06 agosto 2018

Os ventos de agosto



Só quem vive bem os agostos é merecedor da primavera!

Lembro-me bem.

Foi quando julho se foi, que um vento mais gelado, mais destemperado, que arrastava ainda folhas deixadas pelo outono, me disse algumas verdades.

Convenceu-me de que o céu começaria a apresentar metamorfoses avermelhadas. 

Que a poeira levantada por ele daria lições de que as coisas nem sempre ficam no mesmo lugar e que é preciso aceitar que a poeira só assenta depois que os redemoinhos se vão.

Foi quando julho se foi que a minha solidão me convidou para uma conversa. 

E me contou do tempo de esperas.

E me disse que o barulho das árvores tinha algo a dizer sobre aceitação. 

E eu fiquei pensando como elas, as árvores, aceitam as estações que, se as estremecem, também lhes florescem os galhos. 

Mas tudo a seu tempo. 

Foi em agosto que descobri que os cachorros loucos são, na verdade, os uivos que não lançamos ao vento. São nossos estremecimentos particulares que a nossa rigidez de certezas não nos permite encarar.

O mês de agosto tem muito a ensinar.

Porque agosto é mês jardineiro, é dentro dele, berço do inverno, que as sementes dormem. 

Aguardam seu tempo de brotar. 

Agosto é guardador da boa-nova, preparador de flores. 

Agosto é quando Deus deixa a natureza traduzir visivelmente o tempo das mutações.

Mude, diz agosto, em seu recado de sementes. 

Aceite, diz agosto, com seu jeito frio de vento que levanta poeira e a faz avermelhar o céu. 

Compartilhe, diz agosto. Agasalhos, sopas quentinhas, cafés com chocolate, abraços mais apertados – eles também aquecem a alma e aninham o corpo. 

Distribua mais afetos, que inverno é acolhimento, é tempo de preparar setembro. E, de setembro, todos sabemos o que esperar. 

Esperamos a arrebentação das cores, que com seus mais variados nomes vêm em forma de flores.

Vamos apreciar agosto, recebê-lo com o espanto feliz de quem não desafia ventos. Que ele desarrume e espalhe suas folhas e levante suas poeiras.

Aceite as esperas, mas coloque floreiras na janela.

Só quem vive bem os agostos é merecedor da primavera!


(de Miryan Lucy Rezende)




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