22 fevereiro 2014

Condenados - Fatima Guedes



Depois de tudo te amarei 
como se fosse sempre antes 
como se de tanto esperar 
sem que te visse nem chegasses 
estivesses eternamente 
respirando perto de mim. 

Perto de mim com teus hábitos, 
teu colorido e tua guitarra 
como estão juntos os países 
nas lições escolares 
e duas comarcas se confundem 
e há um rio perto de um rio 
e crescem juntos dois vulcões. 

Perto de ti é perto de mim 
e longe de tudo é tua ausência 
e é cor de argila a lua 
na noite do terremoto 
quando no terror da terra 
juntam-se todas as raízes 
e ouve-se soar o silêncio 
com a música do espanto. 

O medo é também um caminho. 
E entre suas pedras pavorosas 
pode marchar com quatro pés 
e quatro lábios, a ternura. 
Porque sem sair do presente 
que é um anel delicado 
tocamos a areia de ontem 
e no mar ensina o amor 
um arrebatamento repetido.


(Pablo Neruda)



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