Pela minha terra clara
e o povo que nela
habita
e fala a língua que eu
falo,
juro nunca me render.
Pelo menino que fui
e o sossego que desejo
para o velho que serei,
juro nunca me render.
Pelas árvores fecundas
que nos dão frutos
gostosos
e as aves que nelas
cantam,
juro nunca me render.
Pelo céu que não tem
margens
e as suas nuvens
boiando
sem remorso nem receio,
juro nunca me render.
Pelas montanhas e rios
e mares que os rios
buscam,
com o seu murmúrio
fundo,
juro nunca me render.
Pelo sol e pela chuva
e pelo vento disperso
e pela plácida lua,
juro nunca me render.
Pelas flores delicadas
e as borboletas irmãs
que nos livros
espalmei,
juro nunca me render.
Pelo riso que me
alegra,
com a sua nitidez
de guizos e de
alvorada,
juro nunca me render.
Pela verdade que
afirmo,
dos que a verdade
demandam
até à contradição,
juro nunca me render.
Pela exaltação que
estua
nos protestos que não
escondo
e a justiça que os
provoca,
juro nunca me render.
Pelas lágrimas dos
pobres
e o pão escasso que
comem
e o vinho rude que
bebem,
juro nunca me render.
Pelas prisões em que
estive
e os gritos que lá
esmaguei
contra as mãos
enclavinhadas,
juro nunca me render.
Pelos meus pais e meus
avós
e os avós dos avós
deles,
com o seu suor antigo,
juro nunca me render.
Pelas balas que vararam
tantos peitos de homens
justos,
por amarem muito a
vida,
juro nunca me render.
Pelas esperanças que
tenho,
pelas certezas que
traço,
pelos caminhos que
piso,
juro nunca me render.
Pelos amigos queridos
e os companheiros de
idéias,
que são amigos também,
juro nunca me render.
Pela mulher a quem amo,
pelo amor que me tem,
pela filha que é dos
dois,
juro nunca me render.
E até pelos inimigos,
que odeiam a liberdade,
e por isso não são
livres,
juro nunca me render.
(Armindo Rodrigues)
* * *
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