O que você está fazendo da sua vida?
"Eu queria
conduzir minha vida com base em minhas verdades"
Nietzsche costumava perguntar:
"Você viveu sua
vida? Ou foi vivido por ela? Escolheu-a, ou ela escolheu você? Amou-a ou a
lamentou?"
E, quando lhe pediam conselhos, o alemão dizia:
"Não posso lhe
ensinar como viver de forma diferente, pois, se o fizesse, você continuaria
vivendo o projeto de outrem, e não o seu próprio".
Ter um projeto próprio é uma busca demasiadamente humana.
Mas... como?
A quantidade de influências que recebemos ao longo de nossa
vida, com pessoas procurando nos moldar e nos transformar em uma espécie de
replicantes, é imensa.
E não há erro aparente nisso, pois qual é o pai que não quer
o bem para a vida de seu filho e, nessa busca, acaba influenciando suas
escolhas e seus caminhos?
Mas um pai não pode viver de novo sua vida por meio de seu
filho.
Ele pode orientar, alertar, ensinar, mas não viver a vida do
filho, ou pelo filho.
Dar raízes e asas, esse é o grande desafio da paternidade.
Mas não é fácil, eu sei. É difícil lembrar que cada um nasce
para viver sua própria vida.
E os professores?
Qual o professor que não cumpre sua missão de educar
mostrando qual seria a boa trilha a seguir pela vida?
Educar é influenciar, não tem jeito.
Mas educar é, ou deveria ser, acima de tudo, ensinar a
pensar, e o pensamento com qualidade conduz, ou deveria conduzir, a duas lições
que são as mais belas que um jovem pode aprender: a autonomia e o significado.
Ser autônomo significa fazer suas próprias escolhas e
assumir responsabilidade por elas.
Não quer dizer, cuidado, que se possa fazer o que se quer,
atender a seus desejos desconsiderando totalmente as expectativas dos outros,
do mundo.
Autonomia é razão lúcida, equilíbrio, e pressupõe
responsabilidade, maturidade, disposição para assumir seu destino.
A razão emancipada nega a tutelagem e a subordinação. A
razão esclarecida é a razão absoluta da autodeterminação.
E ter significado quer dizer estar conectado com uma
atividade que faça sentido, que nos dê a certeza de que estamos no caminho
certo, fazendo o que gostamos e que aquilo que fazemos torna o mundo melhor.
Mesmo sem saber, à medida que amadurecemos, buscamos, às
vezes desesperadamente, essas duas grandes conquistas: a autonomia e o
significado.
Autonomia para gerir sua própria vida e significado para
sentir prazer em viver.
Enquanto a autonomia garante minha liberdade de escolher, o
significado me dá a certeza de que estou vivendo a vida que eu quero viver.
Do meu
jeito.
Naturalmente, o jovem é levado a providenciar, em primeiro
lugar, a autonomia.
Pagar suas contas, garantir sua sobrevivência, não depender
mais de seus pais nem de ninguém.
E isso está certo, pois quem continua dependente jamais
caminhará com suas próprias pernas.
O problema é que às vezes, na pressa pela autonomia,
acabamos presos a um sistema que não nos faz felizes.
E é nessa armadilha que se encontra o grande inimigo do my way.
Conheci, recentemente, um jovem nem tão jovem assim,
beirando os 40, que desabafou comigo, dizendo:
"Eu queria ser
músico, mas virei contabilista.
Eu queria viajar pelo mundo, mas nunca saí da
cidade.
Eu queria ter meu próprio negócio, mas fui trabalhar em um banco".
Em primeiro lugar, é necessário dizer que não há nada de
errado em estudar contabilidade, morar sempre na mesma cidade e trabalhar em um
banco.
Mas tem que ser por escolha.
Conheço contabilistas felizes e músicos angustiados.
Funcionários serenos e empreendedores estressados.
Há de tudo. Em todos os caminhos.
O que fica claro, estampado no rosto, transbordante pelo
olhar, é a satisfação de estar fazendo o que se escolheu fazer.
Bem-vindo ao mundo real, em que o caminho é representado por
um dilema: sem autonomia não posso lutar por aquilo que tem significado para
mim, e sem trabalhar com significado dificilmente atingirei a verdadeira
autonomia. (...)
A história de um homem depende dele mesmo e depende também
do mundo.
Há os que creditam a construção de sua história apenas ao
mundo.
Estes são deterministas.
Há os que acreditam só em si mesmos. Estes são os
possibilistas.
E há os que confiam em seu discernimento para seguir a vida,
mas não desconsideram o efeito do mundo, do acaso.
Estes são os estrategistas.
Ser como se quer ser.
Ousar sonhar seu próprio sonho.
Ouvir os outros, mas depender apenas de si mesmo para tomar
as decisões.
Estas são as qualidades daqueles que dizem que vivem sua
própria vida, e não as dos outros.
Como diz Renato Teixeira em seu Tocando em Frente, que
compôs com Almir Sater:
"Cada um de
nós compõe a sua história, e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, e ser
feliz".
Ao meu amigo contabilista eu quero dizer que nós precisamos
que ele faça com que este mundo tenha o mínimo de organização.
Imagine este planeta só com artistas e poetas. Quem
colocaria ordem na casa?
Por favor, organize o mundo, aplique as leis, crie
estratégias de fluxo de caixa, faça as colunas de débitos e créditos fazerem as
pazes entre si.
Sem isso, o caos tomaria conta e a barbárie voltaria.
Seja um contabilista, mas seja o contabilista que você quer
ser.
Do seu jeito.
Aliás, quando se fala em artes e artistas, eu me pergunto:
quem é mais artista? Aquele que faz arte ou aquele que faz o que não é arte
parecer arte?
Cada vez mais aposto no segundo.
Trata-se da arte de quem desenvolve a capacidade de fazer de
seu jeito, por isso faz bem.
Com autonomia e com significado.
(Eugenio Mussak)
Fonte: Vida Simples
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