“Eu te conserto
nem que seja na pancada.”
Se esta frase em alguma
oportunidade de sua infância foi dirigida a você, parabéns! Você
teve pais que se importavam com o seu futuro.
Contrário ao que a
mídia contemporânea pretende nos fazer crer, a criação dos filhos
nos anos 70/80 não era sinônimo de violência e sim de um “amor
maior que o mundo”. Aquele que nos preenche e sempre traz à tona
lições aprendidas no passado.
“Veto à palmada”
defendem os parlamentares. “Eu chamo o Conselho Tutelar”,
ameaçam as crianças. “O Estatuto de Criança e do Adolescente
não permite que eu seja punido”, bradam os adolescentes.
Que futuro é esse? -
pergunto eu. Não se pretende aqui defender o espancamento de
qualquer infante.
Na realidade o que se
questiona é onde foi parar a autoridade dos pais em pleno século
XXI?
Importantes valores
aprendidos no seio familiar algumas décadas atrás parecem estar
simplesmente sendo substituídos pela completa ausência de limites.
Com frases como “se
você e seu irmão pretendem se matar, podem rachar fora que acabei
de encerar a casa” nos chamavam atenção desde a infância para a
necessidade de respeitarmos o trabalho do próximo e a valorizar o
resultado de nossos esforços no futuro.
McDonald’s e Bob’s
que nada. Era arroz, feijão, verdura e, quando o dinheiro dava, um
pedaço de carne. Sanduíche só uma vez por mês e precisava
merecer.
Refrigerante? Apenas
aos domingos, quando a família se reunia para almoçar. E se
reclamasse da disciplina da alimentação saudável, a resposta era
simples: “Fecha a boca e come tudo. Não vai levantar enquanto não
terminar”.
Parece crueldade?
Ninguém ficou doente ou traumatizado por causa disso. Na realidade
aprendemos a nos alimentar corretamente e colocar no prato apenas a
quantidade que vamos consumir.
Fugindo à regra da
alimentação saudável, esta semana dei uma passada em tradicional
lanchonete da rua São Benedito para comer uma “coxinha de frango
com catupiry”. Uma verdadeira delícia perturbada por uma criança
que dava birra, gritava, esperneava e chorava sem parar porque queria
um refrigerante gelado e a mãe dizia que ela não podia por causa da
garganta.
A mãe se deu por
vencida e entregou o guaraná gelado para o filho mal educado,
reforçando assim a quem pertence o comando nas relações
familiares.
Outrora, bastava um
olhar. Se não desse resultado, logo se ouvia: “Continua chorando
que vou te dar um bom motivo pra chorar. Quando chegarmos em casa
acertamos as contas”. Nesse momento a paz era imediatamente
restabelecida.
Ir à missa era outra
prática comum. Todos os domingos precisávamos acordar cedo para
agradecer a Deus pelas bênçãos da semana que findou e pedir
proteção para a semana que se iniciava.
Aliás, a fé era algo
que se aprendia a cada nova “arte” que “inocentemente”
praticávamos: “É melhor você já ir rezando pra essa mancha do
seu uniforme sair”. Os minutos ou horas que se seguiam pareciam nos
remeter ao cinema. Ficávamos todos “a espera de um milagre”.
E por falar em bênção,
esta palavra não se limitava aos atos de fé. Constituía também um
gesto de respeito para com os mais velhos. Avós, pais, tios. Esse
era o cumprimento de uma criança ou adolescente, mas se estendia aos
adultos, uma prática de “etiqueta” indispensável ao bom
convívio familiar: “Vai tomar bênção da sua avó ou piso no seu
pescoço”.
O respeito das crianças
alcançava inclusive a conversa dos adultos. Nada de interrupções.
Em caso de um pequeno deslize bastava um olhar do pai ou da mãe que
o “recado” estava dado.
A hierarquia doméstica
também era regra clara. Quantos pedidos nós tivemos recusados e o
questionamento da motivação pela negativa era respondido
simplesmente com: “Porque eu disse que não pode. Ponto final”.
Aprendíamos assim a
não questionar o tempo todos as ações que nossos pais praticavam,
afinal o objetivo era apenas um: o nosso bem-estar.
É claro que como todo
“rebelde sem causa” tínhamos nossos momentos de frustração que
por vezes resultava em uma má resposta aos nossos genitores.
A
hierarquia não era ameaçada por esses pequenos gestos de
“insurreição”: “Me responde de novo e eu te arrebento os
dentes”. Sempre preferi preservar o meu sorriso. Jamais me
arriscaria a ficar “banguelo”!!!
Visitar um parente ou
amigo da família era sempre uma “situação de risco”. A
preparação começava pelo menos uma semana antes.
Era preciso cuidado com
as roupas, calçado, cabelo, unhas, mas principalmente com o
comportamento.
A orientação prévia
era extensa e incluía o veto a aceitar qualquer bebida e alimento
sem antes ser autorizado pelos pais. E, ainda, “nada de pegar fogo
com o filho dos outros senão te parto ao meio”.
Era aquilo que no
“Kardecismo” se chama disciplina.
Vez por outra
acabávamos tomando uma boa surra, é verdade. Mas nada que nos
deixasse traumatizados ou depressivos. Ao contrário, a advertência
valia por toda uma vida. Bom motivo para uma “tunda” era, por
exemplo, aparecer em casa com algum “objeto novo”.
A mãe queria sempre
saber a origem e isso incluía uma visita ao local/pessoa de onde
teria saído o mesmo. Caso a “transação” não fosse “lícita”,
como trocar uma lapiseira por uma caneta sem autorização dos pais,
“o chinelo comia”.
Aprendemos assim a ter
respeito pelo patrimônio alheio.
Desculpem-me aqueles
que acreditam ser esta uma pedagogia ultrapassada, equivocada e sem
valor.
É claro que existem
novas técnicas, que também são bem-vindas. Mas é fato que as
coisas mudaram e foi para pior.
Os pais mostram-se
impotentes diante de crianças e adolescentes cada vez mais
agressivos e sem limites. Os infantes falam alto, não respeitam
ninguém e sentem desprezo pelas regras e convenções sociais.
Se um futuro melhor é
aquele em que crianças são ensinadas e incentivadas a um processo
de erotização precoce; usam roupas, maquiagens e praticam danças
inadequadas para a idade; aos dez anos já se tornam mães e tudo o
que fazem é considerado “bonitinho” e “normal” pelos pais,
graças a Deus nasci no momento certo: integro talvez a última
geração educada não pela palmada, mas pelo amor incondicional dos
pais, que mesmo com todo o rigor empregado em nossa formação
deixaram-nos um legado de carinho, boas lembranças e condições de
sobreviver em um mundo que se torna a cada dia mais inóspito.
(François Ramos)
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário