A luz constitui um dos maiores mistérios do universo.
Somente entendendo-a ao mesmo tempo como partícula material e como onda energética podemos ter uma compreensão mais ou menos adequada dela.
Hoje sabemos que todos os seres vivos emitem luz, biofótons, a partir das células da DNA. Por isso todos irradiam certa aura.
Não é sem razão que a luz e o sol se tornaram símbolos poderosos de tudo o que é positivo e vital.
Especialmente o sol irradiante é visto como o grande arquétipo do herói e do lutador que vence as trevas com os monstros que nelas eventualmente se escondem.
Sua aparição a cada manhã não é uma repetição, mas toda vez uma novidade, pois é sempre diferente.
É um teatro cósmico, como se Deus dissesse ao sol a cada manhã:“Vamos, tente mais uma vez! Renove teu nascimento! Irradie tua luz em todas as direções e sobre todos”.
Na maioria dos povos havia o temor de que o sol talvez pudesse ser tragado pelas trevas e não voltasse mais a nascer e a iluminar a Terra e a cada um de nós.
Criaram-se rituais e festas que celebravam a vitória do Sol sobre as trevas.
Fazia-se e faz-se ainda hoje a impressionante experiência de que o Sol com seus raios de luz, nasce como uma criança.
Na medida em que sobe no firmamento, vai crescendo como um adolescente até chegar à idade adulta ao meio-dia. Pela tarde vai definhando até ficar velho e morrer atrás da linha do horizonte. Mas, passada a noite, ele volta a nascer, limpo, brilhante, sorridente como uma criança.
Como não celebrá-lo festivamente? Como não entendê-lo como sinal da Realidade originadora de todas as coisas?
De fato, ele é uma imagem poderosa de Deus como o cantou São Francisco em seu “Cântico ao Irmão Sol”.
Nenhuma metáfora da divindade é mais poderosa que a da luz e a do Sol.
A própria experiência da luz fez surgir a palavra Deus. Ela deriva de di em sânscrito que signfica brilhar e iluminar. De di veio “dia” e “Deus”, como expressão de uma experiência de luz e de iluminação.
Como diz São João: ”Deus é luz” (1Jo 1,5).
“Ele habita”, no dizer de São Paulo “numa luz inacessível”(1Tim 6,16).
Jesus se auto-apresenta como luz: “Eu, a luz, vim ao mundo para que todo aquele que crê não ande nas trevas”(Jo 12,46) O Verbo encarnado é “vida e luz dos homens”, “luz verdadeira que ilumina todo o ser humano que vem a este mundo”(Jo 1.4.9).
Por isso é com razão apresentado como “a luz do mundo”(Jo 9,5). Os que aderem a Cristo como luz devem viver “como filhos da luz”(Ef 5,8). E “os frutos da luz é tudo o que é bom, justo e verdadeiro”(Ef 5,9). Mais ainda. Cada seguidor deve ser também “luz do mundo”(Mt 5,14).
Como reza tão bem a liturgia dos funerais:"Que as almas do fiéis defuntos não tombem nas trevas, mas que o arcanjo São Miguel, as introduza na luz santa. Faça brilhar sobre eles a luz perpétua”.
Nós todos somos seres de luz.
Fomos formados originalmente no coração das grandes estrelas vermelhas, há bilhões de anos.
Carregamos luz dentro de nós, no corpo, no coração e na mente.
Especialmente a luz da mente nos permite compreender os processos da natureza e penetrar no íntimo das pessoas até no mistério luminoso de Deus.
(Leonardo Boff, teólogo)
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