12 agosto 2013

Mediunidade esclarecendo crimes





“Um crime muito difícil”. “Crime quase perfeito”, no parecer de um delegado de polícia que conhecemos durante um encontro de delegados espíritas.

Falamos de Antonio Camilo, do simpático município de Pouso Alegre, Minas Gerais, que, no 4o Encontro dos Delegados Espíritas paulistas, a convite da União dos Delegados de Polícia Espíritas do Estado de São Paulo, contou-nos curiosa ocorrência.

O encontro se deu em 20 de novembro de 2001, às 19h30, no Auditório Dr. Ivahyr de Freitas Garcia, da ADPESP (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), tendo como título: Mediunidade elucidando crimes.

“O mais misterioso dos casos da minha carreira”, acrescentou o policial mineiro, responsável, nesse tempo, pela Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes.

O caso motivou uma reportagem de um programa de grande audiência de famosa emissora da TV brasileira. Esse programa incentivava telespectadores, por meio da reconstituição de “crimes insolúveis”, a fornecer pistas, ajudando as autoridades a reabrir as investigações e a resolver os casos.

No caso em questão, um homem tinha desaparecido em dezembro de 1993.

Pessoa conhecida e respeitável pelos pouso-alegrenses, o advogado – sócio e amigo de muitos anos de um sargento da reserva do Exército e sua mulher – tinha desaparecido desde o dia em que saíra cedo de casa para ir ao banco. Em parceria com o casal, tinha acabado de comprar um sítio anexado a uma bela casa. 



B.O., início das investigações


Semanas escoavam-se, nada de o advogado voltar para os familiares entregues ao desespero, à aflição; membros da família foram à delegacia fazer o Boletim de Ocorrência.

O delegado Camilo empenhou todas as suas forças à procura do homem. Incansável, buscava uma pista, mas sem lograr êxito.

Pensava-se em sequestro; no entanto, essa hipótese foi descartada; nenhum contato com criminosos, nenhuma exigência ameaçadora por telefone. 

O fato entraria definitivamente no rol dos crimes insolúveis se, de princípio, não fossem certas mensagens mediúnicas.

Tais mensagens dadas por médiuns de uma casa espírita da cidade, a pedido dos familiares, eram sempre genéricas, curtas e repetiam: “está morto, sepultado”.

Mas, desde quando, onde, como e por quê? E o cadáver? – tais eram os questionamentos; situação deveras embaraçosa; um beco sem saída.

Admitindo-se um assassinato, as investigações esbarravam num só problema: a absoluta falta de elementos que pudessem revelar o criminoso, ou criminosos, o corpo de delito. 

Sem fato material como base de prova de possível homicídio, deram o caso por encerrado e findas as investigações.

Mas Camilo não se deu por vencido. Conservou-se no propósito de achar algum ponto de partida e, por conta própria, reiniciou as buscas.

Visitou o sítio sozinho, longe da sua equipe de investigadores. 

Indagava de diversas pessoas das redondezas do sítio, voltou a fazer perguntas e mais perguntas aos sócios, embora os considerasse pessoas acima de quaisquer suspeitas pelos muitos anos de amizade deles com o advogado. 



Um detalhe, uma cisma...


Mas havia um detalhe.

Voltando de novo ao sítio, Camilo, solitário, percebeu algo que, antes, não aguçara tanto a curiosidade, a sua e a dos auxiliares.

Ao cismar com certo piso construído num canto do terreno, pavimentado com grossa camada de cimento, levantou logo suspeitas contra aquele curioso trabalho... Chegou a pensar que ali estava oculto o cadáver... “Não! Eu devo estar é imaginando coisas”, pensou em voz alta.

Quando o delegado achava que tudo estava mesmo acabado, que novas diligências seriam inúteis, alguém de “respeitabilidade a toda prova” deixou-o tão animado quanto perplexo.

Certo profissional da mecânica de automóveis, cujo nome ele o preservou, reacendeu-lhe o entusiasmo, o faro investigativo.

O mecânico, diga-se de passagem, consertava, fazia a manutenção do automóvel dele, inclusive, das viaturas policiais, e não sabia da sua crença nos Espíritos.

