Um amigo dizia:
– Não sei por que o Natal traz-me indefinível nostalgia,
relacionada com algo muito importante, esquecido no passado distante… Talvez
uma ligação afetiva, um amor que se foi na voragem do tempo, uma situação mais
feliz ou – quem sabe? – a própria pureza perdida.
Embora estejamos diante de um paradoxo, já que a gloriosa
mensagem natalina deveria inspirar sempre alegrias e esperanças, muitas pessoas
experimentam esse sentimento, associado a situações do passado próximo, na
existência atual ou ao passado remoto, em existência anteriores.
Basicamente, amigo leitor, eu diria tratar-se da nostalgia
por um ideal nunca realizado.
O magnetismo divino que emana da manjedoura, nas
comemorações do celeste nascimento, estabelece o confronto entre as propostas
sublimes do Evangelho e a realidade de nossa vida.
Do distanciamento entre o
que somos e o que Jesus recomenda, sustenta-se a nostalgia.
O simples fato de se comemorar o Natal com festas ruidosas
regadas a álcool, com sacrifício dos animais que o homenagearam junto à
manjedoura, e o desperdício de dinheiro e saúde pelos excessos cometidos, em
detrimento dos que não tem o que comer, demonstra quão longe estamos do
Evangelho, dos valores de fraternidade e solidariedade preconizados e
exemplificados por Jesus.
Curiosa situação essa, em que se festeja um aniversário
esquecendo o aniversariante e, sobretudo, o significado de seu natalício.
Basta lembrar alguns dos ensinamentos do Mestre, que
sistematicamente negligenciamos para perceber o porquê da nostalgia do Natal.
Usando imagens claras e objetivas, retiradas do cotidiano, Jesus fala-nos com a
simplicidade da sabedoria autêntica e a profundidade da verdade revelada.
Aos que criticam e condenam, demonstra, na inesquecível
passagem da mulher adúltera, que ninguém pode atirar a primeira pedra, porque
todos trazemos mazelas e imperfeições…
Aos que se perturbam com dificuldades do presente e temores
do futuro, recomenda que procurem o Reino de Deus, cumprindo a sua justiça, com
o empenho de levar a sério seus deveres para com o próximo, agindo com retidão
de consciência, e tudo o mais lhes será dado por acréscimo.
Aos que se apegam aos bens materiais, recorda que não se
pode servir a dois senhores, a Deus e às riquezas, e exemplifica com a história
de um homem ambicioso que ergueu muitos celeiros e amealhou muitos bens, mas
morreu em seguida, sem poder desfrutá-los, nada levando para o Além senão um
comprometedor envolvimento com os enganos do Mundo…
Aos que usam de violência para fazer prevalecer seus
interesses, esclarece que quem com ferro fere, com ferro será ferido…
Em todos os momentos, diante de qualquer dificuldade ou
problema, temos no Evangelho o roteiro precioso, capaz de nos ajudar a definir
a melhor atitude, o comportamento mais adequado, a iniciativa mais justa, sempre
fazendo ao próximo o bem que desejamos para nós.
Consumimos rios de dinheiro a procura de conforto, prazer,
entretenimento, buscando o melhor para nossa casa, nossa aparência, nossa
saúde, e deixamos de lado o recurso supremo, que não custa absolutamente nada:
as lições de Jesus.
Se o fizéssemos saberíamos que muitas vezes temos procurado
a felicidade no lugar errado, à distância do que ensinou e exemplificou o
Cristo, colhendo, invariavelmente, desilusões e tristezas que sustentam a
nostalgia do Natal.
(Richard Simonetti)
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