Quando ainda era acadêmica ouvi de um professor algo que
nunca esqueci "quando tudo dói a dor não é física"...
Talvez eu não tenha dimensionado naquele instante a grandeza
desse diálogo.
Hoje geriatra, vivenciando diariamente a rotina dos meus
pacientes, vejo o quanto esse olhar me abriu para compreender cada um que chega
com dores por todo corpo; muitas vezes não sabendo nem por onde começar ou
sequer explicar como acontece.
Ouço com atenção às queixas de dores de cabeça, no estômago,
musculares, ósseas, palpitações, náuseas, coceiras...
Depois faço apenas uma pergunta "o que está realmente
acontecendo com você? "
Após um minuto de hesitação e até espanto, a maioria cai num
choro convulso e doloroso.
Deixo o choro libertador acontecer e então no lugar das
queixas álgicas ouço término de relações, perdas de pessoas queridas, problemas
financeiros, medos, angústias e ansiedades...
Novamente lembro-me da frase "quando tudo dói a dor não
é física"...
Não é! A dor é na alma...
Tudo que nos faz mal e guardamos, por um mecanismo de
defesa, vai sair de alguma forma... muitas vezes em forma de doença!
É nosso corpo físico gritando pelo resgate da nossa alma...
É nosso corpo nos confrontando com nosso eu...
É nosso corpo nos mostrando o que não vai bem...
É nosso corpo dizendo "olhe pra você "
Às vezes é difícil compreender e até acreditar nisso.
Normal! Estamos tão mentais, tão obcecados pela objetividade
que só mesmo adoecendo, doendo, machucando é que paramos para valorizar nossas
sensações e nos perceber...
Ninguém gosta de sentir dor, ninguém quer adoecer, todo
mundo teme se machucar...
Alertas! Quantos alertas nosso corpo precisa nos enviar para olharmos
para ele, de verdade!
Sejamos mais atentos, gentis e cuidadosos com nosso corpo...
Sejamos mais atentos, generosos e amorosos com nossa alma...
Toda dor é real...
Toda dor é tratável...
Todo corpo deve ser templo...
Toda alma deve ser leve...
Roberta França
Medicina Geriatrica
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