O poeta e jornalista Olavo
Bilac, a quem devemos os emocionantes versos do Hino à bandeira brasileira,
escreveu inspiradamente:
“Ora (direis) ouvir
estrelas! Certo perdeste o senso" e eu vos direi, no entanto, que, para
ouvi-las muita vez desperto e abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite,
enquanto a Via Láctea, como um pálio aberto, cintila. E, ao vir o sol, saudoso
e em pranto, inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora:
"Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido tem o que dizes,
quando não
estão contigo?" e eu vos
direi: "Amai para entendê-las!
Pois só
quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas".
* * *
O amor nos dá um sentido novo.
Não nos referimos apenas a ter significado a vida, mas um
novo sentido, uma sensibilidade a mais para compreender o mundo e as pessoas.
É essa tal sensibilidade que nos faz capazes de entender
melhor as razões da existência, que nos faz compreender melhor o outro e seu
mundo íntimo, que nos faz olhar mais para os lados, menos para o chão, mais
para céu.
Ouvir estrelas é receber a vida e compreender Deus de forma
mais suave, menos complicada, mais apaixonada.
Sim, pois para se entender e aceitar a vida é preciso estar
apaixonado por ela.
Para se entender e aceitar Deus faz-se necessário estar
apaixonado por Ele, em primeiro lugar. Senti-lO, antes de questioná-lO ou
entendê-lO com a razão.
Ouvir estrelas é perceber o que ninguém percebe. Num mundo
de tantas informações, de tantas notícias, é saber escolher o que desejamos
saber ou não, quando desejamos e quando não.
Ouvir estrelas é ter tempo para olhar quem você ama
demoradamente, num ato de contemplação simples, sem razões, sem porquês...
Ouvir estrelas é saber aceitar e aceitar-se, guardando no
coração a certeza de que tudo existe para o nosso bem, para nosso crescimento.
Ouvir estrelas é chorar de compaixão pela dor do outro, mas
não se afogar no lago dessas lágrimas. É sair dele antes que flutuemos na água.
É sair de nosso mundo e conhecer o do outro, fazendo parte dele ativamente, e
não apenas como espectador.
Mas antes é preciso amar... Sem o amor permanecemos surdos,
e as estrelas mudas para nós – adereços luxuosos para homens egocêntricos e
insensíveis.
* * *
Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com
amplo amor os seus irmãos em sofrimento!
Ditoso aquele que ama, pois não conhece nem a miséria da
alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de
si mesmo.
Quando Jesus pronunciou a divina palavra, amor, os povos se
sobressaltaram, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
* * *
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de
entender estrelas."
(Redação do Momento Espírita)
* * *
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