, e lamentavam a própria fraqueza. Se às vezes você achar que é um fiasco ao rezar, lembre-se que isso já aconteceu às pessoas mais ilustres e espiritualizadas.

Lembre-se de que existem muitos tipos de oração e inúmeras maneiras de rezar.

Quando temos dificuldade com um determinado tipo de oração, ou técnica de meditação, devemos pesquisar outros. Podemos até inventar nosso próprio jeito de orar ou meditar. 

Se as orações de súplica - orações de pedido e intercessão - parecem pouco apropriadas, podemos nos dedicar a outros tipos, como as orações de adoração, de celebração e de agradecimento.
Para a maioria das pessoas essas orações são mais leves. Elas podem dar nova vida a nossas preces quando estas se tornam um dever melancólico.

Lembre-se de que a oração não é apenas uma questão de fazer alguma coisa, mas também um modo de ser.

 A escritora Dorothy Day observou
"Terá Deus uma forma fixa de oração, um modelo que ele
espera que sigamos? Duvido. Eu acho que algumas pessoas – ou melhor, muitas - rezam dando testemunho de sua vida, através do trabalho que realizam, das amizades que têm, do amor que oferecem às pessoas e que delas recebem. Desde quando as palavras são a única forma aceitável de oração?"

A oração pode assumir uma forma de devoção - uma atitude, um estado psicomental em que sentimos uma ligação sagrada com o Absoluto. A devoção vai muito além das mãos postas, da
cabeça inclinada e dos joelhos dobrados, e de todos os “tus” e “vós” dos textos das orações convencionais.

Ela pode estar presente não apenas na igreja, mas também enquanto cuidamos do jardim, lavamos os pratos ou levamos os filhos para a escola.

Por meio da devoção, podemos rever nossas atitudes negativas com relação à oração formal e ritualizada.

Na devoção, sentimentos sagrados afloram naturalmente das profundezas do nosso ser, como uma fonte límpida brotando na encosta de uma montanha. A devoção leva-nos de volta à oração, mas à oração transformada, a uma oração tão espontânea e natural quanto o alvorecer.



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