"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"
(Teillard de Chardin)
11 fevereiro 2012
O Guarda-Chuva
Leontino não estava conseguindo.
Espírito desencarnado, assediava José Onofre, pretendendo vingar-se de passadas ofensas.
Localizara-o em nova jornada na carne e pretendia infernizar-lhe a existência, envolvendo o na obsessão.
No entanto, o antigo desafeto resistia às suas investidas,
conservando-se perfeitamente ajustado.
Resolveu apelar para um companheiro mais tarimbado. Procurou Quiríno, especialista em atazanar pessoas, usando de extrema sutileza em suas investidas, alguém que a tradição religiosa
definiria como um ser demoníaco.
Nada disso.
Era apenas um transviado filho de Deus que não se dera ainda ao trabalho de avaliar a semeadura de espinhos que vinha efetuando, os quais fatalmente colheria um dia, em penosos reajustes.
O experiente obsessor ouviu-lhe as frustrações e indagou:
-Identificou-lhe as fraquezas?
-Sim.
-E quais são?
-Certa tendência à tristeza, caráter introvertido; alguma preocupação com a saúde; eventuais crises de efetividade no lar; gosta de aperitivos e e não é insensível aos encantos femininos.
-Então, não conseguiu puxar esses fios para "enovelá-lo?
-Bem que tentei, mas sem resultado. Não tem tempo para render-se às próprias mazelas. Vinculado a um Centro Espírita, ocupa todas as suas horas livres em serviços diversos: visita doentes, atende necessitados, cuida de crianças, faz plantão no albergue, aplica passes magnéticos, participa de reuniões mediúnicas. O homem não pára! Simplesmente não sobra espaço em sua mente para infiltração de idéias obsessivas.
Quirino franziu o cenho.
-Quando nossas presas encasquetam a idéia de que devem ocupar o tempo ajudando o semelhante fica difícil. Buscou o ataque por vias indiretas?
-Sim, sim, segui fielmente nossos programas. Explorei as tendências neuróticas da esposa, criando-lhe embaraços no lar; provoquei problemas financeiros, complicando seus negócios; envolvi o filho com drogas; semeei desentendimentos no Centro Espírita; acentuei seus males físicos, mas o homem é uma rocha. Situa-se inabalável, confiando-se à proteção divina.
Leontino suspirou, completando:
-Simplesmente José Onofre recusa-se a uma reação negativa que me dê ensejo para atingi-lo. O que você me aconselha?
-Desista.
-Ora essa! É tudo que tem a dizer?
-Estou apenas sendo realista. O problema é que seu desafeto abriu o guarda-chuva protetor. Você pode fazer desabar sobre ele
tempestades existenciais violentas. Não logrará atingi-lo.
-E o que vem a ser essa proteção?
-A prática do bem aliada à confiança em Deus. É preciso esperar torcendo para que ele se decida a fechar o guarda-chuva.
* * *
Quem é José Onofre?
Um missionário? Um Espirito superior? Um santo?
Nada disso. É um homem comum, com suas fraquezas e imperfeições.
O que o distingue é o empenho em cumprir a orientação contida na questão n2 469, de "O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec pergunta: "Como podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos?”
E vem a orientação incisiva: "Praticando o bem e pondo em Deus a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e aniquilareis o império que desejam ter sobre vós.”
Simples, não?
Vamos abrir o nosso guarda-chuva?
(extraído de livro “Quem tem medo da Obsessão” - de Richard Simonetti)
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