27 junho 2014

Campo de Prisioneiros


Fomos separados de nossos pais.

Depois fomos separados de nossos irmãos.

Tiraram-nos tudo, até nossas roupas, e fomos jogados em celas imundas e frias.

Recebíamos uma minguada ração uma vez por dia, depois de catorze horas de trabalho no verão e de tantas horas quanto durasse a luz no inverno.

Eu era forte e saudável, por isso durei algum tempo naquele inferno.

Tempo suficiente para nutrir-me de ódio por meus opressores e de não compreender como alguns de meus compatriotas seguiam resignados diante de tanta barbárie.

Diariamente presenciava humilhações, tortura, dor e morte. Tudo sem o menor sentido.

Chegou minha vez. Desencarnei pele e osso, nem sombra daquele rapaz forte e saudável de antigamente.

Emergi no mundo espiritual transbordando em ódio e desejo de vingança. Persegui nossos algozes encarnados o quanto pude, buscando atormentá-los e enfraquecê-los.

Mas, apesar de estar livre do inferno do campo de prisioneiros, continuava prisioneiro de mim mesmo, da minha incompreensão.

Aos poucos o cansaço foi abatendo meu desejo de vingança, e comecei a ver em breves lapsos, gente do meu povo ajudando na desencarnação e elevação daqueles que tanto nos fizeram sofrer.

Não aceitava aquilo e ficava ainda mais confuso.

Num dia, numa abertura temporal mais duradoura (na realidade era minha lucidez espiritual aflorando...) pude assistir a um grupo de socorristas trabalhando no campo, ostentando ainda a estrela em suas vestes brancas.

Num ímpeto de fúria, agarrei o mais próximo pelo braço e, tentando remover a estrela da manga de seu casaco, bradei:
- Que está fazendo? Por que ajuda o nosso inimigo? Ao menos remove esta marca que nos impõe!

O rapaz interrompeu o que fazia e fitando-me com uma serenidade desconcertante, disse-me:
- Já não sofrestes o bastante para iluminar teu espírito? Por que queres causar ainda mais dor? Lembra-te de Jesus, que pagou o sofrimento a Ele infligido com Amor.
Aqui trabalhamos em nome d'Ele, resgatando aqueles que, com sinceridade, reconhecem seus erros e buscam uma chance de repará-los. Por que não segue conosco?

A aquela altura muitos de seus companheiros cercavam-me. Senti-me bem, como há muito tempo, mas simplesmente não podia trabalhar por quem tanto me fez sofrer. Fiquei por ali.

Em muitas outras oportunidades observei aquele bendito trabalho, e acabei convencendo-me que mais sofre quem faz sofrer, ao perceber que, para meu povo, desencarnar significava uma nova oportunidade, o merecido alívio, enquanto que para os nazistas era o início de seu martírio.

Reencontrando aquele irmão que tão rudemente abordei em oportunidade anterior, desculpei-me humildemente e pedi auxílio.

Curaram-me. Hoje trabalho na recuperação das almas que um dia julgaram-se capazes de repovoar a Terra com uma raça humana soberbamente chamada de "superior".

Aqui, todos nós aprendemos em gotas de paciência e amor, que ser superior é saber amar incondicionalmente ao próximo, como Jesus nos ama.

Um dia, queira Deus, todos nós, personagens daquela horrível tragédia do século XX, teremos aprendido a sermos verdadeiramente superiores, e poderemos então, ajoelhar-nos aos pés do Grande Mestre Jesus.

Que Deus abençoe a todos.



(Autor: Anônimo, Psicografado por: Cleber P. Campos)







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