Pais e Filhos
Embora soem estranhas, certas palavras e frases ditas por
Jesus, que pregou o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo como lei máxima,
como questionar sobre "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?", no
contexto em que aparecem no texto evangélico, precisam ser analisadas
profundamente por quem deseja interpretá-las e o parâmetro a ser usado é o
conjunto de ensinamentos do Mestre de Nazaré.
De acordo com Jesus, somente aquele que faz a vontade de
Deus é seu irmão, sua irmã e sua mãe. Em outra passagem evangélica, ele nos
ensina a honrar pai e mãe.
Os espíritos que instruíram O Evangelho Segundo o
Espiritismo, codificado por Kardec, explicam que esse aparente paradoxo não
existe e que, pelo entendimento do que é parentesco espiritual e do que é
parentesco corporal, consegue-se chegar à essência do ensinamento ministrado
por Jesus.
Com uma frequência ultimamente assustadora, somos assaltados
com notícias de pais matando filhos e filhos matando pais. O que é que está
acontecendo?
Para que se dê abrigo a um espírito na forma de filho, é necessário,
por enquanto, a união de um óvulo feminino com um espermatozóide, que pode ser
realizada hoje de diversas formas, sem que, necessariamente, um casal se
relacione sexualmente.
Nos relacionamentos tradicionais, o que nos leva a nos unir
a determinado parceiro(a)? Por que fizemos a escolha por ele ou por ela? Quais
são os motivos que embasaram tal escolha?
Cada um tem seu motivo particular, baseado em necessidades
reais ou imaginárias: segurança financeira, crenças equivocadas, carência
afetiva que pode ser confundida com amor, paixão sexual, medo de ficar
sozinho(a) e outras.
Poucos de nós têm consciência do motivo real de nossa
escolha.
Sob a bandeira do amor abrigam-se as mais diversas
motivações íntimas, tanto que, com as regras sociais mais frouxas, ultimamente
o número de divórcios vem crescendo mais que o número de casamentos legais.
Voltemos ao nosso tema: será que, na maioria das vezes, não
fazemos escolhas erradas?
Quantas vezes percebemos, passado um tempo, que fizemos
opções equivocadas, baseadas em premissas falsas?
Se o ponto de partida é nebuloso, chegar a um resultado
satisfatório é bastante incerto ou improvável.
União, casamento ou parceria
realizada, vem o filho ou os filhos, fato que acontece mesmo para quem não tem
parceiro.
André Luís, no livro entre a Terra e o Céu, capítulo 27,
psicografado por Chico Xavier, relata o esclarecimento de Clarêncio sobre o
processo reencarnatório:
"A reencarnação, por si, tanto quanto ocorre nos
reinos inferiores à evolução humana, obedece a princípios embriogênicos
automáticos, com bases na sintonia magnética; contudo, em se tratando de
criaturas com alguns passos à frente da multidão comum, é possível ajustar
providências que favoreçam a execução da tarefa a cumprir".
Isso significa que, na maioria dos casos (creio que grande
parte da população terrestre pertence à multidão comum), o processo
reencarnatório é realizado por sintonia magnética, ou seja, atraímos o espírito
reencarnante de acordo com nossas vibrações, sem o concurso direto de espíritos
de estirpe mais elevada.
Se nos ligamos sexualmente a alguém de forma fortuita e as
condições biológicas são propícias, atraímos o espírito que está sintonizado
conosco naquele momento.
Assim, nem sempre os filhos que geramos possuem algum laço
de parentesco anterior conosco.
A resposta dada pelos espíritos na questão 388 de O Livro
dos Espíritos sobre a indagação de que se reencontros, que aparentemente são
obra do acaso, não são efeitos de relações simpáticas entre os espíritos,
fortalece esse entendimento:
"Há
entre os seres pensantes laços que não conheceis ainda. O magnetismo é o guia
desta ciência que compreendereis melhor mais tarde".
Foi nos ensinado que toda mulher possui um instinto
maternal, ou seja, a maternidade é um sentimento inato.
A História e estudos no campo da antropologia e da
psicologia afirmam que o amor materno é um conceito aprendido e que essa visão
moderna de que um filho complementa a mãe foi criada no apagar das luzes do
século XVIII.
Até então, uma criança era tão desconsiderada e tão pouco
importante que as mães não cuidavam delas, que era encaminhada a uma ama. Nem a
morte de um filho era encarada como perda porque podia ser facilmente
substituído.
Tanto era assim que, a pediatria, especialidade de
assistência médica às crianças, só surgiu no início do século XIX, quando a
criança foi alçada ao patamar em que está hoje.
Kardec pergunta se o amor maternal é uma virtude ou um
sentimento instintivo comum aos homens e aos animais (questão 890 do LE) e a
resposta é a seguinte:
"É uma e outra. A Natureza deu à mãe o amor pelos
seus filhos no interesse de sua conservação. Mas entre os animais esse amor é
limitado às necessidades materiais: cessa quando os cuidados se tornam inúteis.
Entre os homens ele persiste por toda a vida, e comporta um devotamento e uma
abnegação que são da virtude (...)."
Pela força das Leis de Reprodução e Conservação geramos
filhos para perpetuar a espécie (instinto), mas, a virtude de quem fala os
espíritos é uma conquista humana necessária ao progresso espiritual de toda
criatura.
Embora haja ainda pressão social em cima dos casais sem
filhos, muitas mulheres e muitos homens declaram que não desejam ser pais, que
não sentem vontade nem se julgam com habilidade ou preparados para criar
filhos, que a maternidade ou a paternidade não estão no foco de suas vidas e
que não se sentem incompletos ou infelizes por isso.
