Quando uma aguda dor rompe a rotina, uma expansão de
consciência ocorre nos níveis concretos da vida.
Paira na atmosfera da civilização atual uma sensação de “fim
de caminho”: estamos diante de uma crise da percepção materialista do mundo.
Por todo lado, a rotina e o egoísmo são desmascarados.
A aceleração dos desafios provoca uma espécie de febre, e a
História mostra que o Carma com frequência precisa chegar a um “ponto de
ebulição”, antes de transcender suas velhas estruturas de hábitos e elevar-se,
provocando uma transmutação para melhor.
Os sintomas da febre da aceleração cármica são numerosos.
O foco de ações e reações percorre agora um estreito caminho
morro acima.
Ele avança perigosamente para um renascimento da ética cujo
preço poucos podem prever.
O destino é uma atmosfera mais pura e um horizonte
mais amplo.
A teosofia ensina que há uma relação direta entre o estado
da mente humana, o estado das instituições, e o estado do planeta.
E o fator decisivo é a qualidade da consciência.
O propósito
evolutivo das crises externas é fazer com que renasça a ligação interior com o
mundo divino.
Veja-se a propósito Gênesis, capítulo 18, versículos 20 a 33.
O
“Wen-tzu” taoista, o hinduísmo e as escrituras de outras religiões apontam na
mesma direção.
As Premissas Comuns
Desde uma nação até uma família, um grupo humano saudável
deve ter alguma forma de consenso na sua base.
Há um conjunto de valores e princípios aceitos por todos,
uma descrição de mundo compartilhada, uma filosofia inspiradora ou um propósito
coletivo.
Estes fatores produzem um sentido de comunhão.
Dão às pessoas uma base para o diálogo e a ajuda mútua.
Porém, os princípios e visões que mantêm o grupo unido devem permanecer abertos
a um exame e reexame honestos. Duas chaves para expandir o sentido de
comum-unidade são uma mente aberta e a franqueza em relação às questões
fundamentais.
O Destino Como Algo Que se Constrói
O futuro humano não depende da cotação do dólar.
O futuro humano depende de algo que não faz barulho: a
quantidade de respeito pela vida que cada cidadão alimenta em sua consciência.
O fator que bate o martelo é o nível de consciência ética na
média das pessoas ao redor do globo.
O grau de altruísmo da vida humana define em qualquer
momento a qualidade do carma coletivo.
As linhas da experiência acumulada, o Carma, não são
geograficamente uniformes.
O passado e o futuro de cada nação têm o seu próprio
caráter.
Possuem sua substância específica.
Por outro lado, as mais diferentes tradições dialogam entre
si o tempo todo, inclusive por osmose cultural, isto é, pelo mero convívio.
E uma só pessoa honesta pode fazer a diferença.
Cada cidadão sincero causa um impacto sobre a civilização
humana inteira.
Um pequeno grupo deles, agindo em sintonia, provoca um
impacto muito maior.
No Novo Testamento, Mateus, 7:7, diz:
“Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a
porta lhes será aberta. ”
Mas primeiro é preciso examinar o que você pedirá ou
buscará, e a que porta, exatamente, irá bater. Porque a meta deve ser nobre,
para que o resultado valha a pena.
Um determinado número de indivíduos bem informados,
espalhados pelo planeta e sem conhecer pessoalmente uns aos outros, pode causar
a regeneração.
Victor Hugo escreveu sobre a unidade do Oceano da vida:
“O indivisível não usa compartimentos. Não há tabique entre
uma onda e outra. As ilhas da Mancha sentem o empurrão do cabo da Boa
Esperança. (…) Nessa unidade abate-se o inumerável. (…) A corrente polar roça
na corrente tropical.”
Não há nada separado.
Todas as culturas – a chinesa, a
japonesa, a andina, a judaica e assim por diante – têm lições a ensinar e
aprender.
Nenhuma delas possui o direito de sonhar com a destruição das outras.
E não seria aceitável, como desculpa para justificar esta atitude histérica,
usar a letra morta de alguma escritura religiosa.
O diálogo implícito e explícito entre diferentes culturas e
ideologias deve ter boa qualidade.
Cabe desmascarar as tendências emocionais ao
fanatismo, ao medo, ao desprezo e à agressão (mesmo sutil) de quem pensa
diferente.
A autovigilância é fundamental.
Se um país, uma cidade ou associação esotérica suprime o
diálogo honesto, a hipocrisia logo começa a ser usada como ferramenta social e
arma política.
Os líderes destituídos de uma visão maior da vida são como
insetos que duram um dia.
Buscar grandes fortunas materiais corresponde a um estágio
primitivo do ser: há coisas melhores que isso.
Quando se pensa em construir um futuro saudável, um axioma
básico afirma:
“Propaganda não é educação. Estar informado dos fatos não é
o mesmo que ter consciência."
Opinião é diferente de conhecimento, e bom senso não se
compra no supermercado.
A Força de um Novo Ciclo
Há um momento na história de uma comunidade em que ela
compreende o seu dharma, percebe o seu dever e entra em sintonia com a essência
da felicidade.
Então o sentimento de um projeto comum – que é a evolução da
alma através do respeito pela vida – se torna visível na existência diária como
uma experiência compartilhada.
Esta é a primavera de um novo ciclo, quer ela ocorra num
pequeno grupo, numa cidade ou em escala planetária.
A verdade do coração envolve árvores, estrelas e pássaros.
Flui em silêncio, e cada indivíduo pode acordar e ser uma
fonte do seu renascimento.
A felicidade surge como decorrência do inegoísmo: a
sabedoria se transmite pelo exemplo.
(Carlos Cardoso Aveline)
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