"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

11 agosto 2010

Confiem ao vento



"Confiem ao vento as cinzas dos que tentam em vão ressuscitar.

Espalhem pelo mundo esse pó e deixem-no voar por si só, ao colo das brisas que carreguem para o infinito esse sonho proscrito que apenas adormeceu.

Libertem a utopia e não lhe chorem o fim, pois dentro de mim a Primavera acontece a toda a hora numa redoma intocável junto à nascente inesgotável de fantasias e de ilusões onde as mortes são renovações e todos os ciclos se perpetuam. Nas vossas também.

E testemunhem em silêncio o bailado da poeira desenhado no céu e aceitem esta maneira peculiar de percorrer a vida com o olhar de quem acredita na reencarnação da mais bela emoção de qualquer existência, nada mais.

Tomem consciência da imortalidade garantida na ressaca da dor mais profunda que apenas marca uma nova etapa do amor que se reproduz, infindo. Que renasce para o mundo, inevitável, como a constante maravilha que surge a cada dia quando brilha no horizonte, de novo, um sol.

Assistam ao renascimento da luz nesse momento de simples transição, de constante renovação da esperança justificada. E não percam a confiança nesse amigo que nos sopra ao ouvido a certeza de que conhece bem a estrada a percorrer pelas cinzas que transporta para outra dimensão.
Nunca se despeçam dos dias que anoiteçam, sorriam-lhes apenas e sussurrem um “até já” e acolham as estrelas mais a lua refletida no vosso olhar agradecido.

A beleza para observar a todo o tempo que se tem e se ignora esquecido quando nos entregamos à ingratidão injustificada.

A vida que nos é dada como uma oferenda milagrosa, o desabrochar de uma rosa plantada por um deus ou outra entidade superior a quem foi confiada a missão de cuidar deste jardim suspenso.

E o amor é tão intenso que não consegue morrer mas apenas transitar, como a alma, para novos paradeiros nos instantes derradeiros de uma calma mudança, a eterna renascença do fogo fátuo embutido em cada um.

Eu não consigo abandonar esta vontade de amar sem freio algum.
Enquanto sopro em vão esta cinza teimosa na palma da minha mão."

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