Sem intimidade com o cliente, o mecânico não tinha ideia das noites insones, das cobranças e críticas que o delegado enfrentava, muito embora soubesse do misterioso sumiço pelos jornais, emissoras de rádio, de TV e de boca a boca.

Certa feita, enquanto o delegado aguardava silenciosa e pacientemente o conserto do automóvel, o mecânico, de súbito, falou: “Doutor, meus ‘amigos espirituais’ dizem que o senhor pensou bem. Siga adiante!” Um detalhe: depois se soube que o mecânico era um médium que possuía a faculdade de ouvir os Espíritos, ou seja, médium audiente. 

Noutra oportunidade, valendo-se de novo dos serviços do mecânico, o delegado ouviu dele: “Doutor Camilo, meus amigos insistem em dizer que o senhor deve prosseguir, o senhor está certo em ter pensado aquilo...”. Foi aí que ele resolveu, de uma vez por todas, dar crédito às afirmativas dos Amigos Espirituais do médium, ainda que sem nenhuma base segura consoante exigências jurídicas. 


Sem mandado judicial, na calada da noite...


Fora dos princípios do Direito, pois, como já referimos, o caso fora arquivado por falta de provas, Camilo resolveu correr sério risco.

Sem mandado de segurança, na calada da noite, ele entrou na propriedade, cismado com aquele piso, previamente sabendo, através dos amigos e sócios do desaparecido, que ali seria um lugar destinado à construção de uma churrasqueira. Agiu o mais depressa possível e com bastante prudência; não podia errar. 

Após destruir todo o piso, revolver a terra debaixo com uma escavadeira, pás e picaretas tomadas emprestadas da prefeitura local, depois de buracos e mais buracos cavados, finalmente, o cadáver! 

Era o que se supunha (Camilo tinha muita intuição), aquilo que os “amigos” do mecânico, os Espíritos, ratificaram e quiseram que ele levasse a sério. 

Com a ajuda dos equipamentos da prefeitura e a mão-de-obra de presos bem comportados da cadeia da delegacia, descobriram o corpo a alguns metros embaixo daquele piso.

Três penosos meses de buscas ininterruptas decorreram, pressões de toda a parte, da sociedade, da imprensa, e Camilo disse que não sabia mais o que era uma noite de sono tranquilo. 

O cadáver, acharam-no em bom estado de conservação e facilmente reconhecível debaixo da terra, desde há muito, graças à boa qualidade do terreno.

Camilo conseguiu chegar aos autores do crime, deu-lhes voz de prisão, àqueles mesmos acima referidos, os que pareciam livres de quaisquer suspeitas: o sargento reformado do Exército e a companheira.

Acabaram confessando o crime.

Íntimos da vítima e seus familiares, aparentavam sentir grande afeto por eles, e ainda se mostravam pesarosos pelo desaparecimento.

A vítima foi a óbito depois de rígida discussão com eles por causa da compra do imóvel, culminando com um tiro de pistola calibre 4.5; como golpe de misericórdia, recebeu violenta pancada na cabeça dada pela mulher, com uma pá, segundo ela confessou. 


Deram trabalho, reagiram à captura


Os algozes do advogado deram muito trabalho, reagiram à captura e, é claro, foram também punidos por isso. Recebendo o veredicto pelo homicídio e a ocultação de cadáver, descobriu-se outro homicídio.

Mataram, para queima de arquivo, aquele que construiu o piso e ajudou a enterrar o cadáver: um pedreiro.

Supunham que jamais seriam descobertos, punidos. Após tirar a vida do pedreiro, penduraram-no com uma corda em uma árvore, noutro lugar, como se ele tivesse cometido suicídio, enforcando-se.

“Se não fosse o importante auxílio dos Espíritos, o caso ficaria sem esclarecimento”, disse Camilo.

Camilo contou que era espírita desde 1986.

Trabalhador da Fraternidade Espírita Irmão Alexandre, daquela cidade mineira, revelou que costumava escarnecer do Espiritismo no tempo em que era católico romano.

Zombava da crença de sua mulher até o dia em que ela conseguiu convencê-lo a assistir a uma reunião pública no centro espírita que frequentava. “Aceitei ir ao centro da minha mulher com o intuito de aumentar o repertório de críticas e caçoadas.”

