Meu Deus, ouça as preces que lhe dirijo quando amanheço
revigorada e anoiteço tranquila.
Quando consigo manter uma relação mais gentil com as
lembranças difíceis que, às vezes, ainda me assombram.
Quando posso desfrutar do contentamento, mesmo sabendo que
existem problemas que aguardam que eu me entenda com eles.
Deus, ouça as preces que lhe dirijo quando estou mansidão e
ternura.
Quando estou contemplação e respeito.
Quando as palavras fluem, sem esforço algum, sem ensaio
algum, articuladas e belas, do lugar em mim, onde o Senhor e eu, nos
encontramos.
Quando nelas incluo as pessoas que têm nome e aquelas que
desconheço.
E os meus amores, os meus desafetos….
E os bichos, as plantas, os mares e as estrelas.
Senhor, ouça também as preces que lhe dirijo quando só
consigo chorar e, mesmo depois de já ter chorado muito, tenho a sensação de
ainda não ter chorado tudo.
Quando me sinto exaurida e me entrego a esse cansaço
completamente esquecida dos meus recursos.
Há momentos em que a gente parece ignorar tudo o que pode
nos ajudar a lidar melhor com os desafios.
Há momentos, ainda, em que a gente se confunde sobre o local
onde, de verdade, os desafios começam.
Mas eu desejo, profundamente, meu Deus, que também ouça as
preces que lhe dirijo quando eu não consigo elaborar prece alguma.
Quando a dor é tão grande que minha fala não passa de um
emaranhado de palavras confusas e desconexas que desenham um troço que nem eu
entendo.
Quando o medo me paralisa e perturba de tal forma, que eu me
encolho diante da vida feito um bicho acuado.
Quando me enredo nas minhas emoções com tanta confusão que
parece que aquele tempo não vai mais passar.
E finalmente meu Deus, ouça as preces que lhe dirijo quando não peço, nada além de forças para prosseguir, por acreditar, que assim fortalecida, eu tudo poderei Naquele que me fortalece.
(Ana Jácomo)
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