Contei meus anos e
descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que
já vivi até agora.
Tenho muito mais
passado do que futuro.
Sinto-me como aquele
menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo
para lidar,com mediocridades.
Não quero estar
em,reuniões onde desfilam,egos inflamados.
Inquieto-me com
invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus
lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo
para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre
vidas alheias
que nem fazem parte da
minha.
Já não tenho tempo
para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade
cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação
de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral
do coral.
As pessoas não debatem
conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se
escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem
pressa...
Sem muitas cerejas na
bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe
rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se
considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, o essencial faz a vida
valer a pena.
E para mim, basta o
essencial!
(Mário de Andrade)
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário