Depois fomos separados
de nossos irmãos.
Tiraram-nos tudo, até
nossas roupas, e fomos jogados em celas imundas e frias.
Recebíamos uma
minguada ração uma vez por dia, depois de catorze horas de trabalho
no verão e de tantas horas quanto durasse a luz no inverno.
Eu era forte e
saudável, por isso durei algum tempo naquele inferno.
Tempo suficiente para
nutrir-me de ódio por meus opressores e de não compreender como
alguns de meus compatriotas seguiam resignados diante de tanta
barbárie.
Diariamente presenciava
humilhações, tortura, dor e morte. Tudo sem o menor sentido.
Chegou minha vez.
Desencarnei pele e osso, nem sombra daquele rapaz forte e saudável
de antigamente.
Emergi no mundo
espiritual transbordando em ódio e desejo de vingança. Persegui
nossos algozes encarnados o quanto pude, buscando atormentá-los e
enfraquecê-los.
Mas, apesar de estar
livre do inferno do campo de prisioneiros, continuava prisioneiro de
mim mesmo, da minha incompreensão.
Aos poucos o cansaço
foi abatendo meu desejo de vingança, e comecei a ver em breves
lapsos, gente do meu povo ajudando na desencarnação e elevação
daqueles que tanto nos fizeram sofrer.
Não aceitava aquilo e
ficava ainda mais confuso.
Num dia, numa abertura
temporal mais duradoura (na realidade era minha lucidez espiritual
aflorando...) pude assistir a um grupo de socorristas trabalhando no
campo, ostentando ainda a estrela em suas vestes brancas.
Num ímpeto de fúria,
agarrei o mais próximo pelo braço e, tentando remover a estrela da
manga de seu casaco, bradei:
- Que está fazendo?
Por que ajuda o nosso inimigo? Ao menos remove esta marca que nos
impõe!
O rapaz interrompeu o
que fazia e fitando-me com uma serenidade desconcertante, disse-me:
- Já não sofrestes
o bastante para iluminar teu espírito? Por que queres causar ainda
mais dor? Lembra-te de Jesus, que pagou o sofrimento a Ele infligido
com Amor.
Aqui trabalhamos em
nome d'Ele, resgatando aqueles que, com sinceridade, reconhecem seus
erros e buscam uma chance de repará-los. Por que não segue conosco?
A aquela altura muitos
de seus companheiros cercavam-me. Senti-me bem, como há muito tempo,
mas simplesmente não podia trabalhar por quem tanto me fez sofrer.
Fiquei por ali.
Em muitas outras
oportunidades observei aquele bendito trabalho, e acabei
convencendo-me que mais sofre quem faz sofrer, ao perceber que, para
meu povo, desencarnar significava uma nova oportunidade, o merecido
alívio, enquanto que para os nazistas era o início de seu martírio.
Reencontrando aquele
irmão que tão rudemente abordei em oportunidade anterior,
desculpei-me humildemente e pedi auxílio.
Curaram-me. Hoje
trabalho na recuperação das almas que um dia julgaram-se capazes de
repovoar a Terra com uma raça humana soberbamente chamada de
"superior".
Aqui, todos nós
aprendemos em gotas de paciência e amor, que ser superior é saber
amar incondicionalmente ao próximo, como Jesus nos ama.
Um dia, queira Deus,
todos nós, personagens daquela horrível tragédia do século XX,
teremos aprendido a sermos verdadeiramente superiores, e poderemos
então, ajoelhar-nos aos pés do Grande Mestre Jesus.
Que Deus abençoe a
todos.
(Autor: Anônimo,
Psicografado por: Cleber P. Campos)
* * *
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