Pesquisadores do assunto defendem a tese de que instinto e
amor materno não são palavras sinônimas em vista do instinto ser um sentimento
nato e o amor, um sentimento a ser desenvolvido. Portanto, o amor das mães
pelos filhos é uma virtude a ser aprendida.
A tese acima exposta derruba outro mito que impera nas
relações maternais: o de que todas as mães amam da mesma forma e com igual
intensidade todos os seus filhos.
Amar, elas amam, mas há sempre uma afinidade maior com um
dos filhos que se explica pelo parentesco espiritual.
Os espíritos, na questão 205 do LE, elucidam que "os
espíritos, são, frequentemente, atraídos em tal ou tal família em razão de
simpatia ou por laços anteriores". Dessa forma, pode acontecer de entre os
filhos haver aqueles que se unem aos pais por afinidade e outros que foram
atraídos por vibração magnética sem laços anteriores.
Não podemos nos esquecer de que em todo ser humano há um casal
interno: o arquétipo feminino voltado para acolher, cuidar, proteger; e o
masculino para prover.
O espírito pode animar tanto um corpo masculino como um
feminino, de acordo com sua necessidade de aprendizado e evolução.
Ora desempenha o papel de protetor ora de
provedor, ambos com uma só missão: aprender a amar.
O espírito não é criado já sabendo amar, mas com a
capacidade de desenvolver e vivenciar com plenitude esse sentimento. O amor é
um aprendizado, em qualquer forma em que se expresse.
Portanto, o amor maternal e o paternal também passam por um
processo de aprendizagem.
Conviver com espíritos que nos são afins é muito fácil, é
prazeroso, o relacionamento flui com naturalidade.
Mas, conviver com um ou mais espíritos com quem não temos
qualquer afinidade dentro de um núcleo familiar, ou mesmo social, é difícil,
pesado, gera foco de desentendimentos e até agressões mútuas.
Mas são justamente nessas relações turbulentas que
exercitamos os nossos talentos interiores, que desenvolvemos o sentimento do
amor.
Conviver com os diferentes de nós é experiência necessária
ao nosso desenvolvimento espiritual.
Todos nós buscamos viver bem e de preferência, feliz, e
quando os interesses particulares daquele que quer se sentir bem se sobrepõem
aos interesses dos demais que lhe estão próximos, ou lhe são impostos,
instala-se o conflito.
Não podemos dizer ao outro que ele está errado, mas
precisamos ter habilidade de fazê-lo enxergar, por si só, que suas atitudes não
estão fazendo bem a ninguém, nem a ele mesmo.
Bater de frente também não adianta: isso causa um desgaste
geral em todos os envolvidos. É preciso saber lidar com a situação e é por isso
que ela se apresenta a nós.
É claro que não estamos obrigados, em nome do aprendizado, a
suportar humilhação ou violência.
Entretanto, prestar mais atenção na motivação que origina os
conflitos com aqueles que nos são antipáticos ou com aqueles que nos inspiram
repulsa ou ódio facilita muito nosso processo de amadurecimento espiritual.
Pode ser que, em muitos casos, não haja nada que possamos
fazer para solucionar o conflito, uma vez que em uma contenda ou desentendimento
há sempre duas ou mais pessoas envolvidas, mas, saber analisar a situação com
maturidade já é de grande valia.
Voltemos ao ponto de partida: o que está acontecendo nas
relações entre pais e filhos?
Para essa pergunta não há uma resposta pronta e completa,
uma vez que inúmeras variáveis devem ser consideradas. No entanto, ter
consciência de que filhos-problemas não são castigos divinos e que as relações
negativas podem ser transformadas em positivas auxilia bastante.
Primeiramente, é necessário fazer uma reflexão: como estamos
formando e educando nossos filhos? Para
serem dependentes ou independentes? Quais exemplos estamos dando a eles? Quando
estamos juntos, demonstramos nosso afeto e nossa consideração por eles? Quais
valores e crenças estamos transmitindo?
A psicóloga Rosely Sayão, em artigo publicado no caderno
Equilíbrio do jornal Folha de São Paulo, em 13/11/08, sobre brigas e
desentendimentos entre os filhos e colegas, defende a idéia de que:
"As relações
familiares horizontais e verticais têm sido suprimidas no nosso novo estilo de
vida.
As crianças não convivem mais - ou convivem pouco - com seus parentes, por exemplo, o que torna as relações com os pais quase que únicas no aprendizado de fazer parte de um grupo.
Por isso, faltam às crianças oportunidades para experimentar relações com pessoas com as quais descobrem ter pouca afinidade e com quem nem sempre se dão bem.
E é justamente nessas situações é que poderiam aprender que para conviver é preciso ter consideração pelo outro, relevar e fazer concessões".
As crianças não convivem mais - ou convivem pouco - com seus parentes, por exemplo, o que torna as relações com os pais quase que únicas no aprendizado de fazer parte de um grupo.
Por isso, faltam às crianças oportunidades para experimentar relações com pessoas com as quais descobrem ter pouca afinidade e com quem nem sempre se dão bem.
E é justamente nessas situações é que poderiam aprender que para conviver é preciso ter consideração pelo outro, relevar e fazer concessões".
Em outro artigo, publicado em 21/08/08, ela afirma que
"As pessoas
precisam saber que compartilhar, colaborar, dialogar e compreender são palavras
chaves na construção de um relacionamento.
E que conviver bem não significa, de modo nenhum, viver sem conflitos.
Ao contrário: conviver bem supõe aprender a negociar os conflitos que surgem".
E que conviver bem não significa, de modo nenhum, viver sem conflitos.
Ao contrário: conviver bem supõe aprender a negociar os conflitos que surgem".
Quando soubermos nos relacionar e conviver com aqueles que
são diferentes de nós, compreenderemos a lição de Jesus.
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