“Fiquei desarmado! Lá só vi amor ao próximo e verdadeiro espírito de fraternidade; senti muita paz e, principalmente, ouvi falar dos ensinamentos de Jesus como nunca ouvira antes!”, declarou.

Finalmente, disse ele que sempre agradece a Deus por duas coisas: por ter sido católico e por ser delegado de polícia, da Polícia Civil mineira. “Foi por meio destas duas instituições que cheguei à Doutrina Consoladora”, exclamou encerrando a palestra sob calorosos aplausos dos confrades e colegas membros da Udesp e dos demais profissionais da Justiça, partícipes daquele memorável encontro no auditório da ADPESP.


Davilson Silva





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Segurança Pública e Mediunidade



[...] Quanto ao trabalho policial podemos deduzir certas regras ou orientações sem a pretensão de esgotar o assunto.

Para auxiliar aqueles que queiram utilizar seriamente a capacidade mediúnica, no trabalho de investigação, apresentamos alguns parâmetros que podem ser úteis:

1- Qualquer informação recebida por trabalho mediúnico deve ser tratada como informação anônima, sendo verificada com cuidados redobrados.

2- Não estando os Espíritos à nossa disposição, não é indicado manter médiuns como auxiliares permanentes do trabalho policial.

3- Não havendo como confirmar sempre a identificação dos Espíritos, além do que, muitas vezes o desencarnado perde todo o interesse dos fatos ocorridos na terra, devemos duvidar metodicamente de recém desencarnados que se manifestem a respeito de delitos que teriam se envolvido de alguma forma.

4- Quanto mais recente a morte da vítima, maior a dúvida quanto à sua identidade na manifestação mediúnica.

5- As informações jamais deverão ser remuneradas, seja com dinheiro, propaganda ou qualquer outro benefício ao médium.

6- As informações por intermédio de médiuns deve ser analisadas em conjunto com todas as outras provas obtidas no trabalho de investigação.

7- Não se deve revelar nada de relevante ao médium a respeito dos fatos investigados, seja antes, ou depois da manifestação espiritual.

8- O fato dos Espíritos saberem algo ainda não conhecido na investigação, não significa que eles saibam tudo ou tenha permissão para revelar tudo que sabem.

9- Nunca insistir em questão alguma não respondida para evitar Espíritos levianos que darão informações erradas por diversão.

10- Na dúvida, deve-se descartar a informação, se realmente for verdade os Espíritos superiores saberão fazer chegar a quem direito de forma fortuita.

11 – A manifestação mediúnica é apenas um auxiliar da investigação e não um substituto dela.

12- A manifestação mediúnica apenas indica um caminho a seguir, ficando a cargo do policial, obter provas com o uso de sua inteligência e trabalho.

13- Receber com muita cautela quando um Espírito revelar tudo a respeito do crime investigado, isto é indício de falsidade.

14- Não se preocupar com a ausência de informações porque não sabemos das Escolhas do Espírito antes de encarnar. Muitas vezes, nós mesmos escolhemos nossas provas, e nos livrar delas seria um desserviço.

15- Devemos confiar em Deus porque somos imperfeitos. Ele sabe o que seria bom nos revelar ou não.

16- O médium não é testemunha, é apenas intermediário na comunicação entre mortos e vivos. Muitos são chamados de inconscientes porque nada presenciam quando estão em transe mediúnico.


Utilizando-se destes critérios, é possível obter muita ajuda espiritual no trabalho policial, sem cair no ridículo e na pieguice das mistificações que poderiam levar em torno do assunto.

Além do mais, se evitaria a descrença ao afirmar que o Espiritismo seria a solução final para desvendar todos os delitos.

Na verdade, a Doutrina Espírita é a solução para suportarmos com resignação e fé as dores dos crimes que ainda suportaremos por muito mais tempo na Terra. [...]




Dr. João Francisco Crusca - delegado da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Coordenador da UDEsp (União dos Delegados Espíritas do Estado de São Paulo) e da Fraternidade Espírita Aurora da Paz (Feap), na capital paulistana, onde atua como expositor do Evangelho.





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